Da Rússia à conquista espacial, os “impérios” vão estar em debate na Culturgest

O ciclo de conferências inclui também o império colonial português, a China e os EUA, passando pelo soft power de Hollywood e pelos grandes compositores russos.

Foto
Coração de D. Pedro IV MARIA JOÃO GALA

O termo “império” pode ser aplicado a diferentes realidades, desde o mais clássico domínio territorial à noção de esferas de influência, pode passar pelo soft power ou até pelos sonhos de colonização de outros planetas. Todas estas perspectivas vão estar presentes no ciclo de conferências “Impérios” que se realiza na Culturgest, em Lisboa, entre 4 de Novembro e 12 de Dezembro.

O projecto estava a ser preparado há já algum tempo, mas, diz Liliana Coutinho, uma das curadoras (com José Neves), “tornou-se agora mais relevante” com a invasão da Ucrânia pela Rússia a dar uma nova actualidade ao debate sobre o que são ambições imperiais no século XXI.

A série vai começar no dia 4 (das 16h às 20h30) com “o Império Colonial português”, numa sessão com curadoria de Inês Beleza Barreiros, Patrícia Martins Marcos, Pedro Schacht Pereira e Rui Gomes Coelho e com a participação do historiador brasileiro Luiz Felipe de Alencastro. “Senti a vontade de várias pessoas para falar sobre este tema”, explica Liliana Coutinho. O que se pretende aqui é “abrir a complexidade da História, outras dimensões, e os lados que podem ser mais difíceis de encarar”.

Por coincidência, este é também o ano em que se comemora o bicentenário da independência do Brasil e isso, como sublinham os textos de apresentação, é uma oportunidade para lançar “um desafio a paradigmas historiográficos de feição lusotropicalista que, teimosamente, continuam a sobreviver à implantação da democracia tanto no Brasil como em Portugal”.

A segunda sessão de dia 4, com início às 18h30, intitula-se “Reparar o Futuro” e centra-se noutro debate com grande actualidade ligado, nas palavras de Liliana Coutinho, “às ressonâncias [dos impérios] no presente”, concretamente no que diz respeito às reparações históricas, aqui pensadas “a partir do contexto português, em articulação com os debates que ocorrem noutros contextos, nomeadamente os da memorialização da Escravatura, da restituição de objectos, do desmantelamento de estátuas racistas ou de produção de contra-arquivos”.

Soft power

No dia 15 de Novembro, entram em cena os Estados Unidos na conferência “EUA: imperial way of life?” com Amedeo Policante e Raquel Ribeiro, que se propõem analisar as “diferentes formas de entendimento e reputação” do poder americano, na sua relação (ou não) de continuidade com as formas de poder imperial europeias. Na segunda parte da sessão (das 21h às 22h), Rui Lopes, que tem estudado a cultura visual da Guerra Fria, irá apresentar “Suave e Irresistível? O Imperialismo de Hollywood”.

O objectivo, nesta sessão e na seguinte, que se debruçará sobre a música russa (“Ecos do Império – Representações Musicais da Rússia”, pelo musicólogo Paulo Ferreira de Castro, dia 23 entre as 21h e as 22h30), foi, segundo Liliana Coutinho, “olhar para duas práticas artísticas que configuram imaginários políticos” e que usam o soft power, e fazê-lo através da apresentação de exemplos concretos, sejam eles excertos de filmes ou de peças musicais.

Ainda no dia 23, entre as 18h30 e as 20h, o alemão Jochen Hellbeck (autor de Stalingrad: The City that Defeated the Third Reich) e o russo Yuri Slezkine (The House of Government: a Saga of The Russian Revolution), ambos historiadores, irão falar sobre “Rússia. Quebras e Continuidades Imperiais” numa conferência na qual se analisará “o desenvolvimento da política soviética, da Revolução de Outubro à queda do Muro de Berlim, passando pela oposição à Alemanha nazi e pelo relacionamento com os EUA”.

A 7 de Dezembro, numa intervenção por Zoom, o professor universitário e investigador chinês Wang Hui, que em 2008 foi considerado pela revista Foreign Policy como um dos 100 intelectuais mais importantes do mundo, falará sobre “China ontem e hoje”, tentando perceber até que ponto a palavra império “tem ressonância na forma como hoje a China se projecta no mundo”.

O ciclo encerra a 15 de Dezembro com a conferência “Impérios no Espaço” (apenas transmissão online), na qual o astrofísico Pedro Machado falará da exploração do espaço e de como a competição política foi, em determinado momento, substituída pela cooperação científica, agora posta em causa pela actual situação mundial.

Todas as conferências, que decorrem no Pequeno Auditório da Culturgest, são gratuitas, sendo necessário levantar o bilhete 30 minutos antes do início da sessão, com limite sujeito à lotação da sala.

Sugerir correcção
Comentar