Apresentador da BBC despedido por tweet “racista” sobre bebé real

“O bebé real sai do hospital”, lia-se no tweet originalmente publicado por Danny Baker na quarta-feira, com a imagem de um chimpanzé ao lado de um casal.

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Twitter, @prodnose

O apresentador da BBC Danny Baker foi despedido depois de ter partilhado um tweet sobre o bebé da família real, em que aparecia a imagem de um chimpanzé, acompanhado de um casal. Baker anunciou a sua saída na mesma rede social na manhã desta quinta-feira.

“O bebé real sai do hospital”, lia-se no tweet originalmente publicado na quarta-feira — no dia em que Harry e Meghan apresentaram ao mundo o seu primeiro filho, Archie Harrison Mountbatten-Windsor, que nasceu na segunda-feira. Baker apagou o tweet pouco depois, pedindo desculpa se a fotografia pudesse ter irritado algumas pessoas e dando a entender que não lhe tinham ocorrido possíveis conotações racistas, como várias pessoas indicavam. Chamou ainda à chamada telefónica que a BBC fez para o despedir uma “masterclass em pomposa e falsa gravidade”.

O filho de Harry e Meghan — sétimo na linha de sucessão ao trono britânico — é o primeiro afro-americano na família real britânica. Meghan, natural dos Estados Unidos, é filha de pai branco e mãe negra. “Acho que este bebé será extremamente importante historicamente, porque desbravará um território novo”, defende a biógrafa da família real Claudia Joseph à Reuters

Charlene White, apresentadora da ITV, criticou o tweet de Baker, classificando-o como “preconceito e racismo old school”. “Danny Baker (um homem com quem já trabalhei no passado) sabia muito bem o que o tweet estava a sugerir. Nenhum comediante bem de cabeça poderia ignorar isso, não é assim que os nossos cérebros funcionam. Vemos uma piada de todos os ângulos. Ele sabia que era racista, embora pudesse ser engraçado, e decidiu publicar de qualquer forma”, comenta a comediante London Hughes no Twitter.

A BBC afirma que o tweet foi um sério erro de avaliação. “[Foi] contra os valores que nós, enquanto estação televisiva, tentamos representar”, segundo a Reuters. “Danny é um radialista brilhante, mas já não vai apresentar connosco um programa semanal”, comenta ainda a BBC.

Não é a primeira vez que Meghan é visada num comentário considerado racista — estes comentários são uma constante desde que a actriz assumiu uma relação com Harry, em 2016​. No final desse ano, Harry fez uma rara repreensão à imprensa, condenando o tom racial de alguns artigos e mostrando-se preocupado com a cobertura mediática sobre a sua relação, que revelava “abuso e assédio”.

Com o anúncio do noivado, os comentários agravaram-se e muitas foram as frases publicadas em meios de comunicação britânicos que podiam ser lidas com uma interpretação racista. Num editorial do The Spectator, por exemplo, lê-se que “há 70 anos Meghan Markle seria o tipo de mulher que o príncipe teria como amante, não como esposa”. Questionada sobre estes comentários, Markle confessou que tal cobertura é “desanimadora”, mas sublinhou que se sente orgulhosa das suas origens.

O casamento foi anunciado num momento em que as questões raciais estavam em destaque no Reino Unido. O 25.º aniversário do assassinato do adolescente negro Stephen Lawrence por racistas brancos — que levou Markle a uma cerimónia em sua memória, acompanhada pela mãe — ou o escândalo em que o país se viu envolvido por causa do tratamento a que foram submetidos alguns descendentes da geração Windrush, imigrantes caribenhos, que foram convidados a viver no Reino Unido depois da Segunda Guerra Mundial, mas a quem não foram dados documentos e negados direitos básicos, são disso apenas exemplos.

O anúncio da gravidez, já em 2018, também fez aumentar o número de insultos racistas a Markle e obrigaram a Coroa britânica a reforçar os meios para detectar e eliminar os comentários de ódio dirigidos à duquesa — através de um software que, entre outras coisas, detectava a palavra “nigga” (usada negativamente para se referir aos “negros”) e a apagava automaticamente.

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