Mito: não vale a pena separar o lixo porque depois tudo é misturado

A “ideia errada” deve-se ao facto de os materiais recicláveis serem recolhidos pelo mesmo camião – só que ele possui dois compartimentos para manter os resíduos separados.

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Nelson Garrido

Um dos mitos mais persistentes sobre reciclagem é o de que não vale a pena investir na separação do lixo porque, depois, tudo acaba misturado. Entidades que gerem, tratam e valorizam resíduos em Portugal atribuem esta “ideia errada” ao facto de parte da recolha ser feita pelo mesmo camião. O que as pessoas que propagam esta desinformação ignoram é que, na verdade, os veículos responsáveis pela recolha selectiva têm dois compartimentos. A existência de duas divisões permite apanhar, numa só volta, mais de um tipo de material depositado em ecopontos de cores diferentes.

“Há sistemas que fazem a recolha de dois recicláveis ao mesmo tempo – papel ou cartão e embalagens, por exemplo –, uma vez que recorrem a um veículo bipartido. Por haver um só camião a recolher materiais diferentes, muitas pessoas ficavam com a impressão de que tudo acabava misturado. Não é verdade”, afirma Susana Fonseca, membro da associação Zero.

O sítio electrónico da Lipor – a entidade que cuida dos resíduos do Grande Porto – refere a existência de uma outra “ideia errada”. Há o equívoco de que os materiais recicláveis são misturados com o lixo comum, ou seja, os resíduos indiferenciados que são depositados nos contentores verdes ou ecopontos subterrâneos (também conhecidos como “molocks”).

Uma explicação possível para esta percepção errónea é o facto de a estrutura das viaturas que recolhem materiais recicláveis em ecopontos ser muito diferente da daquelas que esvaziam os contentores verdes de quatro rodas. Os veículos que esvaziam ecopontos coloridos possuem uma grua, ao passo que os camiões responsáveis por recolher o conteúdo dos caixotes verdes têm um sistema de compactação traseira. Um modelo não está desenhado nem preparado para fazer o trabalho do outro. Como os contentores subterrâneos com resíduos indiferenciados também são esvaziados por gruas, talvez a coincidência no método de recolha reforce a “ideia errada” de que os recicláveis acabam misturados ao lixo comum.

A ambientalista Susana Fonseca acrescenta que as redes sociais vieram amplificar a desinformação sobre reciclagem, viralizando imagens descontextualizadas ou de situações excepcionais. “Houve um vídeo recente de um veículo que recolhia ecopontos de forma indiferenciada. A Zero contactou a Câmara de Lisboa e foi-nos explicado que esta situação excepcional se deveu ao facto de a carga estar muito contaminada”, afirma. “A Zero defende que isto não seja feito, para manter, pelo menos, a relação de confiança com a comunidade”, recomenda.

A Lipor assegura que todos os materiais recicláveis colectados em ecopontos (tanto os que estão na via pública como os subterrâneos) seguem para os centros de triagem em viaturas e circuitos próprios. Já os resíduos indiferenciados são encaminhados para a central de valorização energética. “Asseguramos que os materiais recicláveis que são entregues nos ecopontos têm um destino adequado e não são misturados na mesma viatura de recolha dos resíduos indiferenciados”, pode ler-se no campo de perguntas frequentes da entidade.

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