De Navalni a Markov, as muitas vítimas do veneno de Moscovo

Desde a morte de Markov em 1978, ao mais recente caso de suspeita de envenenamento, em 2020, a Reuters compilou alguns detalhes sobre incidentes anteriores com membros da oposição ao governo russo.

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Navalni está internado num hospital siberiano, suspeito de envenenamento LUSA/SERGEI ILNITSKY

A porta-voz de Alexei Navalni, um dos líderes da oposição ao Presidente russo, Vladimir Putin, disse que o político foi internado em estado grave num hospital na Sibéria após ter sido envenenado de forma deliberada.

A Reuters compilou alguns casos em que os opositores do Governo russo foram envenenados ou suspeitou-se disso. 

Sergei Skripal

Skripal foi um agente duplo russo que passou segredos à espionagem britânica, e vive no Reino Unido desde 2010. Skripal, 66 anos, e a sua filha Yulia, de 33, foram encontrados inconscientes num banco à porta de um centro comercial na cidade inglesa de Salisbury, em Março de 2018. Foram levados para o hospital em estado crítico. Foram envenenados por Novichok, um grupo de agentes de nervos desenvolvido pelos militares soviéticos nos anos 70 e 80.

A Rússia negou qualquer papel no envenenamento e disse que o Reino Unido estava a provocar histeria anti-russa.

O agente de nervos Novichok causa um abrandamento do coração e contrição das vias respiratórias, levando à morte por asfixia.

Vladimir Kara-Murza

O activista russo da oposição disse acreditar que foram feitas tentativas para o envenenar em 2015 e 2017. Um laboratório alemão encontrou mais tarde níveis elevados de mercúrio, cobre, manganês e zinco no seu organismo, de acordo com relatórios médicos vistos pela Reuters. Moscovo negou envolvimento.

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Alexander Litvinenko

O ex-agente do KGB (organização de serviços secretos da antiga União Soviética) e crítico declarado do Presidente russo Vladimir Putin morreu aos 43 anos, em Bloombsury, Londres, em 2006, depois de beber chá verde misturado com polónio-210, um raro isótopo radioactivo, ao qual só os Estados costumam ter acesso, num hotel da capital britânica.

Putin provavelmente aprovou o assassinato, um inquérito britânico concluído em 2016. O Kremlin negou envolvimento.

Um inquérito conduzido por um juiz britânico de alto nível concluiu que o antigo guarda-costas do KGB Andrei Lugovoi e outro russo, Dmitri Kovtun, levaram a cabo o assassinato como parte de uma operação que, dizia, terá sido dirigida pelo Serviço de Segurança Federal da Rússia (FSB), herdeiro do KGB da era soviética.

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A viúva de Litvinenko, Marina, com uma cópia do relatório TOBY MELVILLE/REUTERS

Litvinenko fugiu da Rússia durante seis anos, até à véspera de ser envenenado.

Alexander Perepilichni

O russo de 44 anos de idade foi encontrado morto perto da sua casa de luxo numa propriedade fechada fora de Londres, depois de ter saído para correr em Novembro de 2012.

Perepilichni tinha procurado refúgio no Reino Unido, em 2009, após ajudar uma investigação suíça sobre um esquema de lavagem de dinheiro russo. A sua morte súbita suscitou sugestões de que teria sido assassinado. A investigaçao da sua morte não foi conclusiva, embora tenham sido encontraos vestígios de um veneno raro e mortal de plantas do género Gelsemium no seu estômago. A Rússia negou envolvimento.

Viktor Iushchenko

Iushchenko, então líder da oposição ucraniana, foi envenenado com dioxinas durante a campanha para as presidenciais de 2004, em que se apresentou como um candidato pró-ocidental contra o então primeiro-ministro pró-Moscovo, Viktor Ianukovich.

Segundo Iushchenko, foi envenenado enquanto jantava fora de Kiev com funcionários dos serviços de segurança ucranianos. A Rússia negou envolvimento.

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No seu organismo estavam presentes mil vezes mais dioxinas do que o normal. O seu rosto e o seu corpo ficaram marcados pelo envenenamento e fez dezenas de operações após o acidente.

Ganhou a presidência em novas eleições, depois de o Supremo Tribunal da Ucrânia ter anulado os resultados, declarando Ianukovich o vencedor em meio a protestos de rua apelidados de “Revolução Laranja”.

Georgi Markov 

Escritor, jornalista e opositor búlgaro dissidente da Bulgária comunista. Fugiu para o Ocidente em 1969 e morreu a 11 de Setembro de 1978, depois de ter sentido uma picada aguda na coxa enquanto esperava por um autocarro na ponte Waterloo, em Londres.

De acordo com relatos do incidente, Markov olhou para trás e viu um homem a pegar num guarda-chuva que tinha caído no chão. O homem murmurou “desculpa” antes de se ir embora.

Markov morreu do que se crê ter sido envenenamento por rícina, para a qual não há antídoto. Os dissidentes acusaram o KGB de estar envolvido no assassinato.

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