Aprendizagem da Leitura: Sinais de alerta

As crianças que no início da aprendizagem apresentam algumas lacunas tendem a ter dificuldades cada vez maiores com o passar do tempo.

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O professor deve estar atento a possíveis dificuldades que possam surgir Adriano Miranda/Arquivo

Cada vez mais, a investigação tem comprovado que é crucial preparar e garantir uma boa entrada na aprendizagem da leitura. Ao longo dos anos, o que se constata é que ocorre um efeito “bola de neve” na gravidade das dificuldades de leitura, ou seja, as crianças que no início da aprendizagem apresentam algumas lacunas tendem a ter dificuldades cada vez maiores com o passar do tempo.

As dificuldades na aprendizagem da leitura devem ser despistadas o mais precocemente possível. É sabido que o despiste e intervenção precoces — antes e durante o 1.º ano de escolaridade — mesmo que pareçam ter à primeira vista um custo elevado, são mais do que justificados, na prevenção de potenciais efeitos nefastos na vida das crianças. “Esperar para ver” leva, sem dúvida, à perda de um tempo precioso para prevenir o agravamento das dificuldades de leitura que, em muitos casos, poderiam ter sido esbatidas se tivessem sido alvo de uma intervenção atempada.

Embora o diagnóstico, por norma, seja realizado após o início da escolaridade, é possível detetar fragilidades no período pré-escolar. Uma intervenção precoce permite que a criança ultrapasse, mais facilmente, os seus obstáculos.

Na primeira infância, é preciso estarmos atentos a alguns sinais de alerta, tais como: o atraso na aquisição da linguagem oral, dificuldade em pronunciar palavras corretamente, eventuais trocas ou omissões na produção dos sons da fala (aos cinco anos a criança deve pronunciar as palavras corretamente).

Não conseguir memorizar canções, rimas, lengalengas e histórias pode ser, igualmente, um indício de dificuldades na aprendizagem. Outra das lacunas que as crianças podem apresentar nesta fase passa por não conseguir compreender a estruturação das frases, ou seja, que as frases são formadas por palavras e que as palavras podem-se dividir em sílabas.

No 1.º ciclo do ensino básico é fundamental que estejamos atentos a alguns sinais de alerta, tais como: dificuldades em identificar letras e sons, não conseguir fazer a associação entre a letra e o respetivo som, fazer uma leitura muito silabada, apresentar alterações na entoação da leitura (por vezes monocórdica) sem expressão, não respeitar os sinais de pontuação ou realizar uma leitura global das palavras por adivinhação.

As crianças que não compreendem um enunciado lido, que não conseguem recontar ou responder a perguntas de interpretação oral poderão apresentar dificuldades na aprendizagem da leitura. Quando uma criança não consegue compreender o que lê, frequentemente, se recusa a ler ou insiste em adiar as tarefas de leitura.

Atenção que a discriminação auditiva dos sons da fala também pode afetar a aprendizagem da leitura, por isso quando se desconfia de um problema auditivo é necessário fazer uma avaliação médica.

O professor deve estar atento a possíveis dificuldades que possam surgir. Tentar compreender que tipo de dificuldade a criança apresenta e fazer um rastreio atempado garantindo um acompanhamento precoce.

Se uma criança apresentar uma perturbação específica da linguagem, como por exemplo uma perturbação fonológica ou uma perturbação de aprendizagem da leitura deve ser encaminhada para uma avaliação por parte do terapeuta da fala. Se uma criança revela dificuldades a nível da perceção visual deve ser solicitada uma avaliação por parte de um Terapeuta Ocupacional. Se esta dificuldade de aprendizagem da leitura se prender com competências emocionais e/ou comportamentais deve ser aconselhado um acompanhamento por um psicólogo.

O trabalho em equipa é, sem dúvida, fundamental na intervenção e na adequação de estratégias eficazes para que a criança ultrapasse as dificuldades apresentadas na leitura, uma vez que cada é especial e tem especificidades que a caraterizam. É a articulação entre os diferentes intervenientes que vai permitir escolher as estratégias mais adequadas para cada criança de acordo com as necessidades individuais.


A autora escreve segundo o Acordo Ortográfico de 1990

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