“Homem branco em vias de extinção na ciência”: ex-presidente da FCT gera indignação

Miguel Seabra, ex-presidente da FCT, escreveu num cartaz do Dia Internacional da Mulher que “o homem branco está em vias de extinção na ciência”. Caso vai ser analisado por comissão da sua faculdade.

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Miguel Seabra (numa foto de 2014) foi presidente da Fundação para a Ciência e a Tecnologia de 2012 a 2015 Nuno Ferreira Santos

A Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Nova de Lisboa criou uma comissão de avaliação para analisar o caso de Miguel Seabra que escreveu, no verso de um cartaz sobre o Dia Internacional da Mulher, que “o homem branco está em vias de extinção na ciência".

A polémica chegou à rede social Twitter, onde foi publicada na semana passada uma fotografia de uma declaração manuscrita atribuída a Miguel Seabra, que entre 2012 e 2015 foi presidente da Fundação da Ciência e a Tecnologia (FCT), tutelada pelo Ministério da Ciência.

“O homem branco está em vias de extinção na ciência! Miguel Seabra. Vamos comemorar o dia do survivor”​ – é o texto escrito no verso de um cartaz sobre um seminário no âmbito do Dia Internacional da Mulher, que estaria afixado nas instalações do Centro de Estudos de Doenças Crónicas (Cedoc), da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Nova de Lisboa (UNL), e do qual é investigador principal.

A agência Lusa tentou contactar Miguel Seabra, mas não obteve qualquer resposta até ao momento. No entanto, em declarações ao programa Polígrafo, da SIC, Miguel Seabra assumiu a autoria das frases, explicando tratar-se “apenas e só de uma brincadeira para consumo local”.

Na Fundação Champalimaud, onde Miguel Seabra é também investigador e responsável pelo programa de doutoramentos, circularam emails de indignação nos últimos dias entre os investigadores. Miguel Seabra enviou um email a toda a Fundação Champalimaud (em inglês), a 10 de Março (sexta-feira), a que o PÚBLICO teve acesso: Confirmo a autoria do texto que assinei e assumo inteira responsabilidade pelo seu conteúdo. Clarifico que foi apenas uma brincadeira para consumo interno na Nova Medical School (NMS), no verso de um poster de um seminário (...), que infelizmente tomou proporções que nunca tiveram essa intenção. O facto de ter assinado a nota só confirma a minha intenção como brincadeira, porque a comunidade que me conhece bem na NMS iria imediatamente compreender isto como uma brincadeira e apenas como brincadeira.”​

A agência Lusa questionou a Faculdade de Ciências Médicas da UNL, que afirmou: “Perante o episódio protagonizado pelo professor Miguel Seabra, que já apresentou um pedido formal de desculpa a toda a comunidade da NMS, a Nova Medical School, como é boa prática, criou uma comissão de avaliação, à qual caberá tratar o processo com total transparência e isenção. A direcção da NMS adoptará as medidas adequadas sob o parecer desta comissão.”

O gabinete de comunicação acrescentou ainda: “A Nova Medical School lamenta e condena qualquer comportamento que atente contra os valores da igualdade, equidade, tolerância e respeito, pelos quais a faculdade se rege.”

O ex-presidente da FCT garantiu estar a brincar e que a declaração não representa o seu pensamento. Quem me conhece como colega e amigo sabe que só podia estar a brincar”, afirmou.

“Importa esclarecer que as palavras que escrevi em nada representam o meu pensamento, os meus valores, as minhas acções ao longo de mais de 30 anos como investigador e os ideais que defendo. O objectivo não foi, nunca, colocar em causa o bom nome da Nova Medical School nem dos excelentes profissionais que nela colaboram e que contribuem para a excelência da instituição. Em nenhum momento pretendi envolver a Nova Medical School nesta situação, pelo que, publicamente, peço desculpa à faculdade na pessoa da professora Helena Canhão, lamentando, desde já, qualquer transtorno causado”, disse ainda em resposta ao Polígrafo.

Pedido de demissão

No email que enviou à comunidade da Fundação Champalimaud, Miguel Seabra pede desculpa dizendo ainda: “Tenho um passado imaculado que pode ser facilmente verificado com as pessoas velhas e novas com quem trabalhei ao longo dos anos em diferentes países. Nunca pretendi ofender ninguém nem causar, em particular, danos reputacionais nas instituições a que estou afiliado, a NMS e a Fundação Champalimaud, por isso peço desculpa de forma incondicional a todos.”

Horas mais tarde, Miguel Seabra volta a enviar um email a todos na Fundação Champalimaud, e a que o PUBLICO teve também acesso, em que dava conta de ter apresentado a demissão das funções de coordenador do programas de doutoramentos: “Depois de ter lido as vossas mensagens e a extensão da reacção a este incidente, apresentei a minha demissão de responsável de Estudos Avançados da Champalimaud ao conselho de administração.”

Contactada a assessoria de imprensa da Fundação Champalimaud, a fundação não vai comentar o caso.

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