Reciclagem trocada por miúdos, num jogo de tabuleiro gigante

A Sociedade Ponto Verde trouxe até à praia de Matosinhos o Recicla Mania, jogo que tem percorrido o país e visa ensinar aos mais novos noções básicas de reciclagem. Na próxima semana, o jogo vai estar na Póvoa de Varzim e depois descerá até ao Algarve, a Monte Gordo e Quarteira.

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Crianças respondem a questões sobre reciclagem em jogo didáctico na praia de Matosinhos ADRIANO MIRANDA

O pequeno Yuri foi o primeiro do seu grupo a lançar o dado gigante. Após ver que estava autorizado a avançar quatro casas, teve de responder a uma questão sobre reciclagem. “Em que ecoponto deves pôr uma garrafa de plástico?”, perguntou a “árbitra” do jogo. Hesitante, a criança respondeu: “Azul.” Tivesse pensado na cor do Sol, que esta quinta-feira demorou a fintar o nevoeiro matinal no Grande Porto, e teria acertado. Mas errou, pelo que começou a partida logo em desvantagem. Era, porém, irrelevante saber quem acabava em primeiro. O objectivo era os jovens divertirem-se — e, pelo meio, aprenderem uma coisa ou duas sobre separação de resíduos.

Nesta quinta-feira de manhã, cerca de 160 crianças jogaram, na praia de Matosinhos, um jogo de tabuleiro gigante, em que os peões eram elas próprias. Para progredir, tinham de responder acertadamente a diferentes questões sobre reciclagem. A iniciativa pedagógica, intitulada Recicla Mania, foi organizada pela Sociedade Ponto Verde (SPV), que tem passado o mês de Julho a percorrer várias praias do país com este jogo. O pontapé de saída foi dado no dia 4, na praia de Carcavelos. Cascais, Oeiras e Costa da Caparica foram as paragens seguintes. Deixando a Área Metropolitana de Lisboa e subindo progressivamente no mapa, a SPV chegaria a Nazaré, às Caldas da Rainha e a Ílhavo. Agora, está no Grande Porto.​

"Tabuleiro" gigante do Recicla Mania, da Sociedade Ponto Verde ADRIANO MIRANDA
Criança brinca na areia enquanto espera que chegue a sua vez de lançar o dado ADRIANO MIRANDA
Gonçalo Monteiro, jovem que no terreno tem sido um monitor, ajudando à concretização do jogo, explica as regras do jogo a um grupo ADRIANO MIRANDA
Jovens preparam-se para dar início a uma "partida" ADRIANO MIRANDA
Recicla Mania dura até à próxima sexta-feira, dia em que estará em Loulé ADRIANO MIRANDA
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"Tabuleiro" gigante do Recicla Mania, da Sociedade Ponto Verde ADRIANO MIRANDA

“O Recicla Mania é nossa acção pedagógica de Verão deste ano. Trata-se de um jogo que ajuda a clarificar, junto dos mais novos, dúvidas e mitos que possam existir acerca da reciclagem de embalagens”, explica ao PÚBLICO Adriana Afonso, da SPV — que, no terreno, está a contar com o apoio de (pelo menos) dois parceiros importantes. Gonçalo Monteiro e Mariana Ferreira, dois jovens que não trabalham directamente na SPV (Gonçalo trabalha na Greenmovement, empresa que está a auxiliar a SPV na execução do jogo, e Mariana terminou recentemente a licenciatura em Jornalismo, estando agora à procura de colocação profissional), chegam todas as manhãs à praia e, antes das 9h, montam as lonas (os “tabuleiros”). Depois, tentam avistar crianças que, estando inscritas em colónias de férias, estejam a aproveitar o tempo solarengo para usufruir da areia e do mar.

