Centro-esquerda italiano à procura de uma aliança capaz de se bater com a direita

Enquanto à direita, a coligação é a mesma de sempre, à esquerda o risco é dispersar muito os votos, tornando a derrota ainda maior.

Foto
Enrico Letta, líder do PD, enfrenta escolhas difíceis Reuters/REMO CASILLI

Será a liderança do bloco da direita (mais extrema do que direita) suficiente para unir dirigentes desavindos, antigos aliados tornados rivais e vários ex-primeiros-ministros? Essa é a questão central do debate entre os vários líderes dos partidos de centro e de esquerda de Itália, agitando igualmente a discussão dentro do próprio Movimento 5 Estrelas, o partido anti-sistema fundado pelo comediante Beppe Grillo que foi o mais votado em 2018 – e governou aliado à extrema-direita e, depois, ao centro-esquerda do Partido Democrático.

Há mais de dois anos que Enrico Letta (líder do PD) tentava forjar uma aliança eleitoral que integrasse não só os grillini como uma série de outros pequenos grupos que se opõem à direita. Os planos de Letta tinham em conta o calendário que vigorava até à semana passada, e que previa a realização das próximas legislativas na Primavera de 2023.

Mas a queda do governo de Mario Draghi começou a ser desenhada pelo 5 Estrelas, o que afastou o PD e o movimento. No final, só o centro-esquerda se manteve ao lado de Draghi. “Estivemos do lado certo da história”, defendeu Letta, sublinhando que “os italianos vão escolher com base” nas opções que ditaram a antecipação das eleições.

O problema é que as sondagens não parecem influenciadas pela justiça das escolhas (mesmo se a maioria dos italianos se dissessem contra a antecipação das eleições). O PD até pode aproximar-se da votação do Irmãos de Itália, o partido pós-fascista de Giorgia Meloni que lidera todas as sondagens, mas de nada lhe valerá se não conseguir aliar-se a outros partidos.

Com uma lei eleitoral que mistura eleitos por listas uninominais e outros escolhidos por representação parlamentar, num sistema que beneficia partido integrados em listas (a ideia é evitar a diluição do apoio a cada família política), a coligação de direita parece destinada a esmagar nas urnas. Se Letta não formar uma grande coligação, por melhor que seja o resultado do PD, a aliança de direita pode eleger quase 60% dos lugares nas duas câmaras do Parlamento.

As relações do PD com o 5 Estrelas parecem impossíveis de sanar: é isso que têm dito os dirigentes do PD, enquanto Giuseppe Conte, líder do 5 Estrelas (e primeiro-ministro entre 2018 e Fevereiro de 2021), admite dialogar com a formação de Letta. Para além do corte provocado pela retirada de apoio a Draghi, a reaproximação entre os dois partidos tem pelo menos mais um obstáculo – Luigi Di Maio, ministro dos Negócios Estrangeiros (e ex-líder do 5 Estrelas), deixou os grillini para fundar o Juntos para o Futuro, agora um aliado óbvio do PD, que recusará qualquer aliança ao 5 Estrelas.

Outra união difícil, mas sobre a qual as lideranças já deixaram claro que caiu o tabu, é a do PD com o seu ex-líder Matteo Renzi (hoje à frente do partido Itália Viva). Com ou sem 5 Estrelas, alguns dos pequenos partidos de centro tentam agora fundar uma aliança ampla a que chamam grande Pacto Republicano, à imagem da Oliveira, que Romano Prodi forjou nos anos 1990. É uma corrida contra o tempo. A direita já está em campanha e Meloni já é candidata à chefia do Governo.

Sugerir correcção
Comentar