E quando os adolescentes já não querem ficar com a família na passagem de ano?

As psicólogas Bárbara Ramos Dias e Sofia Andrade pedem aos pais que respeitem a decisão dos adolescentes, mas impondo regras e limites, através de uma conversa transparente.

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Bárbara Ramos Dias lembra que é normal os adolescentes identificarem-se mais com os amigos Paulo Pimenta/Arquivo

Entrar no ano novo sentado à mesa com a família não é o plano que todos imaginam para o réveillon. O tema, por vezes, pode mesmo gerar conflitos e discórdias. Os adolescentes querem celebrar a entrada em 2023 na companhia dos amigos e os pais não estão prontos para os deixar ir nesta data importante. É preciso encontrar um equilíbrio e conversar com fraqueza sobre o tema, pedem as psicólogas. Só assim se evitam mentiras e incidentes.

É natural que, a partir dos 15 ou 16 anos, os adolescentes queiram passar algumas datas importantes com os amigos, começa por lembrar ao PÚBLICO a psicóloga Bárbara Ramos Dias, que relata ter-lhe acontecido o mesmo este ano enquanto mãe. “É a altura em que se identificam mais com os pares do que com os pais. Acham que que somos uma grande seca. E se formos a pensar como era connosco… É importante respeitarmos”, analisa a autora de Guia de cabeceira para pais desesperados.

A psicóloga clínica Sofia Andrade concorda que é normal que os filhos vão desenvolvendo interesses distintos dos pais, apesar de haver excepções e quem continue a preferir ficar com a família na passagem de ano. “Tem a ver com as tradições familiares”, observa, citando, como exemplo, o seu caso em que a festa se torna divertida porque se trata de uma família numerosa. “Mas há famílias menos numerosas e os adolescentes querem encontrar outros estímulos.”

Ainda que possa ser difícil lidar com esta separação, comparada por Sofia Andrade a uma preparação para a síndrome do ninho vazio (quando os filhos saem de casa), a especialista lembra que a decisão de deixar um adolescente sair na passagem de ano deve ser tomada numa gestão de expectativas, privilegiando a confiança. Bárbara Ramos Dias concorda: “Os pais devem autorizar porque o fruto proibido é o mais apetecido.”

Como tal, propõe a psicóloga de crianças e adolescentes que se diz “a favor da verdade e da educação com liberdade e responsabilidade”, é importante pôr tudo em pratos limpos: “Mais vale fazer as coisas de forma conscientes, que nos digam a verdade, irmos levá-los ou buscá-los, explicar os perigos.”

Se os pais falarem abertamente sobre os seus medos e receios, ─ “tenho medo que bebas” ou “não tenho medo de ti, mas dos outros” ─ os filhos farão o mesmo. “Temos de falar e explicar de forma clara e transparente. Lembrarmo-nos que os filhos são o nosso espelho. Se gritarmos, eles gritam. Se dizemos a verdade, eles dizem a verdade”, compara Bárbara Ramos Dias.

Sofia Andrade lembra que o foco da conversa deve estar nos alertas e nos perigos que os adolescentes muitas vezes não conhecem. Só assim se podem evitar “situações embaraçosas” e garantir a segurança. E acrescenta: “Precisam de saber que os pais estão a confiar neles e devem ser dignos dessa confiança.” Para quem tem mais receios de dizer que sim, a psicóloga recomenda que vejam em família o filme Dia do Sim.

Dizer que sim não tem de implicar uma carta-branca, pode (e deve) envolver limites e negociação, para chegar a um equilíbrio, defendem as duas especialistas. “Tem de estar tudo bem definido. Estipular limites de horário, decidir quem vai buscar, por exemplo”, explica Sofia Andrade. Se ajudar, fale com os pais dos amigos que estarão com o seu filho na passagem de ano.

E se fizerem questão que os miúdos jantem em casa no último dia do ano, tente negociar que fiquem para a refeição e depois leve-os à festa com os amigos.

Com os pais separados, a situação pode tornar-se mais complicada, reconhecem as psicólogas. Antes de decidirem o que quer que seja sobre a passagem de ano dos filhos (ou sobre qualquer tema, na verdade), pai e mãe devem conversar de antemão para chegarem a um consenso. “Se os pais estiverem de acordo e na mesma linha, não há jogos”, garante Bárbara Ramos Dias.

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Adolescentes na passagem de ano em 2020 no Porto Paulo Pimenta/Arquivo

E quando são os adultos?

Além dos adolescentes, por vezes são os adultos a não chegar a um consenso sobre os planos para os festejos de despedida do ano. “É a última noite ano e há a expectativa que seja um prenúncio de que algo vai correr bem. Há muitas superstições à volta desta noite”, lembra Sofia Andrade.

Os planos devem ser adaptados às características individuais e gostos de cada membro da família, mesmo que isso implique fazer algumas cedências. “Importa fazer uma gestão de expectativas para evitar entrar numa gestão de stress”, avisa a psicóloga. Por exemplo, para alguns, o réveillon ideal é uma viagem e “o valor de viajar prevalece a uma noite de glamour, preferem a ideia de conhecer um sítio novo”.

Já outros podem preferir ficar num hotel e usar um vestido de noite para terminar o ano em luxo. E, claro, há quem queira ficar em casa a saborear um repasto caseiro. A família pode dividir-se de acordo com as preferências ou, idealmente, vão alternando entre os vários planos predilectos para entrar no ano novo com o pé direito.

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