Hubble pode ganhar mais anos de vida com “empurrão” dos bilionários espaciais

NASA e Space X, de Elon Musk, assinaram na noite desta quinta-feira um acordo para se estudar a possibilidade de “empurrar” o telescópio espacial para uma órbita superior – e estender a sua vida entre 15 a 20 anos

Foto
NASA/ESA O Hubble em órbita com a Terra como fundo após uma missão de manutenção do telescópio em 2002

Aos 32 anos, podemos dizer que é o “velhinho” Hubble. Um telescópio espacial lançado em 1990, sem estimativas para a sua reforma, mas com uma garantia: a NASA não fará novas reparações no Hubble (a última foi em 2009). Há, no entanto, outra opção.

E se forem os privados, mais concretamente os bilionários Elon Musk (com a empresa Space X) e Jared Isaacman (empresário que lidera o programa de missões privadas Polaris), a prolongar a vida deste telescópio? É isso que está em cima da mesa. A NASA e esta dupla de bilionários assinaram um acordo, na última quinta-feira, para estudar a possibilidade de “empurrar” o Hubble para uma órbita superior – o que pode dar mais 15 a 20 anos de vida a este trintão.

É um estudo de seis meses, em que a ideia é perceber a possibilidade de utilizar a cápsula Crew Dragon, da Space X, para colocar o telescópio Hubble numa órbita superior. Este projecto é totalmente financiado pela dupla de empresários – uma das vantagens para a agência espacial norte-americana. Por outro lado, é mais um momento de incorporação destas empresas na política espacial norte-americana.

Thomas Zurbuchen, administrador adjunto da NASA, mostrou-se cauteloso: “Quero ser muito claro. Não estamos a anunciar algo hoje [quinta-feira], que seja um avanço definitivo deste plano.”

Esta é uma fase de estudo. E, além da Space X e do programa Polaris, há espaço para outras empresas se imiscuírem: o projecto não é exclusivo e, como avisou a NASA, se houver outras ideias melhores, serão essas as escolhidas.

Recorde-se que a NASA e a Space X também estão a trabalhar em conjunto no sistema de alunagem, para a próxima missão à Lua (prevista para 2024).

Uma outra vantagem importante que este anúncio poderá trazer é impedir qualquer despesa urgente com a retirada do telescópio de órbita. Não, o Hubble não está em queda livre. Mas a sua órbita está a cair lentamente e isso é algo que não conseguimos alterar. Empurrar o telescópio para uma órbita superior dar-lhe-á mais tempo para “ir caindo”.

Quanto custa um empurrão? Não se falou nesse aspecto nesta conferência de imprensa. Até porque, além de colocar o Hubble numa órbita superior, este estudo tentará olhar para possíveis reparações em pequena escala, como a substituição dos giroscópios (que controla o foco do telescópio). Apenas três dos seis giroscópios do Hubble continuam a funcionar.

A estimativa actual é que no final desta década o telescópio Hubble tivesse de ser resgatado – ou melhor, destruído de forma planeada, para que possa cair no oceano sem perigo para ninguém.

Lançado em 1990, o Hubble já tem no novo telescópio espacial James Webb um sucessor – mas continua a dividir trabalho com o novato. A maioria destes instrumentos não costuma ultrapassar os 15 anos, mas desde o início que o Hubble é especial. Depois de um susto inicial, em que foi necessário reparar o telescópio por estar “míope” (e as imagens saíam desfocadas), deu-nos a conhecer regiões do Universo fascinantes.

Foto
NASA/ESA Os Pilares da Criação captadas em 1995 pelo Hubble

Uma das mais conhecidas é a nebulosa da Águia, conhecia como Pilares da Criação. Um berçário de estrelas captado em 1995, num amontoado de poeiras e gás com tons azulados que são uma das imagens de marca deste telescópio.

Em três décadas, há muito mais. Sem o Hubble não saberíamos que o nosso Universo tem cerca de 13,8 mil milhões de anos. Apesar de sabermos que a idade do Universo rondava entre os dez e os 20 mil milhões de anos, apenas através das imagens registadas pelo Hubble a uma classe de estrelas, a RS Puppis, é que os cientistas conseguiram definir com mais precisão quando tudo começou.

Ainda antes dos Pilares da Criação, o Hubble já tinha registado provas de um enorme buraco negro – a primeira confirmação do buraco negro que vimos em 2019. Com este telescópio vimos colisões em Júpiter, as luas de plutão e galáxias que se formaram pouco depois do Big Bang.

O futuro do Hubble ainda não está totalmente definido, mas o “velhinho” telescópio ainda parece ter mais vidas pela frente e mais ciência para nos oferecer.

Sugerir correcção
Ler 1 comentários