Biden e Xi reafirmam divergências, mas abrem a porta ao diálogo

Reunião dos líderes dos Estados Unidos e da China na ilha indonésia de Bali, à margem da cimeira do G20, serviu para mostrar que os dois países “são capazes de gerir as suas divergências”.

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Xi Jinping e Joe Biden encontraram-se em Bali, na Indonésia Reuters/KEVIN LAMARQUE

Os presidentes dos Estados Unidos e da China abriram as portas a um recomeço do diálogo oficial entre as duas partes, nesta segunda-feira, durante uma reunião em que ficaram patentes as profundas divergências que separam os dois países. No final de um encontro de três horas na ilha indonésia de Bali, Joe Biden mostrou-se confiante na capacidade de Washington e de Pequim para evitarem que a competição entre as duas potências dê origem a um conflito.

O encontro entre Joe Biden e Xi Jinping, à margem da cimeira do G20, foi o primeiro presencial desde a eleição presidencial de 2020 nos EUA, e aconteceu três meses depois de as relações entre os dois países terem atingido um dos pontos mais baixos das últimas décadas. No início de Agosto, a China suspendeu a sua parceria com os EUA nas áreas militar, judicial e climática, na sequência da visita da líder da Câmara dos Representantes, Nancy Pelosi, a Taiwan.

Não se esperava, por isso, que a reunião de Bali servisse para discutir e aprovar acordos concretos, sendo antes uma oportunidade para a reabertura dos canais de comunicação oficiais entre os dois países – e também para que Biden e Xi pudessem esclarecer, cara a cara, quais são as metas e as linhas vermelhas de cada um dos lados.

A conversa entre os dois líderes franca e clara, segundo relatos das duas partes pode também ter beneficiado de um reforço da posição interna de Biden nos EUA, após a boa prestação do Partido Democrata nas eleições intercalares da semana passada. E acontece poucas semanas depois de Xi ter sido aclamado, pelo Partido Comunista Chinês, como o líder incontestado da China e o mais poderoso das últimas décadas.

“Estou convencido de que ele percebeu o que eu disse, e eu também percebi o que ele disse”, afirmou Biden no final do encontro, numa conferência de imprensa. “Eu já estive com Xi Jinping muitas vezes, e ambos fomos sinceros e claros em relação a todos os assuntos”, disse o Presidente dos EUA, cuja relativa proximidade ao líder chinês remonta aos tempos em que ambos eram vice-presidentes dos respectivos países, há mais de uma década.

“Não digo que seja caso para cantarmos o Kumbaya, mas acho que não há necessidade de nos preocuparmos com uma nova Guerra Fria”, continuou Biden. “Vamos competir de forma vigorosa, mas eu não quero um conflito.”

No final do encontro, os EUA anunciaram que o secretário de Estado norte-americano, Antony Blinken, irá visitar a China no início do próximo ano, e os dois lados disseram que vão reatar a colaboração na luta contra as alterações climáticas – uma notícia que pode desbloquear o impasse nas negociações na cimeira climática da ONU (COP27) que está a decorrer em Sharm-el-Sheikh, no Egipto.

Taiwan e Ucrânia

Sem surpresas, a situação em Taiwan e na Ucrânia foram assuntos em destaque na reunião. E o Presidente chinês deixou claro qual é, para a China, a linha mais vermelha de todas as linhas vermelhas: segundo Xi, um cenário de paz no estreito, com uma Taiwan independente, “é tão irreconciliável como água e fogo”.

Em resposta à posição chinesa sobre Taiwan, e tal como já tinha feito em relação às possíveis consequências da competição económica e tecnológica com a China, Biden voltou a minimizar os receios de um conflito armado.

“Não me parece existir uma tentativa iminente da China para invadir Taiwan”, disse Biden, sem deixar de embrulhar a posição oficial da Casa Branca num aviso a Pequim: os EUA “opõem-se a qualquer alteração unilateral ao statu quo promovida por qualquer uma das partes”.

Sobre a invasão da Ucrânia pela Rússia, a delegação norte-americana disse que ambos os líderes foram claros na condenação à ameaça do uso de armas nucleares em território ucraniano – uma ameaça feita pela Rússia em várias ocasiões. Mas esta posição não surge no comunicado oficial da China, que apenas refere a “complexidade” da situação na Ucrânia e salienta que é “de evitar um conflito directo entre as principais potências”.

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