Conselho da Europa atribui prémio de Direitos Humanos a opositor russo

Vladimir Kara-Murza está preso desde Abril, por ter “desacreditado” as Forças Armadas russas. Garante que os 60.000 euros do prémio serão distribuídos pelos familiares de presos políticos russos.

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Kara-Murza foi recentemente acusado de “alta traição” por criticar publicamente as autoridades russas no estrangeiro Reuters/Aaron Bernstein

O jornalista e opositor russo Vladimir Kara-Murza, coordenador da Fundação Rússia Aberta, actualmente preso no seu país, foi distinguido, esta segunda-feira, com o prémio Václav Havel de Direitos Humanos 2022, concedido pelo Conselho da Europa.

Kara-Murza, de 41 anos, foi escolhido entre três finalistas que haviam sido indicados pela Assembleia Parlamentar do Conselho da Europa (PACE), órgão com sede em Estrasburgo. A lista de candidatos ao prémio incluía a Coligação Arco-Íris – grupo de organizações que defendem os direitos da comunidade LGBTQ na Hungria – e o grupo ucraniano 5 AM, cujo objectivo é descobrir e documentar possíveis crimes de guerra e contra a humanidade cometidos durante a invasão russa.

“Kara-Murza sobreviveu a duas tentativas de envenenamento, manifestou-se contra a guerra de agressão da Rússia contra a Ucrânia desde os seus primeiros dias e condenou as acções do Governo russo”, disse o presidente da PACE, Tiny Kox, sobre o vencedor.

Kox lembrou ainda que Kara-Murza está preso desde Abril passado (depois de ter sido detido por ter “desacreditado” as Forças Armadas russas) e que as autoridades do seu país acabam de acrescentar às suas denúncias uma acusação de “alta traição” por criticar publicamente as autoridades russas no estrangeiro.

“É preciso uma coragem incrível na Rússia de hoje para enfrentar o poder”, sublinhou o presidente da PACE. O prémio foi recebido pela mulher do laureado, Evgenia Kara-Murza, que mora com os três filhos nos Estados Unidos.

“Estou aqui porque há quase 20 anos me casei com um homem íntegro, um homem cuja honestidade, cujo senso de dever e honra é verdadeiramente inspirador, mas bastante difícil para aqueles que o amam”, disse Evgenia Kara-Murza ao receber o prémio.

Evgenia Kara-Murza leu ainda uma curta mensagem de agradecimento escrita pelo seu marido, na qual este reiterou que, além da agressão “brutal” contra a Ucrânia, Vladimir Putin lançou uma “guerra contra a verdade”. “Esta recompensa é dedicada àqueles que não podem continuar em silêncio diante de todas as atrocidades, mesmo que para isso paguem o preço da sua própria liberdade individual”, concluiu.

O prémio Václav Havel foi criado em 2013 e, nos últimos anos, tem sido entregue a pessoas que se encontram presas por lutarem pela liberdade dos seus compatriotas. Em 2021, o prémio foi entregue à opositora bielorrussa Maria Kolésnikova, condenada a 11 anos de prisão e, em 2020, tinha sido concedido à feminista Loujain al-Hathoul, que também passou mais de 1000 dias atrás das grades na Arábia Saudita.

O prémio é anual e, além do diploma, consiste em 60.000 euros. Evgenia Kara-Murza anunciou que o valor do prémio será usado para ajudar as famílias dos presos políticos na Rússia.

Preso pelas suas críticas à invasão da Ucrânia, o opositor russo foi acusado na passada quinta-feira de “alta traição”, um crime que acarreta duras penas de prisão. Em meados de Março, a Rússia foi expulsa do Conselho da Europa como resultado da guerra que provocou na Ucrânia e, desde 15 de Setembro, que não é membro da Convenção Europeia dos Direitos Humanos.

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