Eleições na Dinamarca marcadas pela incerteza

Antecipadas pelo abate de martas por causa da covid-19, as eleições contam com três candidatos à chefia do Governo – e um quarto que poderá ser essencial para a decisão.

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A ideia de um governo alargado de Mette Frederiksen não tem entusiasmado os outros partidos dinamarqueses RITZAU SCANPIX DENMARK/Reuters

Depois de décadas a viver numa bolha confortável de Estado social e no lugar cimeiro do índex mundial de felicidade, a sensação de segurança dos dinamarqueses foi abalada por uma incerteza geopolítica e económica – uma questão que deverá ser importante quanto ao sentido de voto dos dinamarqueses na eleição desta terça-feira.

A perspectiva de falta de energia, inflação crescente e a guerra na Ucrânia, que foi vista como mais próxima depois da sabotagem, no mês passado, de dois gasodutos que levavam gás da Rússia para a Alemanha através de águas territoriais dinamarquesas, alimentaram uma sensação de insegurança sem precedentes entre os dinamarqueses.

A votação foi precipitada pela decisão da primeira-ministra, Mette Frederiksen, do Partido Social Democrata, abater todos os visons (ou martas) a serem criados no país (cerca de 15 milhões) por causa da covid-19 (o medo era que o vírus se mutasse ao ser transmitido entre os animais e ao ser transmitido a humanos a mutação pudesse escapar a vacinas). Uma comissão parlamentar classificou a decisão como ilegal, mas dizia que a chefe de Governo não tinha desrespeitado intencionalmente a lei.

Frederiksen afirmou que era “esquisito ter uma eleição no meio de uma crise internacional”, mas tem falado abertamente de governar com partidos de centro-direita, hoje na oposição. Um governo alargado seria, argumentou, uma boa hipótese para “tempos incertos”.

As sondagens mostram resultados muito próximos para o “bloco vermelho” de partidos mais à esquerda, liderados pelos sociais-democratas de Frederiksen, e o “bloco azul”, com o Partido Liberal, o Partido Conservador e três partidos nacionalistas. Uma sondagem da agência de notícias Ritzau dava 86 deputados ao bloco vermelho no Parlamento de 179, um mais do que o bloco rival, com 85, e quatro lugares para o antigo primeiro-ministro Lars Lokke Rasmussen.

Há pelo menos três políticos a cobiçar a chefia do governo: além de Frederiksen, o líder dos liberais, Jakob Ellemann-Jensen, e o dos conservadores, Soren Pape Poulsen. E há ainda Lokke Rasmussen, que perdeu para Frederiksen em 2019 enquanto candidato dos liberais, e criou entretanto um novo partido do centro, os Moderados, que podem chegar a 10% dos votos e dar-lhe um poder de decidir que bloco forma governo, ou, até, de ser ele próprio a chefiar um governo.

A maioria dos partidos não se tem mostrado favorável à ideia de coligação alargada de Frederiksen, fazendo com que o resultado mais provável seja uma coligação de um dos blocos com Rasmussen.

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