Portugal e Califórnia vão aprender um com o outro a combater e prevenir incêndios

Protocolo para a partilha de conhecimentos técnicos e formação de recursos humanos baseia-se na semelhança climática e dos riscos dos dois territórios.

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Limpeza de uma área no Parque Yosemite, na Califórnia, para travar um incêndio que avança na zona Reuters/NATIONAL PARK SERVICE

Portugal e a Califórnia, um estado norte-americano que muito sofre com a seca e os incêndios florestais, estão ligados por um protocolo de troca de conhecimentos técnicos e formação que poderá contribuir para a formação dos portugueses em sistemas de formação e controlo, ou utilização das aeronaves como forma de monitorização de incêndios, explicou João Verde, adjunto para as políticas de gestão integrada Agência para a Gestão Integrada de Fogos Rurais (Agif). Mas servirá também para levar para a Califórnia a experiência portuguesa do recurso a animais de pasto – como cabras e cavalos para comer os matos que servem de combustível aos fogos florestais, por exemplo.

“O Departamento de Florestas e Protecção Contra Incêndios da Califórnia (Cal Fire) está muito interessado, por exemplo, no uso do fogo para a renovação de pastagens. Eles têm consciência de que Portugal tem mais prática do uso do fogo nessa matéria do que eles. Portanto, querem muito aprender connosco”, exemplificou João Verde, adjunto para as políticas de gestão integrada da Agif.

“A nós interessa-nos muito o que são as práticas de gestão de combustível e a utilização das aeronaves como forma de acompanhamento, de monitorização de incêndios, de apoio à supressão do fogo, mas também a formação para sistemas de comando e controlo. São matérias muito interessantes que a Califórnia nos pode mostrar como faz e que poderemos adaptar à nossa realidade”, disse João Verde.

O protocolo assinado entre a Agif e o Cal Fire em Abril justifica-se pelas semelhanças entre os dois territórios, explica João Verde. “O nosso país e o estado da Califórnia têm desafios muito similares, quer no que respeita à paisagem, à forma como a população está dispersa e nos incêndios, bem como ao tipo de meteorologia que muitas vezes enfrentam”, com períodos de seca prolongada, ondas de calor e ventos fortes.

Por ora o que existe é a ainda apenas o acordo institucional. Agora, falta “gerar um plano de trabalho técnico com calendário definido”, que pode incluir o envio de portugueses para formação nos Estados Unidos, refere o responsável da Agif.

As entidades do Sistema de Gestão Integrada de Fogos Rurais, como o Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas, a Protecção Civil, a Polícia Judiciária, o Instituto Português do Mar e da Atmosfera, entre outras, passarão a poder aceder e a partilhar conhecimentos na área da gestão das florestas com entidades californianas, como o Centro de Despacho e de Gestão de Resposta às Emergências (Cal OES), o Departamento para as Alterações Climáticas da Califórnia, ou o Departamento de Agricultura estadual.

Efeitos a longo prazo

Este protocolo poderá dar frutos já neste Verão? “A participação de qualquer entidade internacional em ocorrências neste Verão, ou qualquer outro Verão, tem sempre implicações sérias de segurança, portanto não podem acontecer com a brevidade que se gostaria. Estamos a desenhar o plano de trabalho, mas estas são acções de fundo, para os próximos anos”, afirma João Verde. “Não julgo prudente entender que os intercâmbios de recursos humanos, podendo acontecer este ano, ocorram nas próximas duas, três semanas. Não vejo isso como provável”, adiantou.

O objectivo é que estas duas entidades, o Cal Fire e a Agif, estabeleçam as pontes para “as melhores práticas de comunicação, de investigação, de utilização da tecnologia e partilha de avanços em formação, de conhecimento técnico em domínios variados, como sistemas de informação geográfica, estratégias de comunicação de risco com a população para comunicação de risco, definição de cenários de risco, simulação de incêndios rurais”, sublinha João verde.

Aposta na prevenção

A prevenção de incêndios será também uma área privilegiada de colaboração: “Planeamento das intervenções que se fazem na gestão do combustível, aquilo que se entende por limpar o terreno, interpretação dos parâmetros meteorológicos, os sistemas de comando e controlo”, adianta.

Pode ainda haver partilha de recursos humanos para o combate ao fogo, além de formação e partilha técnica ao nível de áreas específicas como o uso dos meios aéreos: “Não só enquanto instrumento para a vigilância, mas também como forma de levar as equipas (helitransportadas) para os incêndios”, disse João Verde. Há intenção de partilhar experiências ao nível do uso das ferramentas manuais, em vez do uso da água, como forma de apagar os incêndios, e uso do fogo controlado.

Não é inédito haver protocolos internacionais na área dos incêndios florestais. Já houve um protocolo de cooperação internacional assinado com o Chile, em 2018/2019. “Mas com características, com esta abrangência, e com este potencial de cooperação, eu diria que é este o primeiro grande protocolo que a agência fechou”, destaca João Verde.

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