Sem respostas do Governo, Frente Comum promete intensificar contestação social

Estrutura sindical da função pública desafia trabalhadores a participar na manifestação deste sábado, em Lisboa, convocada pela CGTP.

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Sebastião Santana, dirigente da Frente Comum, garante que "dificilmente se encontrou um serviço da administração pública a funcionar em pleno" nesta sexta-feira LUSA/ANTÓNIO PEDRO SANTOS

“Foi uma das maiores greves da administração pública dos últimos anos, pelo número de trabalhadores abrangidos e pela quantidade de serviços afectados.” É desta forma que Sebastião Santana, coordenador da Frente Comum, resume a greve desta sexta-feira, antecipando uma intensificação da contestação social que será visível já na manifestação convocada pela CGTP para este sábado, 18 de Março, em Lisboa.

Os funcionários públicos reclamam aumentos salariais imediatos, a revogação das quotas na avaliação de desempenho e a fixação de limites máximos dos preços de bens e serviços.

“Não havendo respostas por parte do Governo, o caminho será a intensificação da luta, e o próximo passo é já amanhã. Estamos a contar com milhares de trabalhadores da administração pública em Lisboa”, diz ao PÚBLICO, acrescentando que há um “descontentamento geral” que deixa os trabalhadores disponíveis para mais greves e manifestações.

A greve nacional dos funcionários públicos começou às 00h00 desta sexta-feira, com o início do turno da noite dos trabalhadores da saúde e da recolha de resíduos sólidos urbanos, que, em Lisboa, teve uma adesão de 100%.

Sebastião Santana evita a guerra de números e prefere dizer que, nesta sexta-feira, “dificilmente se encontrou um serviço da administração pública a funcionar em pleno”.

O dirigente sindical garante que a saúde foi o sector onde os efeitos da greve mais se sentiram, com os hospitais a funcionar em serviços mínimos, nomeadamente nos internamentos e nas urgências, consultas externas encerradas, cirurgias adiadas e Unidades de Saúde Familiar (USF) fechadas um pouco por todo o país.

O dirigente da Frente Comum, estrutura da CGTP que junta mais de três dezenas de sindicatos da administração pública, destaca ainda o impacto da greve em áreas em que normalmente “não tem grande adesão”, como as Finanças ou as alfândegas.

O dia ficou marcado pelo encerramento de alguns serviços da Segurança Social, por perturbações nas lojas do cidadão, que encerraram ou funcionaram com apenas um ou dois serviços abertos. E, em vários tribunais, nomeadamente em Sintra, Santarém e Portimão, foram cancelados julgamentos.

Serviços mínimos na educação com impacto na adesão

No sector da educação, a greve acabou por ter um impacto mais reduzido do que o esperado. Sebastião Santana relata que “trabalhadores docentes e não docentes foram coagidos a cumprir serviços mínimos”, quando estes apenas foram decretados para a greve do Sindicato de Todos os Profissionais de Educação (Stop), não abrangendo os pré-avisos da Frente Comum.

Falando aos jornalistas junto à Escola Básica Marquesa de Alorna, em Lisboa, Mário Nogueira, secretário-geral da Federação Nacional dos Professores (Fenprof), confirmou que houve pressão a professores para não aderirem à greve.

"Há muitas escolas onde de uma forma ilegal, de uma forma que acho que desde o 25 de Abril não se vê, até com ameaças de demissão de directores de escolas e ameaças de injustificação de faltas, o que num dia de greve não pode acontecer. Houve de tudo. Estamos a fazer o levantamento e podemos garantir uma coisa: esta culpa de quem criou um clima completamente pressionante e ilegal sobre professores e não docentes não vai morrer solteira", afirmou.

Manifestação junta sector público e privado

Neste sábado decorre em Lisboa a manifestação nacional convocada pela CGTP e que junta o sector público e o privado sob o lema “Aumento geral dos salários e pensões – emergência nacional”.

A marcha está marcada para as 15h00, com os trabalhadores da função pública a concentrarem-se nas Amoreiras e os do sector privado no Saldanha. O objectivo é ambas as marchas convergirem até ao Marquês de Pombal, desfilando pela Avenida da Liberdade até aos Restauradores.

A expectativa é que “milhares” de trabalhadores participem na manifestação que pretende pressionar os empregadores e o Governo a aumentar os salários em 10% e o salário mínimo para 850 euros, com retroactivos a Janeiro.

Entre os objectivos estão também as 35 horas semanais, a erradicação da precariedade e a regulação dos preços dos bens essenciais. Com Sónia Trigueirão

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