Professora condenada por matar namorado no caso do gelo seco detida em Cabo Verde

Foi condenada a 17 anos de prisão pela prática de homicídio qualificado e estava em fuga.

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Fernanda Baltazar, uma professora de 41 anos, que foi condenada a 17 anos de prisão no caso do gelo seco por matar o namorado em 2016 e que estava em fuga à justiça, foi detida em Cabo Verde, informou este Sábado a Policia Judiciária (PJ) em comunicado. Daniel Rocha

Fernanda Baltazar, uma professora de 41 anos, que foi condenada a 17 anos de prisão por matar o namorado em 2016 e que estava em fuga à justiça, foi detida em Cabo Verde na quinta-feira, informou este sábado a Polícia Judiciária (PJ) em comunicado.

Após a condenação, a mulher foi deixada em liberdade devido ao excesso de prisão preventiva, um erro da justiça que levou a professora a fugir para parte incerta, assim que o Supremo Tribunal de Justiça confirmou a pena de primeira instância a oito de Abril de 2021, tendo sido emitido um mandato de detenção nacional para a sua captura.

“As Autoridades Judiciárias e a Polícia Judiciária de Cabo Verde, em articulação com as Autoridades Judiciárias Portuguesas e a Polícia Judiciária portuguesa, através da Directoria de Lisboa e Vale do Tejo, localizaram e detiveram mediante cumprimento de mandado de detenção internacional, uma mulher portuguesa, com 41 anos de idade, condenada pela prática de um crime de homicídio qualificado, ocorrido em 24 de Dezembro de 2016 na cidade de Lisboa, sendo vítima o seu companheiro, indivíduo também português na altura com 25 anos de idade”, lê-se no comunicado.

Segundo a PJ, “após múltiplos contactos entre os serviços da Polícia Judiciária portuguesa e a Polícia Judiciária de Cabo Verde, veio a ser possível a localização da arguida naquele país e a sua detenção, mediante cumprimento de mandado de detenção internacional emitido pelas Autoridades Judiciárias portuguesas e cumprido pelos serviços da Polícia Judiciária de Cabo Verde”.

A mulher ainda está detida em Cabo Verde. “Aguardam-se que trâmites legais relativos à extradição da arguida agora detida, de Cabo Verde para Portugal, para cumprimento do remanescente da pena de prisão em que foi condenada”, explica a PJ.

Fernanda Baltazar sempre alegou que a morte do namorado tinha tido origem num pacto de suicídio conjunto do qual ela havia desistido à última hora. E de facto o casal encomendou gelo seco que foi usado na noite fatal, substância química que, depois de regada com água, liberta vapores que são intoxicantes se produzidos em grande quantidade. Sucede que no apartamento do Parque das Nações onde tudo sucedeu foram também encontrados vestígios de fogo posto. Aparentemente não foi o dióxido de carbono que matou o homem, e sim o monóxido de carbono do fumo provocado por um incêndio que deflagrou em dois pontos diferentes da cama onde dormia, e que carbonizou o cadáver, concluíram os peritos da Judiciária.

Por outro lado, no computador que o casal usava foram encontradas pesquisas consideradas comprometedoras: “Como matar alguém com gelo seco, como matar uma pessoa sem deixar pistas, quanto tempo é necessário estar alguém exposto ao dióxido de carbono para morrer.”

Alegadamente, para trás ficavam cinco anos de uma relação que, segundo relatou Fernanda Baltazar, foi marcada por constantes depressões e ciúmes doentios.

“Dizia que ouvia os pensamentos dos outros por telepatia e que andávamos a ser seguidos. Um carro com as letras VD na matrícula podia significar Vem Deus, se fosse de cor clara, ou Vem Diabo, se fosse escuro”, exemplificou. “Um dia fomos ao oftalmologista e disse que ele me tinha passado um papel às escondidas com o seu número de telefone. Como quando chegámos a casa não encontrou nada, depois de me ter obrigado a despir, revistou-me as fezes. Passei por coisas inimagináveis.”

As desconfianças fizeram com que tivesse passado a dar explicações para poder ficar em casa, prossegue. Para o fim já nem isso conseguia fazer. Se se afastavam um do outro por algum motivo os telefonemas eram constantes. “Vivíamos um para o outro, num casulo.”

A largueza com que viviam foi uma das coisas que causou estranheza aos investigadores. Afinal, a partir de determinada altura nenhum deles trabalhava. Mas a professora sempre disse que vendera bens de família que tinha herdado, incluindo peças valiosas de ouro de que lhe custou desfazer-se e algumas obras de arte. Chegou a emprestar uma elevada quantia de dinheiro aos pais do namorado.
Fizeram também várias viagens ao estrangeiro – Veneza, Barcelona, Estocolmo, Paris, Roma – que serviam para que o namorado desanuviasse as ideias e para que parasse de falar de suicídio, alegou a professora.

Na noite fatídica foram jantar ao hotel Ritz, uma conta de 200 euros. Comeram veado e regressaram ao Parque das Nações, em Lisboa. No apartamento já estavam os 35 quilos de gelo seco, químico industrial usado no cinema para produzir fumo que pode tornar-se letal se o dióxido de carbono que liberta, depois de molhado com água, for inalado em grandes quantidades.

Tinham-no encomendado previamente e estava distribuído por quatro caixas. Garante a professora que há anos que ele falava em morrer assim, por acreditar que não iria sofrer.

A suspeita foi condenada pela primeira vez a 17 anos de cadeia em 2017, decisão judicial confirmada pelo Supremo Tribunal de Justiça quatro anos mais tarde.

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