BCE reúne-se de emergência dias depois de anunciar subida dos juros

Porta-voz do conselho do BCE diz que a reunião serve para “discutir as actuais condições do mercado”. Juros da dívida pública de Itália, Portugal, Espanha e Grécia subiram nos últimos dias.

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A última reunião do conselho do BCE decorreu na quinta-feira passada em Amesterdão EPA/SEM VAN DER WAL

O conselho de governadores do Banco Central Europeu (BCE), que há seis dias anunciou o fim do programa de compra de dívida pública e a subida das taxas de juro de referência em Julho, marcou uma reunião de urgência para esta quarta-feira de manhã, depois de se verificar nos mercados uma subida das taxas de juro da dívida pública na zona euro.

Nos últimos dias, as taxas das obrigações da Grécia, Itália, Portugal, Espanha e Irlanda agravaram-se e distanciaram-se das taxas de juro da Alemanha, mas esta quarta-feira já se encontram em queda.

À Reuters, um porta-voz do BCE confirmou que “o conselho do BCE terá uma reunião pontual na quarta-feira para discutir as actuais condições do mercado”.

De acordo com a mesma agência, a reunião foi marcada na terça-feira e estava prevista começar às 9h de Frankfurt (menos uma hora em Portugal continental) e, como o encontro foi calendarizado de um dia para o outro, alguns dos decisores tiveram de cancelar a participação numa conferência em Milão.

O governador do Banco de Portugal, Mário Centeno, membro do conselho do BCE, apresenta em Lisboa nesta quarta-feira o boletim económico de Junho do banco central português, com uma actualização das projecções para economia portuguesa até 2024. A conferência de imprensa estava agendada para as 12h e só começou às 12h45.

Depois deste anúncio, as taxas de juro dos títulos de dívida soberana dos países mais endividados na zona euro inverteram a tendência dos últimos dias — em que registaram subidas consecutivas, iniciadas mesmo antes da reunião do BCE — e encontram-se em queda, tendo vindo a acentuar essa trajectória durante a manhã.

Por volta das 12h40, os títulos das Obrigações do Tesouro portuguesas com um prazo de dez anos (a referência no mercado) transaccionados no mercado secundário recuavam para os 2,8% (uma diminuição na ordem dos 8% face à véspera). Os títulos espanhóis apresentam um comportamento idêntico, com os juros a baixarem igualmente para 2,8%, enquanto os títulos italianos caem para os 3,8% (um recuo de 8% em relação a terça-feira). As obrigações a dez anos da Grécia também estão a registar uma descida pronunciada, de 8% em relação à véspera, que está a levar as taxas de juro para 4,3%. As taxas relativas aos títulos da Irlanda também estão em queda, para 2,3%.

A cotação do euro está em alta, encontrando-se com uma valorização de 0,66% em relação a terça-feira, nos 1,0484 dólares norte-americanos.

Para responder à subida da inflação, o BCE anunciou na semana passada que o programa de compra de dívida pública acaba a partir de 1 de Julho (embora o BCE continue a “reinvestir, na totalidade, os pagamentos de capital dos títulos” que vençam entretanto) e fez saber de forma antecipada o que decidirá na reunião de Julho — quando o conselho que reúne os governadores e os membros da comissão executiva do BCE se reunirem em Frankfurt irão agravar as taxas de juro de referência em 25 pontos base, com a perspectiva de, em Setembro, voltarem a decidir um novo agravamento.

Apesar de estar a trabalhar com este calendário, a presidente do BCE, Christine Lagarde, disse que a autoridade monetária actuará com “gradualismo” e com “flexibilidade”, mantendo “as opções em aberto” sobre as decisões a tomar pelo BCE.

Na véspera desta reunião, a economista alemã Isabel Schnabel, membro do conselho do BCE, deixou claro numa conferência em Paris que o BCE não irá tolerar que as “alterações nas condições de financiamento” vão além “dos “factores fundamentais” e que “ameacem a transmissão da política monetária”.

Schnabel notou que, nos últimos dias, “o aumento dos prémios de risco soberano acelerou, as condições de liquidez tornaram-se mais difíceis e as mudanças diárias nos rendimentos das obrigações aumentaram”, considerando que as “alterações nas condições de financiamento podem constituir uma deficiência na transmissão da política monetária que requer um acompanhamento atento”.

A reunião da instituição liderada por Christine Lagarde acontece no mesmo dia em que, nos Estados Unidos, a Reserva Federal deverá anunciar uma nova subida pronunciada dos juros.

Notícia corrigida às 13h55:

A reunião de política monetária anterior decorreu há seis dias e não há cinco, como referido na versão inicial da notícia.

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