SPD alemão entra na campanha italiana em defesa de Letta e contra Meloni

Apoio dos sociais-democratas alemães ao centro-esquerda italiano mostra como o PD prefere a “protecção” dos poderes estrangeiros ao apoio dos italianos, acusa Meloni.

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Enrico Letta (à esquerda), líder do PD, e Olaf Scholz (à direita), chanceler alemão, reuniram-se na segunda-feira em Berlim EPA/HANNIBAL HANSCHKE

A frase não é de Olaf Scholz mas aterrou na campanha italiana como se o próprio chanceler alemão a tivesse proferido em Roma. “Seria realmente um sinal importante se Enrico Letta pudesse vencer e não [Giorgia] Meloni, que, com um partido pós-fascista, levaria a Itália na direcção errada”, afirmou o presidente do Partido Social-Democrata alemão (SPD), Lars Klinhgbeil, em Berlim, numa conferência de imprensa com Enrico Letta, líder do Partido Democrático, a maior formação do centro-esquerda em Itália. A menos de uma semana das eleições antecipadas, Meloni denunciou “provocações sistemáticas” contra si e o seu partido, Irmãos de Itália.

Com a direita e a extrema-direita a um passo de conquistarem o poder, a ida de Letta a Berlim não deixa de ser significativa: o grande trunfo do centro-esquerda é a respeitabilidade e o reconhecimento internacional dos seus líderes, principalmente no seio de uma União Europeia que desde a queda do Governo de Mario Draghi, no final de Julho, se mostra preocupada com os destinos da terceira maior economia do bloco.

“Preocupações sobre o voto em Itália, há”, disse Klinhgbeil, sublinhando que as eleições de domingo são decisivas e que uma vitória do PD seria muito importante para o conjunto da social-democracia europeia. “Mas as eleições podem vencer-se nos últimos metros”, afirmou, numa declaração de incentivo a Letta.

“Acredito na recuperação”, garantiu, por seu turno, Letta, que esteve reunido com Scholz. Em resposta a perguntas dos jornalistas na mesma conferência de imprensa em Berlim, o líder do PD admitiu ainda eventuais alianças pós-eleitorais, mas recusou qualquer possibilidade de governar com a direita, quando questionado sobre a hipótese de se aliar ao Força Itália, o partido de Silvio Berlusconi que é a formação mais moderada da coligação de direita e extrema-direita.

O partido de centro-esquerda surge como segundo mais votado em todas as sondagens, atrás do Irmãos de Itália, o partido fundado por Georgia Meloni há dez anos, depois de Berlusconi absorver o campo pós-fascista quando o seu partido se fundiu com a Aliança Nacional (herdeira dos neofascistas do Movimento Social Italiano). Mas, apesar da curta distância entre o PD e Meloni, que em alguns inquéritos é de apenas dois pontos percentuais, o facto de o conjunto da direita concorrer coligado, enquanto o centro-esquerda não se conseguiu entender, faz com que Meloni já se imagine no Palácio Chigi (a sede do governo italiano).

Vários dirigentes europeus de diferentes sensibilidades políticas já exprimiram os receios de uma Itália dirigida por Meloni, ao mesmo tempo que esta tem tentado sublinhar o seu atlantismo e moderar o seu eurocepticismo, garantindo que estará à altura do desafio. O próprio Partido Popular Europeu, o maior grupo parlamentar em Estrasburgo, começou por dizer que apoiava Antonio Tajani, presidente do Força Itália, provocando desconforto entre os parceiros da coligação liderada agora por Meloni.

Mas depois de o próprio Berlusconi ter garantindo que, tal como dizia Meloni, “quem ganha governa”, a regra que sempre regeu esta aliança, o PPE acabou por dar um sinal diferente. No último dia de Agosto, o seu presidente, Manfred Weber, reuniu-se em Roma com Berlusconi e Tajani numa operação ensaiada para assegurar o apoio do PPE à coligação que junta Meloni e a Liga, de Matteo Salvini. Questionado pelos jornalistas em Roma sobre esta cedência à extrema-direita, Weber repetiu apenas que não há graves contradições entre o programa político da coligação e a sua ideia de Europa.

Com a Europa tão presente nestas eleições, é Meloni quem mais se queixa do retrato que outros fazem dela, e que ela assegura não corresponder à verdade. Acusando o próprio Governo de permitir provocações contra a oposição (o seu partido é o único que não se juntou ao executivo de unidade nacional de Draghi, tornando-se a voz da oposição), a dirigente comentou o encontro de Letta com o SPD acusando-o de “estar a jogar com o envolvimento das potências internacionais”. Segundo Meloni, ao PD não lhe serve “o apoio dos italianos, pelo que prefere a protecção de alguns poderes estrangeiros”.

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