Sunak mantém o (segundo) ministro das Finanças de Truss no Governo britânico

Downing Street confirma que Hunt vai continuar a liderar o Tesouro. Tinha substituído Kwarteng, o aliado da ex-primeira-ministra que anunciou o pacote económico que deixou os mercados em ebulição e que foi demitido pouco depois.

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Jeremy Hunt, ministro das Finanças do Reino Unido Reuters/HENRY NICHOLLS

A proclamação de Rishi Sunak como novo primeiro-ministro do Reino Unido, esta terça-feira, deu origem à tradicional dança de cadeiras no Governo britânico, mas o principal ponto de interesse do entra-e-sai de deputados do número 10 de Downing Street foi rapidamente sentenciado, com o anúncio da manutenção de Jeremy Hunt no cargo de ministro das Finanças.

A recondução de Hunt é relevante, tendo em conta que se trata do homem escolhido por Elizabeth Truss para anunciar, na semana passada, o abandono de praticamente todas as suas promessas económicas, depois de a agora ex-primeira-ministra ter sido forçada a demitir o ‘seu’ ministro e amigo, Kwasi Kwarteng, para acalmar os mercados financeiros e recuperar o valor da libra.

As reversões anunciadas por Hunt – um político bastante mais moderado do que o neoliberal Kwarteng –, como o fim de um corte de impostos sem precedentes, avaliado em 45 mil milhões de libras, ou de um pacote de apoios de dois anos que poderia ultrapassar os 100 mil milhões de libras, acabaram por deitar por terra a autoridade e a legitimidade política que Truss tinha recebido dos militantes do Partido Conservador, na corrida interna à sucessão de Boris Johnson, realizada no Verão.

Cenário que, em última análise, a levou a apresentar a demissão no final da semana passada, ao fim de apenas 45 dias como chefe do Governo do Reino Unido.

O que sobrou da proposta económica de Jeremy Hunt, que será actualizada na próxima segunda-feira, com o anúncio de novas medidas, é, praticamente, aquilo que Sunak prometia quando disputou, com Truss, a última etapa da eleição interna dos tories, e que tem como principal argumento o de que a actual carga fiscal – a mais elevada em 70 anos – é “necessária” face ao risco de agravamento da inflação, por estes dias na casa dos 10%.

“Sinto-me honrado por servir o nosso país e Rishi Sunak como chancellor of the Exchequer [a designação oficial do cargo]”, escreveu Hunt no Twitter.

“Vai ser duro. Mas a protecção dos vulneráveis – e dos empregos, hipotecas e facturas das pessoas – estará no topo das nossas prioridades, quando estivermos a trabalhar para recuperar a estabilidade, a confiança e o crescimento a longo prazo”, afiançou.

Beneficiando das desistências de Boris Johnson e de Penny Mordaunt, Rishi Sunak, ele próprio um antigo ministro das Finanças, foi o único candidato oficial à liderança do Partido Conservador, depois de ter apresentado uma lista com pelo menos cem apoios de deputados tories – o requisito mínimo, definido pelo grupo parlamentar, para quem quisesse concorrer –, e foi declarado vencedor da contenda na segunda-feira.

No seu primeiro discurso ao país como primeiro-ministro, esta terça-feira de manhã, assumiu que Truss e o seu Governo cometeram “erros”, mas lembrou que foi eleito líder dos tories e chefe do Governo “para corrigir esses erros”, e prometeu que vai lançar mãos à obra “imediatamente” para lidar com a “profunda crise económica” que aflige o Reino Unido.

Para tal, decidiu manter muitos dos principais membros da equipa anterior. Para além de Hunt (Finanças), mantêm-se na chefia dos respectivos ministérios James Cleverly (Negócios Estrangeiros) e Ben Wallace (Defesa), ao passo que Suella Braverman (Interior), regressa ao posto do qual se tinha demitido na véspera da demissão de Liz Truss, e Penny Mordaunt (líder da Câmara dos Comuns) e Kemi Badenoch (Comércio Internacional) também ficam com os cargos que ocupavam.

Entre as novidades sobressaem as nomeações de Dominic Raab para vice-primeiro-ministro e ministro da Justiça – curiosamente os cargos que ocupava no Governo de Johnson – e de Oliver Dowden para chancellor of the Duchy of Lancaster (um cargo essencialmente administrativo, mas o segundo mais importante no Conselho de Ministros, em termos hierárquicos); assim como a escolha de Thérèse Coffey (vice-primeira-ministra de Truss) para o Ambiente e de Michael Gove para a Habitação; e a transferência de Nadhim Zahawi para a presidência do Partido Conservador.

Outra curiosidade foi a escolha de Simon Hart, ex-ministro para o País de Gales, para o importante cargo de chief whip, cuja responsabilidade é a de garantir o apoio e a mobilização dos deputados conservadores em redor das propostas do Governo e assegurar a disciplina de voto sempre que for necessário. Dado o estado de enorme polarização do partido, com várias facções em choque, a missão de Hart será uma montanha por escalar.

No que toca às saídas, destacam-se nomes como o de Jacob Rees-Mogg, apoiante de Johnson e figura importante do universo brexiteer, ou o de Brandon Lewis, que ocupava o cargo de ministro da Justiça

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