Delegação da direita radical da Alemanha anuncia visita ao Donbass

Responsáveis da Alternativa para a Alemanha querem deslocar-se até à região ucraniana cuja maior parte do território é ocupada pela Rússia

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Apoiante pró-russo numa manifestação de solidariedade com a Ucrânia, em Frankfurt ALEX KRAUS/Reuters

Uma delegação do partido nacionalista de direita radical Alternativa para a Alemanha (AfD) prepara-se para visitar o Leste da Ucrânia, anunciou um deputado de um parlamento regional, no mesmo dia em que foram anunciados pretensos referendos para uma adesão à Federação Russa por autoridades separatistas pró-russas.

A Alemanha tem uma grande comunidade de origem russa, uma das maiores diásporas com ligação à Rússia, com cerca de seis milhões de falantes de russo a viver no país. A AfD, apesar e ser anti-imigração, deve parte do seu sucesso ao apoio da comunidade: em 2017, o partido estimava que cerca de um terço do seu apoio vinha de falantes de russo; um estudo recente tinha números mais baixos, mas ainda assim mostrava um apoio à AfD entre os “alemães de origem soviética ou pós-soviética” maior do que a média nacional.

Parte do sucesso da AfD entre a população que fala russo foi a presença dos canais de propaganda russa Russia Today (RT) ou Sputnik, cujas emissões foram entretanto suspensas na União Europeia.

Após a invasão da Ucrânia, algumas pessoas da comunidade desfilaram por cidades alemãs com bandeiras russas ou o símbolo Z em apoio à ofensiva russa. Por outro lado, há relatos de discriminação das pessoas de origem russa por causa da agressão de Moscovo contra a Ucrânia (embora também haja histórias inventadas, sublinhava a revista britânica The Economist).

Um dos políticos da AfD que integra a delegação que quer visitar o Leste da Ucrânia ocupado pela Rússia, Hans-Thomas Tillschneider, do parlamento regional da Saxónia-Anhalt (cuja capital é Magdeburgo), explicou a visita no Twitter: “tendo em conta o quadro distorcido e parcial do conflito na Ucrânia” que consideram ser dado pelos meios de comunicação, querem “ver com os próprios olhos e tirar conclusões sobre a situação humanitária”.

Apesar da razão para a visita ter, segundo vários analistas, mais a ver com questões de política interna, a presença dos políticos alemães deverá ser usada pela Rússia para fortalecer as alegações, que tem feito sem apresentar provas, de que a população de Lugansk e Donetsk são perseguidas pelo Governo ucraniano.

As regiões são, desde 2014, governadas por autoridades separatistas pró-russas que se autoproclamaram “repúblicas populares” – e que agora pretendem levar a cabo pretensos referendos para se juntarem formalmente à Rússia.

A AfD condenou oficialmente a guerra na Ucrânia, mas tem defendido várias afirmações e propostas da Rússia, como por exemplo a abertura do Nord Stream 2, um gasoduto, que estava já concluído, mas que Berlim recusou a inicial logo que se tornou evidente que a Rússia ia mesmo invadir a Ucrânia.

O gasoduto inactivo corre paralelo a um gasoduto já existente, o Nord Stream 1, através do qual neste momento a estatal russa Gazprom não está a fornecer qualquer gás à Alemanha. A Rússia invocou questões técnicas, sugerindo a abertura do segundo gasoduto, o que está totalmente fora de questão para o Governo alemão. Berlim diz que a razão para a interrupção no fornecimento é política e uma arma de chantagem usada pela Rússia.

Esta anunciada visita a regiões ocupadas da Ucrânia não será a primeira ida de responsáveis da AfD a territórios com estatuto disputado: em 2018, vários altos responsáveis do partido estiveram na Crimeia, região anexada pela Rússia em 2014 após um pretenso referendo – como os que agora estão a ser apressadamente anunciados para várias regiões ucranianas sob controlo parcial ou maioritário da Rússia, incluindo as autoproclamadas “repúblicas populares” de Donetsk e Lugansk.

Os alemães não foram os únicos a fazê-lo. Também vários políticos franceses visitaram a Crimeia depois de 2014, com duas visitas de políticos não só da extrema-direita mas também conservadores. Uma delas liderada por Thierry Mariani, então do partido conservador Os Republicados (e hoje da União Nacional, de Marine Le Pen), que em 2016 assistiu mesmo à celebração de uma exibição da Frota do Mar Negro em Sevastopol.

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