Governo britânico anuncia novo aumento de impostos em nome da “credibilidade”

Executivo de Sunak confirma que a economia do Reino Unido está em recessão e vai contrair-se em 2023. Objectivo deste Orçamento é continuar a recuperação do abalo do plano fiscal de Truss.

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Jeremy Hunt, ministro das Finanças do Reino Unido, à entrada do n.º 10 de Downing Street, em Londres EPA/TOLGA AKMEN

O ministro das Finanças do Reino Unido, Jeremy Hunt, anunciou esta quinta-feira um aumento de impostos e uma maior contenção da despesa pública num orçamento difícil, mas que diz ser necessário para reverter os danos causados à reputação do país pelo plano fiscal apresentado pela anterior primeira-ministra britânica, Elizabeth Truss.

Num comunicado aos deputados, na Câmara dos Comuns, Hunt confirmou que a economia do Reino Unido já entrou em recessão e deve continuar a contrair-se durante o próximo ano. Ainda assim, garantiu que, se o Governo quiser manter os mercados financeiros estáveis e calmos, terá mesmo de aumentar a carga fiscal.

“A credibilidade não pode ser tratada como um dado adquirido e os números da inflação mostram que temos de continuar a lutar persistentemente para a reduzir, assumindo um importante compromisso de reconstruirmos as nossas finanças públicas”, afirmou.

O ministro das Finanças do Governo de Rishi Sunak – que substituiu Truss há três semanas na sequência da reacção negativa dos mercados ao seu plano de cortes fiscais sem precedentes – explicou que, com as novas medidas, as pessoas vão pagar mais impostos sobre os seus rendimentos; haverá uma redução do limite a partir do qual começam a pagar a taxa mais alta de imposto sobre o rendimento; e haverá cortes nas deduções isentas de impostos para ganhos com dividendos.

Para além disso, o limite a partir do qual os trabalhadores têm de contribuir para a Segurança Social será congelado até 2028 – o que significa que as empresas terão de pagar mais.

Hunt disse ainda que os impostos sobre os lucros das empresas de energia sofrerão um aumento (de 25% para 35%), até 2028, e anunciou um novo imposto temporário de 45% sobre os lucros das empresas geradoras de electricidade.

Estes aumentos servirão para o Estado arrecadar um total de 14 mil milhões de libras (perto de 16 mil milhões de euros) em 2023.

O apertar do cinto surge, para os britânicos, numa altura de grandes dificuldades e desafios para a economia do Reino Unido.

Jeremy Hunt informou que o produto interno bruto britânico deve contrair-se 1,4% no próximo ano – um cenário mais desfavorável, quando comparado com as previsões da agência governamental independente Gabinete de Responsabilidade Orçamental (OBR), em Março, e que apontavam para um crescimento de 1,8%.

O OBR prevê, no entanto, um crescimento do PIB em 1,3% em 2024 e de 2,6% em 2025.

A economia britânica está a ser afectada, actualmente, por uma taxa inflacionária acima dos 11%, que provocou um aumento significativo do custo de vida, e ainda não recuperou totalmente dos efeitos causados pelos planos do anterior executivo, liderado por Truss.

A ex-primeira-ministra apresentou a demissão ao fim de apenas 45 dias no cargo, depois de as suas propostas terem atirado a libra para mínimos históricos, criado o risco de um cenário de caos no mercado imobiliário e forçado o Banco de Inglaterra a intervir para comprar dívida e acalmar os mercados financeiros.

Antigo ministro das Finanças no Governo de Boris Johnson, Rishi Sunak foi responsável pelos primeiros aumentos fiscais e sempre defendeu essa política, tendo em conta o actual estado da economia.

Na corrida ao cargo de Johnson, dentro do Partido Conservador, durante o Verão, Sunak catalogou mesmo as promessas de cortes fiscais de Truss como “economia de conto de fadas”. Ainda assim, os militantes tories escolheram-na para líder do partido e do Governo.

Quando esta se demitiu, em meados de Outubro, depois de ter renunciado a praticamente todas as suas promessas de campanha, Sunak voltou a apresentar-se ao cargo, defendendo o mesmo programa económico. Sem rivais internos, foi eleito.

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