A rã e o escorpião

Lamentavelmente para António Costa é mais importante o poder dos mercados financeiros, sem qualquer escrutínio, do que as aspirações legítimas dos seus eleitores.

No tempo em que os animais falavam aconteciam coisas extraordinárias como aquela em que um escorpião pediu à rã para atravessar o rio nas suas costas e, como se sabe, contou mais tarde o escorpião muito falador, acabou por picá-la. "C'est la vie”, dir-se-á em tempos de salve-se quem puder, coitadinhos dos que não têm ferrão.

António Costa em 2015 alegou que era necessário um tempo novo. Durante o seu primeiro governo não se pode, em abono da verdade, falar de um tempo novo, mas foi possível vislumbrar o que seria um tempo novo, ou seja, um tempo diferente daquele PS/PSD/CDS nos habituaram, um tempo de repartição de sinecuras entre os destinatários da governança e de apoio à gente do dinheiro que se declaram a favor de um Estado mínimo, mas com o máximo de apoios públicos aos seus empreendimentos.

Um tempo novo seria o de atenção para com os mais desfavorecidos, de lisura, de transparência, de honradez em vez de cupidez e corrupção, de palavra respeitada face à palavra dada. Como se sabe, esse tempo anunciado finou; outro veio em que a estabilidade era o tudo para permitir a Costa prosseguir o caminho da bazuca.

Não é preciso os animais falarem para dar conta que a maioria absoluta traz cada dia novas instabilidades e o regresso à pior matriz do PS a mandar “nisto tudo” e sem travões na AR. O PS do tempo velho está de regresso, até na Saúde.

O empobrecimento dos portugueses levado a cabo por Passos/Portas/Montenegro quando formaram governo volta ao quotidiano dos portugueses que vivem muito pior desde que o PS passou a governar só.

Agora com a bênção de Marcelo e o seu elogio ao líder do PSD que ele quer ver a primeiro-ministro, segundo a revelação na famosa viagem a caminho de Viseu ao volante e sem azinheiras para configurar uma revelação quase divina.

As medidas anunciadas com toda a pompa a fim de enganar os papalvos vão exatamente em sentido contrário ao anunciado. Em outubro, os portugueses receberão mais 125 euros e a partir daquela data é só empobrecer, pois até a palavra dada é desrespeitada e não haverá a atualização das pensões de acordo com a taxa de inflação.

Lampeiro Marcelo o que disse? Que estava bem, mas que podia não estar e quem tinha estado bem era o líder do PSD, que também acha que sim, mas que não, devido às duas caras do feijão careto ou frade, conforme as terras.

Sempre que o PS governa em maioria absoluta ou similar as questões essenciais como o Ensino e Educação, Saúde, Segurança Social e Justiça esbarram com interesses privados que encontram na direção do PS uma tendência para lhes satisfazer os apetites, em claro contraste com a tendência para tornar a vida dos que vivem do rendimento do trabalho mais difícil. Até hoje foi sempre assim, salvo quando houve a “geringonça”.

O PS fechou-se ao clamor dos trabalhadores dos mais diversos ramos da produção tanto material como espiritual. Segue o tempo velho que levou ao desastre o Partido Trabalhista no Reino Unido e o PS francês e os PPSS da Internacional Socialista.

Lamentavelmente para António Costa é mais importante o poder dos mercados financeiros, sem qualquer escrutínio, do que as aspirações legítimas dos seus eleitores, originando cá, como em toda a Europa, a mesma política do garrote, a crise de distanciamento das populações das instituições que na sua lógica os esmagam com uma vida cada vez mais difícil, num país onde mais de um terço da população é pobre e os muito ricos cada vez mais ricos. Este é o programa dos social-democratas ou dos liberais?

Os entusiastas da desregulamentação do mercado energético na U.E. (comandados à distância por certos interesses dos EUA) obrigam os povos da União a sacrifícios brutais em contraste com os lucros sem medida das empresas que dominam o mercado. Nem aqui o PS assume a coragem de taxar lucros desmedidos.

No vértice do Estado à vista desarmado tudo parece beijinhos e abracinhos, pois. Claro porque agora os animais falam muito pouco, mesmo nada, estão sem língua. Se falassem contariam a história de um líder do PS que era primeiro-ministro e que por mero acaso se encontrou na Autoeuropa com o Marcelo que estava hesitante se havia de se candidatar a Presidente da República e dizem os sapos que assistiram que ficou combinado o PS levar às costas Marcelo ao altar de Belém. O resto perguntem ao escorpião, se ele falar.

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