Bolsonaro chama “ladrão” a Lula, mas nega ter ido a Londres para fazer política

Na capital britânica para assistir ao funeral de Isabel II, Presidente brasileiro discursou para um grupo de apoiantes em frente à residência oficial do embaixador no Reino Unido.

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Bolsonaro foi um dos convidados protocolares para o funeral de Isabel II Reuters/POOL

Em Londres para o funeral da rainha Isabel II, realizado nesta segunda-feira com a presença de vários líderes mundiais, o Presidente Jair Bolsonaro voltou a chamar “ladrão” a Luiz Inácio Lula da Silva, seu principal adversário nas eleições de Outubro. Irritou-se, porém, ao ser questionado se foi ao Reino Unido fazer política.

Bolsonaro foi criticado por adversários e pela imprensa britânica após realizar no domingo um acto em tom eleitoral com apoiantes em frente à casa do embaixador brasileiro no Reino Unido, Fred Arruda, ocasião em que também chamou ladrão ao “petista”.

“Vocês acham que eu vim para cá fazer política? Não vou responder. Faz uma pergunta decente. Se eu não viesse, estaria sendo criticado”, declarou o Presidente, quando saía em direcção à cerimónia de funeral.

Ele voltou a conversar com dezenas de apoiantes que o aguardavam. “Vocês têm alguma dúvida de que o Brasil é a terra prometida? Porquê insistir em colocar um ladrão de volta na Presidência?”, perguntou, em referência à candidatura de Lula.

Bolsonaro também voltou a criticar o Supremo Tribunal Federal (STF). Questionado sobre o ritual de despedida da rainha, disse que “todos, sem excepção, terão um ponto final”. E emendou: “O julgamento vai ser por suas acções e omissões; todos os que se omitiram quando puderam ajudar vão ter o seu veredicto.”

“Lá não tem gente como alguns do Supremo para ‘descondenar’ uma pessoa e torná-la elegível”, seguiu, referindo-se à mudança de jurisprudência do STF que permitiu a libertação de Lula em 2019 e à permissão do tribunal para que o “petista” pudesse concorrer às eleições.

Ele ainda citou a reportagem do portal UOL que revelou que ele e sua família compraram 51 imóveis em dinheiro. “A questão dos imóveis – canalhice! Pegaram parentes meus que têm vida própria. Covardia. Três anos e meio sem corrupção no meu Governo.”

O Presidente participou na cerimónia em homenagem à rainha, na Abadia de Westminster, e num almoço com a chancelaria do Reino Unido. No regresso para a residência do embaixador brasileiro, houve um episódio de conflito entre apoiantes e um único homem que gritou palavras contrárias a Bolsonaro.

Após ele gritar “mito é Jesus!”, apoiantes do Presidente começaram a gritar, em resposta, frases como “vai trabalhar, ‘petista’ ladrão!”, “vai para Cuba, para a Venezuela que é o seu lugar!”.

A multidão cercou-o, e um inglês que estava de passagem foi ao seu socorro e disse que, por estar no Reino Unido, o rapaz tinha todo o direito de protestar sem se sentir ameaçado pelos outros. O inglês, o aposentado Harvey, que não quis dar o nome de família, então se tornou alvo dos bolsonaristas, que lhe perguntaram se já tinha ido ao Brasil e até lhe disseram que ele fosse para casa.

Ao lado, tirando fotos, estavam o pastor evangélico Silas Malafaia e o deputado federal Eduardo Bolsonaro, parte da comitiva. Além deles, o Presidente viajou acompanhado da primeira-dama, Michelle, e do padre Paulo Antônio de Araújo. Fabio Wajngarten, ex-secretário de Comunicação da Presidência e coordenador da campanha bolsonarista, também esteve com o Presidente em encontros com apoiantes.

Bolsonaro também usou a viagem para fazer campanha sobre o preço da gasolina, ao visitar um posto londrino e comparar o preço do combustível com o encontrado no Brasil.

As campanhas de Lula e de Soraya Thronicke (União Brasil) recorreram ao Tribunal Superior Eleitoral para que Bolsonaro seja impedido de explorar eleitoralmente as imagens produzidas durante a viagem oficial a Londres. A manifestação do “petista” reivindica que seja aplicada multa de 25 mil reais ao Presidente.

Na tentativa de desenhar um cenário de apoio popular a apenas duas semanas das eleições, o filho do Presidente tem disseminado nas redes sociais imagens com apoiantes que vivem na capital britânica.

Nesta segunda, publicou uma imagem com pessoas vestindo as cores da bandeira do Brasil perto da casa do embaixador. “Uma multidão esperando o Presidente vir à terra da rainha e aquela maravilhosa imprensa me fazendo perguntas para desvirtuar do momento”, escreveu.

Do Reino Unido, o Presidente parte para Nova Iorque, onde participa na Assembleia Geral da ONU e faz o discurso de abertura, numa viagem com risco político calculado.

Exclusivo PÚBLICO/Folha de S. Paulo

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