Membro da família real abandona funções após comentários racistas

A imprensa britânica diz ter sido lady Susan Hussey, madrinha de William, a autora do embaraço. A mulher, de 83 anos, queria saber “de que parte de África” era uma mulher negra.

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Ngozi Fulan trabalha para o Espaço Sistah, um grupo que presta apoio a mulheres de herança africana e caribenha que foram vítimas de abusos DR

Ngozi Fulani, directora da instituição de solidariedade social Sistah Space, no leste de Londres, nasceu em Inglaterra, filha de país caribenhos que emigraram para Londres. E a cor da sua pele nunca passou despercebida (“éramos a única família negra na nossa rua”, recordou numa entrevista ao projecto Future Hackney), mas foi apanhada de surpresa quando, na terça-feira, num evento organizado pela rainha-consorte, Camila, uma das mulheres presentes insistiu em perguntar-lhe: “De que parte de África é?”

No Twitter, a mulher, que trabalha para um grupo de apoio a abuso doméstico, descreveu o incidente que o Palácio de Buckingham se apressou a condenar. Quem teceu os comentários “inaceitáveis e profundamente lamentáveis” sobre raça e nacionalidade foi entretanto destituído das funções reais, informou a casa real.

“Encaramos este incidente como sendo extremamente sério e investigámos imediatamente para apurar os pormenores. Neste caso, foram feitos comentários inaceitáveis e profundamente lamentáveis”, disse um porta-voz do Palácio de Buckingham, numa declaração, citada pela Reuters.

O porta-voz disse que a pessoa em causa, identificada por Fulani como lady SH, queria pedir desculpa pela mágoa causada e tinha-se afastado do seu papel honorário com efeito imediato.

Nem Fulani nem o Palácio identificaram a assistente, mas os meios de comunicação britânicos dizem tratar-se de lady Susan Hussey, de 83 anos, madrinha de William, o príncipe herdeiro do rei Carlos, e dama de companhia de Isabel II e foi a única a acompanhá-la no funeral do príncipe Filipe.

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Lady Susan Hussey foi confidente da rainha Isabel II DR

O porta-voz de William disse que o príncipe ficou realmente desapontado ao saber do incidente. “Obviamente, não estava lá, mas o racismo não tem lugar na nossa sociedade”, disse o porta-voz. “Os comentários foram inaceitáveis, e é correcto que o indivíduo se tenha afastado com efeito imediato.”

Acusações recorrentes

O incidente é o último a envolver a família real britânica em acusações de racismo. De recordar quando Harry e Meghan deram a famosa entrevista, em Março de 2021, a Oprah Winfrey e a duquesa de Sussex mencionou um membro da família que terá perguntado, antes do primeiro filho do casal nascer, quão escura poderia ser a sua pele.

A alegação atacou claramente a casa real, que prometeu que quaisquer questões deste tipo seriam tratadas muito seriamente, e levou William, o irmão mais velho de Harry, a comentar dias mais tarde: “Não somos racistas.

A troca de palavras com Ngozi ​Fulani ocorreu durante um evento sobre a violência contra mulheres e meninas, que aconteceu no palácio, onde entre os convidados estavam a primeira-dama da Ucrânia Olena Zelenska, a rainha Mathilde da Bélgica e a rainha Rania da Jordânia.

Na sua conta no Twitter, Ngozi Fulani, que trabalha para o Espaço Sistah, um grupo que presta apoio a mulheres de herança africana e caribenha que foram vítimas de abusos, disse que cerca de dez minutos após a sua chegada, a senhora aproximou-se dela e mexeu-lhe no cabelo para ver o crachá com o seu nome.

Depois de lhe ter perguntado várias vezes de que parte de África era, Ngozi Fulani respondeu: “Eu nasci aqui e sou britânica.” Ao que lady SH insistiu: “Não, mas de onde é que realmente vem, de onde vem o seu povo?”

No ano passado, uma fonte real sénior disse que o Palácio de Buckingham não tinha feito o suficiente em matéria de diversidade, embora se tenha esforçado por aumentar o número de funcionários de minorias étnicas.

“Contactámos Ngozi Fulani sobre este assunto, e estamos a convidá-la a esclarecer pessoalmente todos os elementos da sua experiência, se assim o desejar”, disse o porta-voz do palácio. “Todos os membros da Casa Real estão a ser recordados das políticas de diversidade e inclusão que são obrigados a manter a todo o momento.”

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