Gonçalo Monteiro e Mariana Ferreira (e, ainda, um colaborador ou uma colaboradora local) conversam sobre o jogo com os educadores que estejam a tomar conta daquelas crianças. O que tende a acontecer é o seguinte: dez minutos depois dessa abordagem inicial, grupos de crianças, devidamente acompanhadas, começam a caminhar em direcção à zona do jogo. E a bola de neve simplesmente vai crescendo a partir daí.

Crianças, importantes “agentes de sensibilização”

Segundo as contas da SPV, o Recicla Mania já foi jogado por cerca de duas mil crianças. Os participantes em Matosinhos foram quase 160. As mais jovens dessas quase 160 crianças (jovens de seis a sete anos de idade) deram respostas que apanharam desprevenidas as responsáveis que as tinham ao seu cuidado. Por exemplo, a educadora Sandra Ribeiro queria ver se o pequeno Rodrigo (os apelidos das crianças não se divulgam aqui por questões de privacidade) era capaz de dizer em que ecoponto deve ser colocado um frasco de compota. Mas não usou a palavra “ecoponto” na sua questão. Simplesmente perguntou: “Onde é que se coloca o frasco da compota?” A resposta do jovem: “Na geladeira.” “E o amaciador coloca-se na despensa”, acrescentaria.​

Noutro jogo, com outros participantes, a pequena Leonor fazia um brilharete. A auxiliar de educação Noémia Lopes não demorou a reparar que a criança de seis anos era, aparentemente, uma especialista em questões de reciclagem. Procedeu a elogiá-la: “Muito bem, Leonor! Temos aqui uma menina do ambiente. Estás atenta na sala [de aula] e ouves tudo, sabes responder a tudo. Os outros também saberiam se não estivessem sempre na brincadeira.” O comentário semeou polémica, irritando (apenas por dois segundos) os colegas da “menina do ambiente”.

Esta quinta-feira, o Recicla Mania foi jogado tanto por crianças mais jovens, com apenas seis anos, como por crianças que já estão no terceiro ano de escolaridade. Para essas últimas, as perguntas foram, naturalmente, um nadinha mais exigentes. Mia começou por se revelar imune a armadilhas. A dada altura, foi-lhe mostrada uma imagem de uma garrafa de água (de plástico) sobre um fundo azul. “Onde coloco este objecto?”, perguntou-lhe Mário Silva, professor e, por estes dias, um dos monitores da colónia de férias em que a criança está inscrita. A rasteira cromática não enganou Mia, que confiantemente deu a resposta certa: “Amarelo.”​

Mas houve uma questão que pôs a jovem (e não só) a pensar. Mário Silva pediu-lhe para ordenar os “3 R” (reciclar, reduzir e reutilizar) do mais importante para o menos. A jovem “bloqueou” a resposta A, em que a ordem era a seguinte: reutilizar, reduzir e reciclar. “Por mim, estaria certo. Mas parece que é a opção C”, disse o professor, que admitiu também não saber que a ordem correcta é reduzir, reutilizar e reciclar.

Adriana Afonso afirma que, no que diz respeito à divulgação da iniciativa, o Recicla Mania tem sido um sucesso. “Os educadores das colónias de férias dizem-nos que as crianças (e inclusivamente os próprios educadores) passam a palavra, dizem que o jogo vai estar no dia ‘x’ na praia ‘y’”, conta, antes de destacar a importância que iniciativas pedagógicas como esta podem ter. “Costumamos dizer que as crianças são agentes de sensibilização muito importantes. Acabam por depois, em casa, sensibilizar e influenciar os mais velhos.”​

Depois de, esta sexta-feira, ter levado o jogo até à praia de Leça da Palmeira, no dia 25 (próxima segunda-feira) a SPV ocupa a Praia dos Beijinhos, na Póvoa de Varzim, encerrando a sua estadia no Norte. Nos dias 26 (terça-feira) e 28 (quinta-feira), o “palco” será a Praia de Monte Gordo, concelho de Vila Real de Santo António. A 27 (quarta-feira) e também 29 (sexta-feira), o último dia, joga-se na Praia da Quarteira, concelho de Loulé.

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