Em Tóquio há uma correria para um café cheio de Stranger Things

Ambienta-se na série da Netflix, tem banda sonora 1980s à medida. Eis o café de Tóquio onde o menu está orgulhosamente repleto de coisas estranhas. Massas, waffles, coisas com cabeça de monstro... venha o fã de Stranger Things e escolha.

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Entra no Stranger Pronto dr

Os fãs japoneses da série de culto do momento, Stranger Things, já podem comer pastas demoníacas e eggos enquanto são embalados pela banda sonora retro – ela própria um achado que continua a devolver, vide Spotify, pérolas ao mundo da produção que embala a Netflix.

O espaço, uma parceria com a cadeia de restaurantes local Pronto Corp, expandiu-se recentemente no bairro mais cool de Tóquio, Shibuya, devido à explosão de procura pelo ambiente Stranger Things, que, como em todo o mundo, é um sucesso desde a primeira temporada no Japão. A estreia da quarta temporada, em Maio, não só provocou uma enchente ao streaming da vacilante plataforma de séries e filmes, como um fluxo permanente de enchentes ao café.

No seu interior replicam-se os cenários de lojas e cenas da série, que se passa na ficcional cidade de Hawkins, Indiana (EUA). Naturalmente, também se promete uma visita ao submundo-espelho a que na série os protagonistas chamam Upside Down.

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Stranger Pronto Pronto Corp

Os clientes podem tirar selfies junto ao monstro-estrela de Stranger Things, o Demogorgon, enquanto experimentam a euforia lírica galopante que os fãs de Kate Bush sentem já desde 1985, data em que foi lançada a canção Running up that hill (incluída no tratado pop & etc. que é o álbum Hounds of Love). Uma canção que a série, ao incluí-la na sua banda sonora, conseguiu, quase quatro décadas depois, catapultar para fama à séc. XXI e pelo caminho para n.º 1 dos tops do mundo.

E que temos no menu? Nada de estranho, na verdade, dependendo dos gostos: massa com tinta de choco, empratada como a cabeça do monstro; ou os Eggos, waffles pelos quais Eleven, a protagonista com poderes psíquicos, anseia, e anseia, e anseia...

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Um menu Stranger Things no Stranger Pronto Pronto Corp

Devido às restrições da covid-19, o café das coisas estranhas só aceita vinte fregueses de cada vez e é obrigatória a reserva. Não vale a pena ir a correr, a não ser que cumpra os estritos critérios que o Japão, que ainda não abriu por completo ao turismo, impõe para viagens: uma delas passa pela obrigação de estar com viagem reservada em grupo e agência oficial aceite pelo Governo japonês, nada de viajantes solitários e por sua conta de mochila às costas.

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Stranger Pronto Pronto Corp

Para mais, como seria de esperar, conseguir um dos poucos lugares para ir a este café é tarefa só para os verdadeiros nerds, para os verdadeiros fãs: “Todos os dias à meia-noite tento reservar uma mesa no telemóvel”, diz à Reuters Kimiko Nakae, de 29 anos. “Finalmente”, sublinha, vai conseguir ir, mas, informa, só porque “alguém cancelou a sua reserva” de repente.

O surgimento deste café temático em Tóquio não estranha a ninguém: poucas cidades do mundo terão tantos cafés, restaurantes, bares, com todos os temas deste mundo e do outro. De sítios onde tudo é ninja ou samurai, de ambiente energizado com animais exóticos ou revitalizado com cozinha inspirada em vampiros, numa casa-Kurosawa, há de tudo... Sem esquecer os célebres spots manga ou os cafés-fantasia onde tudo é fofinho, anime, feito de nuvens de algodão, corações rosa e canções infantis, muitos deles com empregadas vestidas de colegiais...

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Stranger Pronto Pronto Corp
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A pandemia e os confinamentos (e o longo confinamento nacional ainda por acabar por completo) também têm causado mossa nestes espaços onde os turistas contam muito, mas o social doméstico é tudo (afinal, é para se escaparem da solidão do escritório e do domicílio que a eles recorrem os japoneses): no mês passado, uma das mais “exóticas” e célebres cadeias de restaurantes do país, a Lockup (nem de propósito), encerrou todos os seus espaços onde se comia em salas-celas - isso mesmo, era todo ele uma espécie de prisão. E isto que já estava no activo a prender clientes às mesas há 23 anos.

Antes de o Lockup ser encerrado, já Tóquio tinha perdido outros ícones da imaginação, como o mundialmente célebre Robot Restaurant, no bairro das luzes-vermelhas e muito show off (e on) de Kabukicho. Era um íman para turistas e para locais à procura da união de comes e bebes com o prazer do caos absoluto, em palco e não só, de um espectáculo feito de batidas a ritmo sideral, gigantescos robots, dançarinos a respirar adrenalina. Melhor dizendo, como uma testemunha fiável escreveu na Fugas um dia, “uma histeria trash, kitsch, maluca”, em resumo: “o melhor pior espectáculo do mundo”. A loucura foi electrocutada pela covid-19 em 2020 e no seu site lê-se, sem grande esperança de um renascimento robótico, a prova de que a SARS-CoV-2 até dá cabo de robots com nomes parecidos: “temporariamente encerrado pelo coronavírus”. Coisas estranhas.

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