Estudo conclui que rins saudáveis travam a anemia na malária

Investigação sobre a malária foi desenvolvida pelo Instituto Gulbenkian de Ciência em colaboração com várias instutuições estrangeiras.

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Mosquito anoféles, que transmite a malária Jim Gathany/USCDCP

Um estudo que envolveu investigadores do Instituto Gulbenkian de Ciência (IGC) concluiu que em casos de malária os rins saudáveis, ao reabsorverem e reciclarem ferro da urina, travam a anemia, uma das complicações mais letais da doença.

Numa experiência com ratinhos com malária, os cientistas do IGC descobriram, segundo comunicado do instituto, que determinadas células renais –​ no caso as células epiteliais do túbulo proximal – passam, por alteração da sua programação genética, a ser capazes de absorver e armazenar o ferro (composto químico) e posteriormente devolvê-lo à circulação sanguínea, permitindo que novos glóbulos vermelhos se formem.

A malária é uma doença infecciosa causada pelo parasita do género Plasmodium que se transmite pela picada de um mosquito fêmea do género Anopheles. Nos casos mais graves, em resultado de complicações simultâneas como a insuficiência renal aguda e a anemia grave, a doença pode levar à morte.

Quando o parasita entra na corrente sanguínea e destrói os glóbulos vermelhos, que dependem do ferro para transportar oxigénio a todas as partes do corpo, o doente fica anémico, mais debilitado e em maior risco de morrer.

A equipa do IGC liderada pelo investigador Miguel Soares, que coordena o Laboratório de Inflamação, concluiu que os rins saudáveis, "ao restabelecerem o circuito do ferro e o número de glóbulos vermelhos, colocam um travão na anemia, garantindo que os diferentes órgãos recebem oxigénio e continuam a funcionar quando o hospedeiro é infectado" com o parasita da malária.

Ratinhos que foram geneticamente modificados e ficaram sem a proteína ferroportina, que permite às células renais canalizarem o ferro para o resto do organismo, desenvolveram anemia grave e morreram.

Para Miguel Soares, citado no comunicado do IGC, a descoberta feita "é uma clara demonstração de como o metabolismo de um hospedeiro infectado pode ser modificado para determinar o desfecho de uma doença infecciosa, neste caso a malária".

Os resultados obtidos, e publicados na edição digital da revista da especialidade Cell Reports, abrem a via, de acordo com o IGC, para o prognóstico com mais segurança de doentes com malária e para tratamentos dirigidos.

O estudo do IGC teve a colaboração de instituições científicas estrangeiras, incluindo o Instituto de Ciências de Saúde de Angola, país onde a malária é endémica, e baseou-se em dados clínicos de 400 doentes internados no hospital angolano Josina Machel-Maria Pia, em Luanda.

O trabalho revela que doentes com malária "podem tornar-se mais susceptíveis à insuficiência renal aguda e à anemia se as células renais não conseguem exportar o ferro que absorvem".

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