Cinco desafios da comunicação de ciência para a sustentabilidade

A sustentabilidade não é uma tarefa dos cientistas. Convoca-nos a todos e convoca-nos já.

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Rui Oliveira

A Agenda 2030 das Nações Unidas realça o importante papel que a ciência pode desempenhar na implementação dos 17 Objectivos do Desenvolvimento Sustentável. Mas o contributo da ciência só será efectivo se a ciência e os cientistas souberem ir ao encontro das necessidades da sociedade, e se a sociedade estiver disponível para integrar a perspectiva da ciência no desenho de um mundo mais sustentável. Garantir que há um canal aberto entre ciência e sociedade é o papel da comunicação de ciência. A sustentabilidade não é uma tarefa dos cientistas. Convoca-nos a todos e convoca-nos já. Deixamos aqui cinco desafios para que a comunicação de ciência se envolva activamente na construção de um mundo mais sustentável.

1. Explicar a ciência

A ciência estará no centro de todas as discussões sobre sustentabilidade. É através da ciência que sabemos a situação e as prováveis tendências de evolução do mundo natural e social, e a ciência traz consigo a promessa de soluções para os problemas. Torna-se assim essencial garantir que o maior número possível de pessoas consegue discutir o que está em causa e tomar decisões de forma informada.

À comunicação de ciência caberá a tarefa de encontrar formas criativas e rigorosas de explicar resultados e modelos das diversas áreas científicas, tornando-os acessíveis e relevantes para diferentes públicos-alvo. Tal requererá diferentes estratégias e canais e beneficiará da interacção com outras áreas, como as artes e as humanidades.

2. Abrir a ciência

Tornar o público especialista em todas as áreas científicas envolvidas na sustentabilidade é impossível. Além disso, sabemos que mais conhecimento não se traduz necessariamente em mais aceitação da ciência. A comunicação da ciência deve trabalhar para fomentar a confiança nas instituições científicas e garantir que o processo da ciência é transparente.

Transmitir noções como a incerteza ou a natureza tentativa das explicações científicas, sem cair no relativismo, será mais importante do que ensinar termos e definições. Por outro lado, a comunicação de ciência deve estar pronta para admitir que a ciência é influenciada por factores políticos, económicos e sociais e, sempre que possível, revelar potenciais conflitos de interesses. Confiança será a palavra de ordem.

3. Criar pontes

A comunicação de ciência não é um monólogo. Num diálogo construtivo para a sustentabilidade importa garantir que a sociedade tem voz e que as suas necessidades e receios são tidos em conta. Os diálogos não serão sempre fáceis, mas criar espaços de discussão inclusivos sem degraus, onde as opiniões são ouvidas sem censura, é a única forma de garantir o envolvimento de muitos.

Se acreditamos que a ciência é cultura, então a ciência tem que fazer parte das conversas do dia-a-dia, onde os cientistas já não controlam o que é dito e como é dito. O que podemos fazer é assegurar que os cientistas estão envolvidos nas conversas – só assim terão oportunidade de explicar o que não está bem e porquê.

4. Aproximar a ciência das políticas públicas

É fundamental que sejamos capazes de criar espaços de debate entre os cientistas e os decisores políticos, de forma a que essa aproximação não aconteça só em momentos de crise. A confiança entre estes actores precisa de ser fundada no respeito pelo papel de cada um, sem moralismos ou sobrancerias.

Também a comunicação social e os jornalistas devem ser chamados a contribuir para este diálogo. As decisões que afectam a sociedade carecem de ampla divulgação, e uma administração aberta é peça-chave para garantir a confiança dos cidadãos nas políticas de sustentabilidade. Não contar com os media nesta tarefa, ou tratá-los como simples estafetas a quem é sonegada parte da informação, contribuirá para a instalação de um clima de cepticismo, prejudicial à tomada de decisão.

5. Envolver todos na acção

A participação pública na própria ciência deve ser incentivada, através de projectos de ciência-cidadã ou da construção conjunta de agendas de investigação para a sustentabilidade. Também aqui, o papel dos comunicadores de ciência se afigura como fundamental e capaz de aproximar campos que têm muito a ganhar com a criação de espaços de aprendizagem mútua.

Mais que tudo a comunicação de ciência deve ser inclusiva. Se o lema da Agenda 2030 das Nações Unidas é não deixar ninguém para trás, a comunicação de ciência não pode ter menos ambição.

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