Palcos da semana: da casa de Ana Moura à máquina de Kafka
A festa dos 75 anos do Hot Clube, a força animada da Monstra e As Bruxas de Salém por Nuno Cardoso são outros destaques dos próximos dias.
Bem-vinda a Casa Guilhermina
Não é que o fado fique à porta. É como se morasse ao lado, qual vizinho omnipresente mas envolvido e desperto para a nova vida de Ana Moura a que Casa Guilhermina abre as portas. Habitado por convivas como Pedro da Linha, Pedro Mafama ou Conan Osíris, mistura tradições com explorações e traça o fado com linhas urbanas, ritmos africanos, sabores tropicais e o mais que vier a este novo rumo sem amarras.
O disco, lançado em Novembro do ano passado, motiva dois concertos especiais no Porto e em Lisboa, depois de já ter provocado uma enchente no último Super Bock em Stock, quando foi apresentado pela primeira vez, e de ter levado Stromae a convocar a cantora para o acompanhar em digressão.
Máquina de (in)justiça
Dizer que a justiça tem caminhos tortuosos é um eufemismo para o que se passa Na Colónia Penal de Franz Kafka, uma história bizarra e perturbadora em que uma máquina de tortura e execução grava (ou trincha) as sentenças nos corpos dos condenados.
Em 2000, Philip Glass compôs uma ópera de câmara a partir desse conto, com libreto de Rudolph Wurlitzer. Agora, um trio português pega nela para apresentar a sua própria versão: Miguel Loureiro na encenação, Martim Sousa Tavares na direcção musical e Miguel Pereira na coreografia.
Cabe ao barítono André Henriques, ao tenor Frederico Projecto e aos performers João Gaspar e Paulo Quedas interpretarem as personagens: o oficial, o visitante, o prisioneiro e o guarda. Junta-se-lhes um quinteto de cordas para convocar a obra de Kafka, o “mestre da estética distópica”, na descrição de Tavares.
Caça às bruxas
Nuno Cardoso, que já tinha abordado o Ensaio sobre a Cegueira de Saramago, encena agora outro manifesto sobre multidões e paranóia: As Bruxas de Salém, de Arthur Miller, inspirado na história real da comunidade norte-americana que, em fins do século XVII, ficou conhecida e marcada pelos julgamentos de pessoas acusadas de bruxaria.
Miller escreveu-a em 1953, época de outra “caça às bruxas”: as perseguições anticomunistas do macartismo, de que o próprio dramaturgo foi alvo. Joana Carvalho, Jorge Mota, Lisa Reis, Patrícia Queirós, Paulo Freixinho, Pedro Frias, Ana Brandão, Carolina Amaral, Mário Santos, Nuno Nunes e Sérgio Sá Cunha compõem o elenco.
Animação em força
Num ano forte para o cinema de animação português – falta pouco para sabermos se Ice Merchants ganha o Óscar – e simbolicamente importante pelo centenário do primeiro filme luso do género – O Pesadelo do António Maria, de Joaquim Guerreiro – não faltam à Monstra razões para evidenciar, sob o tema Animação e Cultura, “a inquietação assente na história da animação em Portugal, através de estéticas e olhares variados”, anuncia o comunicado.
A 22.ª edição do festival traz 423 filmes de perto de 50 países, com “a maior representação portuguesa de sempre em competição” e com o Japão a projectar-se, como país homenageado, em cerca de uma centena de obras. Na extensão do programa cabem também convidados, exposições, masterclasses e a Monstrinha para crianças.
Hot Clube em festa
Uns históricos 75 anos fazem dele um dos clubes de jazz mais antigos da Europa. É esse número, contado a partir do momento em que Luiz Villas-Boas se fez sócio número um, que o Hot Clube comemora no próximo fim-de-semana.
O Teatro da Comuna e o Fórum Lisboa emprestam-lhe o palco – já que o edifício da Praça da Alegria se encontra encerrado – para fazer da festa um festival em que alinham, entre outros, o Lokomotiv de Barretto, Delgado e Salgueiro, o Mingus Project de Nelson Cascais, o trio de Filipe Melo, formações da casa e muitos convidados.