A nave de serviço na estação espacial tem um furo: é preocupante?

A nave Soiuz MS-22 voou para o espaço em Setembro, com três astronautas, e tinha regresso marcado para Março do próximo ano. Neste momento, ainda não se sabe se conseguirá fazer a viagem de volta.

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O braço robótico europeu inspeccionou a nave Soiuz MS-22 após a detecção da fuga NASA TV

As imagens seriam fantásticas se não fossem de uma fuga na refrigeração da nave Soiuz MS-22, que está acoplada à Estação Espacial Internacional (ISS, na sigla em inglês) e é o veículo de emergência para os astronautas que vivem no espaço. Para já, este problema não faz soar os alarmes, apesar de algumas reticências. A agência espacial russa (Roscosmos), responsável por esta nave, só tomará uma decisão sobre os próximos procedimentos na próxima semana, a 27 de Dezembro.

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As partículas brancas (líquido de refrigeração) resultam de um furo com menos de um milímetro DR

Ponto prévio: não há, de momento, qualquer perigo para os sete astronautas a bordo da ISS. Há uma semana, na última quarta-feira, aquelas partículas brancas (que depois se percebeu ser o líquido da refrigeração) saíram da Soiuz durante horas. Para essa hora estava previsto um passeio espacial dos dois astronautas russos que chegaram à ISS em Setembro, precisamente nesta cápsula.

O que motivou este festival de partículas foi um furo minúsculo – 0,8 milímetros –, porém o suficiente para que todo o líquido fosse despejado pelo espaço. A origem do problema foi descoberta com a utilização do braço robótico europeu Canadarm2 presente também na ISS e que permitiu visualizar o dano existente, bem como com a participação de equipas da NASA na análise dos danos provocados – e uma prova de que a colaboração entre Rússia, Europa e Estados Unidos continua a existir. Recorde-se que a Rússia já afirmou (e reforçou) as intenções de abandonar a estação espacial até 2024, em retaliação pelas sanções aplicadas face à invasão da Ucrânia pelos russos.

Regressando ao espaço, a hipótese avançada até ao momento é que este furo possa ter sido provocado por pequenos destroços que embateram na cápsula ou por um micrometeorito. Não é a primeira vez que estes embates causam fendas milimétricas: ainda em 2018, os astronautas repararam uma cápsula russa com um dano semelhante (mas noutra zona).

Um outro passeio espacial, de dois astronautas norte-americanos, estava previsto para esta quarta-feira, mas também foi cancelado. Desta vez, devido à possível passagem de destroços junto à ISS, que motivou uma manobra para distanciar a estação da rota dos destroços de um dos satélites russos que a Roscomos destruiu no espaço. E já em Novembro um outro passeio espacial de astronautas norte-americanos foi adiado devido a destroços, provenientes do mesmo satélite.

Regresso da Soiuz está em causa

Mais adiamento, menos adiamento, o problema que mais preocupa é, ainda assim, a fuga na Soiuz – que não está resolvida. A questão mais relevante é perceber se a Soiuz MS-22 consegue regressar em segurança a Terra, já que em caso de emergência esta é a boleia para três dos astronautas que estão na ISS.

Caso não esteja em condições, a solução é enviar o próximo veículo Soiuz (o MS-23). Mas mesmo essa é uma questão delicada. Não há certezas de quando a Roscosmos estará pronta para lançar essa cápsula e acelerar o processo não costuma ser uma boa opção.

O circuito externo de refrigeração da Soiuz MS-22 não está operacional. Algo como estarmos num carro com os vidros fechados e sem ar condicionado – e no espaço isso pode ser bastante prejudicial para os astronautas. Além disso, os computadores de voo, instalados nesta nave espacial, também se tornam mais difíceis de arrefecer.

A tripulação da Soiuz MS-22 levou os russos Sergei Prokopyev e Dmitri Petelin e o norte-americano Frank Rubion para a ISS em Setembro deste ano. A viagem de regresso estava agendada para o Março do próximo ano, antes desta fuga – que já atrasou dois passeios espaciais e pode também redefinir o calendário destes astronautas.

A Soiuz é uma cápsula bastante resistente, por forma a ultrapassar diversos tipos de erros ou falhas. Caso a cápsula não tenha problemas impeditivos, os astronautas deverão regressar nela, uma vez que enviar a Soiuz MS-23 implica custos adicionais e uma recalendarização dos próximos voos.

Ainda assim, tanto a NASA como a Roscosmos têm fornecido pouca informação sobre este assunto. Esta quarta-feira, a NASA dará uma conferência de imprensa sobre a situação da Soiuz MS-22, mas apenas a 27 de Dezembro deveremos saber se são necessárias reparações (ou uma nova nave).

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