Sociais-democratas vencem eleições e lideram regresso da esquerda ao poder na Dinamarca
Partido de Frederiksen destronou os liberais do Venstre, nas legislativas de quarta-feira, e vai dirigir Governo de centro-esquerda. Extrema-direita perdeu mais de metade da representação parlamentar.
Os Sociais-Democratas dinamarqueses venceram as eleições legislativas de quarta-feira, abrindo caminho para um Governo apoiado por uma coligação parlamentar de centro-esquerda. Depois de uma campanha que andou à volta de temas como o Estado social, a imigração e as alterações climáticas, o partido de Mette Frederiksen levou a melhor sobre o Venstre, do primeiro-ministro Lars Lokke Rasmussen, confirmando a tendência de recuperação da social-democracia nos países nórdicos verificada nos últimos meses.
Os vencedores da contenda beneficiaram em grande medida do respaldo oferecido, durante a última legislatura e na campanha eleitoral, a políticas migratórias restritivas, a principal bandeira do Partido Popular Dinamarquês, de extrema-direita, que, também por isso, perdeu mais de metade dos seus deputados no Folketing – o Parlamento dinamarquês – nestas eleições.
Com todos os votos contabilizados, os sociais-democratas obtiveram 26%, equivalentes a 48 deputados, por cima dos 23% do Venstre, que deu aos liberais 43 lugares. O Partido Popular Dinamarquês ficou-se pelos 9% (16 deputados), os mesmos que os sociais-liberais. Socialistas (14), Aliança Vermelha e Verde (13) e conservadores (12) foram os partidos que se seguiram, numa eleição que fez eleger representantes de 11 partidos diferentes.
No Folketing impera a tradição da divisão da grande maioria dos partidos em dois grandes grupos: o bloco vermelho, à esquerda, e o bloco azul, à direita. Feitas as contas da eleição de quarta-feira – 91 deputados “vermelhos” contra 75 “azuis”, num total de 179 – será o primeiro, sob a liderança social-democrata, a poder nomear um novo Governo.
Rasmussen já anunciou que vai apresentar a sua demissão esta quinta-feira à rainha Margarida II, pondo fim a um mandato de quatro anos como primeiro-ministro – já o tinha sido entre 2009 e 2011. Para o seu lugar entrará Frederiksen que, com 41 anos, tornar-se-á na mais nova líder de sempre de um executivo dinamarquês.
Tal como nas recentes legislativas finlandesas e suecas, também na Dinamarca se registou uma reabilitação do centro-esquerda – apesar de na Finlândia a extrema-direita ter tido uma ligeira subida –, depois de vários anos de crescimento da direita e, particularmente, da direita radical e ultraconservadora.
No caso dinamarquês, governado pelos liberais em 14 dos últimos 18 anos, foi notória a influência da agenda anti-imigratória do Partido Popular no discurso dos partidos tradicionais na última legislatura.
Frederiksen baseou a sua campanha na promessa de injecção de fundos e de medidas de protecção do generoso – mas dispendioso – Estado social dinamarquês, cuja origem deve muito aos sociais-democratas.
E para isso, defendeu, é necessário manter algumas das políticas restritivas de imigração, implementadas pelo anterior Governo. Os sociais-democratas votaram favoravelmente algumas das medidas mais controversas do Venstre – apoiado no Parlamento pela extrema-direita –, como a confiscação de objectos de valor aos requerentes de asilo ou o aumento do orçamento e dos meios para a polícia responsável pelos controlos fronteiriços.
Se a extrema-direita perdeu fôlego com a incorporação do discurso anti-imigração pelos partidos tradicionais, o Venstre acabou por pagar a factura pela imposição de medidas de austeridade e pelas reformas económicas que operou nos últimos anos. A vitória, por apenas 2%, sobre os sociais-democratas, nas mais recentes eleições para o Parlamento Europeu, já indicavam que o tabuleiro podia virar em casa. E foi precisamente isso que aconteceu, menos de duas semanas depois.