Covid-19 aumenta risco de lesões cerebrais a longo prazo

As conclusões são avançadas por uma equipa norte-americana, que aponta para maiores problemas de memória ou de saúde mental em quem foi infectado com covid-19 (comparativamente com quem nunca teve a doença).

Foto
Através dos registos médicos de veteranos de guerra norte-americanos, os investigadores encontraram maior probabilidade de lesões cerebrais em quem teve covid-19 Nuno Ferreira Santos

Quem teve covid-19 tem um maior risco de sofrer lesões cerebrais um ano depois da infecção, comparativamente a quem nunca foi infectado por este vírus.

O estudo realizado nos Estados Unidos e com um ano duração foi publicado na revista científica Nature Medicine e envolveu a avaliação da saúde cerebral em 44 doenças diferentes, utilizando os registos médicos de milhões de veteranos de guerra norte-americanos.

A presença de doenças neurológicas ou lesões no cérebro foi identificada em mais 7% das pessoas que foram infectados com covid-19 do que num grupo semelhante de veteranos de guerra que nunca tiveram a doença. Isto significa que cerca de 6,6 milhões de americanos tiveram problemas cerebrais associados à infecção por covid-19, afirmou a equipa que liderou o estudo.

“Os resultados mostram os efeitos devastadores da covid-19 a longo prazo”, aponta o autor principal, Ziyad Al-Aly, da Escola de Medicina da Universidade de Washington, em comunicado.

Al-Aly e a restante equipa da Universidade de Washington e do Sistema de Cuidados de Saúde de Veteranos de St. Louis (Missouri) analisaram os registos médicos de 154 mil veteranos de guerra dos Estados Unidos que testaram positivo para covid-19 entre Março de 2020 e Janeiro de 2021.

Os investigadores compararam estes dados com os registos de 5,6 milhões de pacientes que não tiveram covid-19 dentro do mesmo período temporal, e ainda com dados de outro grupo de 5,8 milhões de pessoas – recolhido antes da chegada da covid-19 aos Estados Unidos.

Al-Aly aponta que os estudos anteriores analisaram grupos mais restritos de doenças e concentraram-se sobretudo em pacientes hospitalizados, ao passo que este trabalho inclui tanto utentes hospitalizados como não-hospitalizados.

Os problemas de memória, comummente referidos como névoa mental (ou brain fog, em inglês), foi o sintoma mais apontado. Em comparação com os grupos de controlo, as pessoas infectadas com covid-19 tiveram um risco 77% maior de desenvolver problemas de memória.

As pessoas infectadas tiveram uma probabilidade maior (50%) de ter um acidente vascular cerebral isquémico, causado pela coagulação sanguínea.

Quem esteve infectado com covid-19 teve ainda maior propensão a ter convulsões (80% mais provável), a ter problemas de saúde mental como ansiedade ou depressão (43%), a ter dores de cabeça (35%), e ainda a sofrer problemas de movimento como tremores (42%) – tudo isto em comparação com os grupos de controlo estudados pela equipa da Universidade de Washington.

A equipa de investigação afirma que os governos e sistemas de saúde devem elaborar plenos para um mundo pós-covid.

“Dada a escala colocassal desta pandemia, enfrentar estes desafios requer a criação de estratégias de resposta urgentes e coordenadas – até agora ausentes – globais, nacionais e regionais”, referiu Al-Aly.

Sugerir correcção
Comentar