Aterros sanitários no Norte do país “ficarão esgotados” em 2026

Lipor celebra 40 anos de existência com planos para o futuro: a possível criação de uma central de incineração na Maia e uma linha de triagem que permite separar resíduos mais rapidamente

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Nos oito municípios geridos pela Lipor, não há criação de aterros há 22 anos Adriano Miranda

A Lipor celebra 40 anos de existência recordando um legado de aterros sanitários - antes chamados de lixeiras -, que evoluiu com a criação deste organismo intermunicipalizado de gestão de resíduos. Hoje, a Lipor serve oito municípios (Espinho, Gondomar, Maia, Matosinhos, Porto, Póvoa de Varzim, Valongo e Vila do Conde), tratando cerca de 500 mil toneladas de resíduos urbanos produzidos por um milhão de habitantes. Entre os planos para o futuro está a possível criação de uma nova central de incineração como alternativa à saturação dos aterros existentes.

“Dentro de quatro anos, todos os aterros da região Norte ficam esgotados. Portanto, existe neste momento um problema grave, a maior parte dos autarcas não sabem o que vão fazer”, considera José Manuel Ribeiro, presidente da Câmara de Valongo e do conselho de administração da Lipor. Nos oito municípios geridos pela empresa intermunicipal, não há aterros há 22 anos.

Segundo o autarca, há a intenção, que já foi manifestada ao Governo, de criar “uma terceira linha na central de valorização energética [de resíduos] na Maia, até como forma de resolver o problema do fim dos aterros”. A Lipor tem “uma solução, que é um investimento adicional” que resulta num “reforço de capacidade” para “resolver o problema dos outros 80 e tal autarcas que, dentro de quatro anos, não terão aterros para depositar resíduos domésticos”, afirmou José Manuel Ribeiro à Lusa.

“O último aterro a ser encerrado é o que, hoje em dia, é o novo Parque Aventura da Lipor, que foi completamente selado, encerrado, com requalificação paisagística do espaço, que foi devolvido à população”, adianta Ana Machado, técnica superior na área de educação e formação ambiental da Lipor.

Os cuidados encetados nas últimas duas décadas do século passado de permear o solo permitiram uma recuperação mais rápida dos terrenos. “Temos muito perto o rio Tinto que, possivelmente, foi também contaminado por esse início de má gestão, ainda enquanto lixeira. Por isso, essa conversão em aterro sanitário, fez com que houvesse uma drenagem desse lixiviado [líquido formado pela decomposição do lixo], e também uma drenagem do biogás”, explica a responsável pela área de educação ambiental.

Além do Parque Aventura, inaugurado em 2009, em 2017 foi criado o trilho ecológico, “um percurso de quatro quilómetros, que passa nas instalações da Lipor, passa junto ao rio Tinto e dentro do Parque Aventura”.

Sobre outros planos, os responsáveis por este organismo intermunicipal referem que “a Lipor hoje está envolvida em vários projectos da biodiversidade, seja o rio Leça, mas também as Serras do Porto”, assim como o BioBlitz, um evento pedagógico e científico promovido por Serralves, “que é hoje a maior manifestação da defesa da biodiversidade em Portugal”, e que a empresa patrocina, destaca o administrador.

“Todo o resíduo que pudermos valorizar, valorizamos”, salienta o administrador.

Essa valorização passa pelo centro de triagem, onde são separados os diferentes tipos de resíduos para serem reencaminhados para centrais de reciclagem, a central de valorização orgânica, que transforma os restos alimentares vindos do canal HORECA (hotéis, restaurantes e cafés) e do lixo doméstico em composto orgânico, e os restantes resíduos em energia eléctrica, através da incineração.

Nova linha de triagem

No ano em que celebram quatro décadas de existência, há outros planos para o futuro além das alternativas aos aterros. “Adjudicámos, há pouco tempo, uma nova linha de triagem que vai ser a mais avançada na Península Ibérica, uma coisa espantosa, para separar com maior capacidade”, realça José Manuel Ribeiro.

A actual linha “faz cerca de três toneladas por hora, e actualmente está a processar 14 mil toneladas por ano, já está no seu limite de capacidade”, detalha à Lusa Hélder Filipe Marques, responsável pelo projecto do novo centro de triagem. O novo projecto, para o qual está prevista uma verba de seis milhões de euros, “vai ter uma produtividade de oito toneladas por hora e o processo de triagem vai ser automatizado”.

“A separação, que hoje em dia é feita manualmente, vai ser feita por máquinas e a posição de trabalho feita por humanos vai ser, sobretudo, no controlo de qualidade. Vamos retirar estas tarefas de elevado desgaste físico e pôr as pessoas a fazer aquilo que realmente é fundamental”, concretiza Hélder Marques.

Esta nova central “vai ter um elevado nível de digitalização” em que “todos os equipamentos vão estar interligados e a comunicar, para que seja possível ter um maior controlo do processo” e uma maior produtividade, detalha o especialista.

Também a central de valorização orgânica “vai sofrer um outro investimento, para termos mais capacidade de produzir” um composto orgânico que é usado por “muitas das melhores marcas de vinho”, mas também de outros produtos de norte a sul do país, incluindo de laranja do Algarve, banana da Madeira e ananás dos Açores.

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