Varíola-dos-macacos: em Portugal a vacinação será só para contactos de risco

Direcção-Geral da Saúde lançou esta terça-feira a norma técnica de vacinação contra a varíola-dos-macacos. Após dois meses de espera, foi decidido que em Portugal os profissionais de saúde e técnicos de diagnóstico não serão, para já, incluídos.

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Portugal recebeu 2700 doses da vacina contra a varíola Reuters/CHRISTINNE MUSCHI

Apenas os contactos de risco vão ser vacinados contra a varíola-dos-macacos. A Direcção-Geral da Saúde publicou esta terça-feira a norma técnica de vacinação onde não se inclui a vacinação preventiva de profissionais de saúde e técnicos de diagnóstico, ao contrário da recomendação da Organização Mundial da Saúde (OMS).

Existem vários tipos de contactos considerados de risco. O conceito abrange o contacto físico directo com uma pessoa infectada (toque ou relações sexuais, por exemplo), a coabitação, a exposição a materiais contaminados (como toalhas, objectos ou roupa), e ainda qualquer contacto com as lesões provocadas pelo vírus.

“Idealmente, a vacinação deve ser realizada nos primeiros quatro dias após o último contacto próximo com um caso, podendo esse período ir até 14 dias se a pessoa se mantiver sem sintomas”, indica a DGS em comunicado.

A nova norma prevê que perante um caso confirmado ou suspeito de infecção sejam identificados os contactos de risco (com contacto próximo) pelo médico ou pela autoridade de saúde. As doses de vacinação serão distribuídas agora pelas autoridades regionais de saúde, que também terão responsabilidades no processo de administração. A DGS adianta ainda que a vacinação começará assim que forem identificados mais casos próximos e depois de os profissionais de saúde se inteirarem do processo.

Há quase dois meses que a norma técnica de vacinação se encontra em preparação. Mais concretamente, desde 23 de Maio que foi anunciada que a estratégia de vacinação estava a ser estudada pela Comissão Técnica de Vacinação, pelo Infarmed e pelo Programa Nacional de Vacinação. Ao contrário dos países com mais casos diagnosticados, como Espanha, Alemanha ou França, a DGS optou por publicar as orientações apenas após a chegada das vacinas, que foram recebidas em Portugal durante a semana passada.

Portugal recebeu 2700 das mais de 110 mil doses contratualizadas pela Comissão Europeia com a fabricante da vacina de terceira geração, a Imvanex – aprovada para varíola humana e que mostra eficácia também para o VMPX, de acordo com a Agência Europeia do Medicamento. Nos Estados Unidos, a Imvanex (que nesse país recebe o nome de Jynneos) está aprovada também para o uso contra o VMPX. O primeiro país a receber as vacinas foi a Espanha, que recebeu 5300 doses que já começaram a ser administradas.

Esta vacina tem uma vantagem em relação a outras gerações de vacinas contra a varíola – daí ser cunhada de vacina de terceira geração. A Imvanex tem uma forma modificada do vírus, mas que não causa doença nos humanos e não se consegue reproduzir nas células humanas. Mas, devido à sua parecença com o vírus da varíola, prevê-se que os anticorpos produzidos contra esse vírus também possam dar protecção contra o VMPX.

Existem já quase 9500 casos confirmados de varíola-dos-macacos (monkeypox ou VMPX) em todo o mundo. No total são mais de 50 países onde o vírus não está habitualmente presente e que contam com pessoas infectadas no seu território. Espanha lidera mesmo, sendo o único país até esta terça-feira com mais de 2000 casos. Além de Espanha, também Alemanha (1556) e Reino Unido mil infectados desde o início deste surto. Portugal soma 473 casos confirmados, de acordo com os dados divulgados na última sexta-feira pela DGS.

O que recomendou a OMS?

Em Junho, a Organização Mundial da Saúde (OMS) já tinha avançado com uma orientação provisória para a vacinação contra a VMPX. As recomendações excluem a opção de vacinar toda a população, sendo recomendada a vacinação de contactos de risco, profissionais de saúde e técnicos de diagnóstico.

A OMS recomenda, no entanto, a administração de doses de vacinas de segunda ou terceira geração a contactos de casos confirmados ou suspeitos, bem como a vacinação preventiva de profissionais de saúde e técnicos de diagnóstico.

A 30 de Junho, o director-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus anunciou que irá marcar uma nova reunião do Comité de Emergência para avaliar a potencial declaração de emergência internacional de saúde pública. A reunião deverá ser agendada para a próxima semana. Se o surto actual de varíola-dos-macacos for considerado uma emergência internacional, as medidas serão sobretudo de carácter simbólico, permitindo reforçar o alarme e a necessidade de vigilância dos estados-membros da OMS.

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