Bancos centrais reunidos em Sintra assumem combate à inflação

Líderes do Banco Central Europeu, da Reserva Federal e do Banco de Inglaterra reforçaram em Sintra, no último dia do Fórum do BCE, a sua promessa de tomar todas as medidas necessárias para controlar a taxa de inflação.

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Christine Lagarde e Jerome Powell no Forum do BCE, que decorreu em Sintra Reuters/European Central Bank

Em sintonia e de forma mais clara do que acontecia há apenas algumas semanas, os responsáveis dos principais bancos centrais do Ocidente declararam em Sintra a sua determinação em contrariar a escalada da taxa de inflação, mesmo reconhecendo que, com a subida das taxas de juro previstas, este pode ser um processo doloroso para as populações.

Na sessão de encerramento do Fórum do BCE realizado, este ano, mais uma vez na Penha Longa, em Sintra, os líderes dos bancos centrais da zona euro, Estados Unidos e Reino Unido reafirmaram a intenção de continuar a apertar a sua política monetária num ambiente que é agora, ao contrário do que aconteceu durante as últimas décadas, de inflação alta.

“Temos de fazer aquilo que precisamos de fazer para trazer as taxas de inflação de volta para os 2%”, afirmou Christine Lagarde, a presidente do BCE, reafirmando a intenção de, a partir desta sexta-feira, dar o primeiro passo no seu plano de endurecimento da política monetária para combater a inflação, colocando um ponto final nas compras líquidas de dívida pública. Na segunda metade de Julho, será feita a primeira subida de taxas de juro, de 0,25 pontos percentuais, seguindo-se outra subida em Setembro, talvez de dimensão maior.

Ainda assim, Lagarde fez questão de garantir que, apesar destes planos, o BCE mantém as suas opções em aberto, dependendo as suas decisões dos dados que forem sendo conhecid0s.

E quando questionada sobre a subida da taxa de inflação em Espanha para 10,2%, conhecida nesta quarta-feira, a presidente do banco central fez questão de lembrar que, em compensação, os valores da inflação ficaram abaixo do previsto.

Na Alemanha, a taxa de inflação foi de 8,2%, uma descida face aos 8,7% de Maio, o que surpreendeu os analistas, que esperavam em média uma subida até aos 8,8%. “Temos de esperar pelos dados da inflação para toda a zona euro, que serão conhecidos a 1 de Julho”, afirmou.

O presidente da Fed, Jerome Powell, igualmente presente nesta quarta-feira em Sintra, também se mostrou determinado em fazer do combate à inflação o seu foco do momento. Quando questionado sobre o risco de a Fed ir longe demais nas subidas dos juros, Jerome Powell reconheceu que ele existe, “mas não é o principal”.

“O maior erro que poderíamos fazer era deixar a inflação ficar descontrolada, deixar que transitemos para um ambiente de taxas de juro altas. Os ponteiros do relógio estão a andar e não podemos assumir que as expectativas de inflação de longo prazo se vão manter baixas por muito tempo”, disse.

Nos EUA, o fim das compras de dívida pública e a subida das taxas de juro começou mais cedo do que na zona euro. Neste momento, a Fed não só deixou de realizar novas compras de dívida pública, como está já a reduzir o volume do seu balanço. E, em relação às taxas de juro, logo em Maio, foram elevadas em 0,5 pontos percentuais, com a Fed a acrescentar mais 0,75 pontos em Junho, a subida mais forte desde 1994.

No Reino Unido, o processo de subida de taxas de juro também já teve início e Andrew Bailey, o governador do Banco de Inglaterra, praticamente confirmou as expectativas dos mercados de uma nova subida de taxas na próxima reunião. “Estamos a ser atingidos por um choque da oferta vindo do exterior. A escala do choque é muito substancial, se virmos persistência nos efeitos da segunda ronda, vamos agir de forma muito forte. Um aumento de 0,5 pontos percentuais nas taxas de juro está em cima da mesa, mas não é a única hipótese”, afirmou.

O impacto negativo que esta determinação em combater a inflação pode ter nos ritmos de crescimento económico não foi ignorado pelos responsáveis do banco central.

“Percebemos a dor que as pessoas estão a sentir com a inflação e estamos decididos a combatê-la. É verdade que o processo requer também alguma dor, mas não fazer nada seria ainda mais doloroso”, afirmou o presidente da Fed, Jerome Powell, uma frase que a sua homóloga da zona euro, Christine Lagarde, assumiu também como sua.

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