Plano fiscal do governo britânico atira libra para mínimo histórico

O governo britânico anunciou um plano de crescimento económico que assenta, sobretudo, em significativos cortes fiscais, medidas que estão a assustar economistas e investidores.

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O Governo de Liz Truss apresentou um plano de crescimento económico na passada sexta-feira Reuters/MAJA SMIEJKOWSKA

A libra esterlina derrapou para mínimos históricos esta manhã, numa reacção dos investidores ao plano do Governo britânico para dar resposta ao aumento acentuado da inflação e para fomentar o crescimento económico, que inclui os maiores cortes fiscais aplicados em cinco décadas.

No início desta sessão, a libra chegou a desvalorizar 4,85% contra a moeda norte-americana, fixando-se em 1,0327 dólares, o valor mais baixo de que há registo. Entretanto, recuperou parte das perdas e, esta tarde, passou a recuar em torno de 1,5% para 1,0693 dólares, mas as expectativas apontam para que as perdas continuem a acentuar-se ao longo desta semana.

Isto depois de Kwasi Kwarteng, ministro das Finanças britânico, ter anunciado, na passada sexta-feira, o plano do governo para mitigar o impacto da inflação e incentivar o crescimento económico, que passa, essencialmente, por reduções fiscais significativas – que deverão rondar os 45 mil milhões de libras (mais de 50 mil milhões de euros) até 2027 – e por incentivos ao investimento.

“Acreditamos que uma carga fiscal elevada reduz o incentivo ao trabalho, adia o investimento e prejudica o empreendedorismo”, justificou Kwasi Kwarteng, perante a Câmara dos Comuns. Mas as medidas não estão a convencer os economistas, que criticam o regresso às políticas de “trickle down economics” ao estilo de Margaret Thatcher e de Ronald Reagan, modelo em que as grandes empresas e os mais ricos são beneficiados por via fiscal com o objectivo de fomentar o crescimento económico.

Já do lado dos investidores, vai crescendo o receio de que o novo plano do governo britânico contribua para levar a inflação para níveis ainda mais elevados e para agravar o endividamento do país, já que a execução deste plano implica um aumento significativo do financiamento do Reino Unido nos mercados, numa altura em que os juros da dívida já estão em níveis historicamente elevados.

De acordo com a Bloomberg, o Reino Unido terá de se financiar em 400 mil milhões de libras (mais de 447 mil milhões de euros) ao longo dos próximos cinco anos para executar este plano. Só nos próximos seis meses, terá de levantar 72 mil milhões de libras (mais de 80 mil milhões de euros).

Por esta altura, os juros da dívida britânica a dez anos, maturidade de referência para os mercados, estão acima de 4,23%, o valor mais elevado desde 2008, altura da última crise financeira.

Notícia alterada com os valores actualizados da libra em relação ao dólar e dos juros da dívida britânica a dez anos.

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