Indígenas do Sul do Peru ameaçam com “guerra civil”

Milhares de manifestantes da comunidade aimará, que exigem a demissão da Presidente Dina Boluarte e novas eleições, dizem que o Governo quer humilhá-los mandando mais efectivos do Exército.

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Milhares de indígenas contam marchar até Lima, a capital do Peru, ainda esta semana Paolo Aguilar/EPA

Milhares de pessoas da comunidade indígena aimará continuavam, esta terça-feira, a protestar na região de Puno, no Sul do Peru, exigindo a demissão da Presidente, Dina Boluarte, e a marcação de eleições antecipadas, depois da destituição do ex-Presidente Pedro Castillo e a sua detenção. E avisam o poder central que se continua a enviar militares para tentar controlar os protestos acabará por desencadear “uma guerra civil”.

“Não nos vamos cansar. Para nós, a greve continua. Para nós, não há diálogo. A única coisa que queremos é que Dina Boluarte se demita”, disse David Yujra, porta-voz da sociedade civil da província de Puno. “Apesar de terem matado 21 dos nossos compatriotas, agora querem humilhar-nos ainda mais enviando militares”, acrescentou, em declarações ao jornal La Republica.

“Cada vez nos provocam mais. Continuaremos, aconteça o que acontecer”, garantiu Yujra.

A greve indefinida em Puno, que começou a 4 de Janeiro, um mês depois da detenção de Castillo, por tentar fechar o Congresso e governar por decreto, acerca-se dos 50 dias e está previsto que, ainda esta semana, dezenas de milhares de pessoas das 13 províncias do país se juntem para marchar juntas até à capital, Lima.

Na capital homónima da província de Puno, no altiplano andino, juntaram-se na segunda-feira cerca de 20 mil aimarás para dar um novo fôlego aos protestos.

Desde a detenção de Castillo, no princípio de Dezembro, que os protestos se generalizaram um pouco por todo o país, levando as autoridades a reprimir os manifestantes de forma violenta, deixando um balanço de quase 60 mortos. Várias organizações não-governamentais, como a Amnistia Internacional, denunciaram violações de direitos humanos cometidos por polícias e militares.

Castillo, político inexperiente que ganhou notoriedade com a sua liderança de uma greve dos professores em 2017, enfrentou a hostilidade do Congresso, dos meios empresariais e de alguma imprensa desde que assumiu o poder no final de Julho de 2021. Enfrentou dois processos de destituição no Parlamento, antes de tentar evitar o terceiro com um autogolpe que acabou por levar à sua destituição e consequente prisão.

Na sexta-feira, o Congresso aprovou uma acusação constitucional por corrupção contra o ex-Presidente, que permitirá mantê-lo detido mesmo se a acusação de rebelião não for aceite.

Dina Boluarte, a vice-presidente de Castillo que aceitou herdar o cargo depois da destituição do chefe de Estado, tem sido contestada nas ruas desde o primeiro momento e, apesar de pedir ao Congresso para antecipar as eleições para o segundo semestre deste ano (os congressistas recusaram), recusa-se a deixar o cargo, alegando que em nada resolveria a crise.

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