Hospital do Reino Unido anuncia que fez “primeira cirurgia neutra em carbono”

Os materiais usados foram reciclados, as luzes ficaram acesas menos tempo e os gases anestésicos foram trocados por uma anestesia administrada por via venosa. Para se conseguir que a operação fosse mesmo neutra em carbono, ainda se plantaram árvores e até a equipa se deslocou para o hospital de forma diferente.

aquecimento-global,sustentabilidade,saude,ambiente,reino-unido,energia,
Fotogaleria
Ao invés de materiais descartáveis, como na fotografia, foram utilizados materiais reutilizáveis Paulo Pimenta/ARQUIVO
aquecimento-global,sustentabilidade,saude,ambiente,reino-unido,energia,
Fotogaleria
Ao invés de materiais descartáveis foram utilizados materiais reutilizáveis DR

Uma equipa do Hospital de Solihull (pertencente aos hospitais universitários de Birmingham, no Reino Unido) anunciou que fez a primeira operação cirúrgica neutra em carbono, o que significa que as emissões de gases com efeito de estufa resultantes da cirurgia foram reduzidas ou compensadas. O paciente, a quem retiraram um tumor nos intestinos numa operação de cinco horas, já teve alta hospitalar e está a recuperar bem. A equipa trabalhou em conjunto com a Universidade de Birmingham e já estão planeadas mais operações neutras em carbono para as próximas semanas.

Ser neutro em carbono significa que as emissões de gases com efeito de estufa (sobretudo de dióxido de carbono) emitidas durante a operação – que neste caso abrange as emissões feitas durante a produção de materiais que não eram utilizados, no tratamento dos resíduos, mas também na questão energética – são “neutralizadas”, evitadas ou compensadas com métodos que sequestram e armazenam carbono. No fundo, a neutralidade carbónica corresponde a um equilíbrio entre as emissões de gases com efeito de estufa produzidos e a quantidade desses mesmos gases que se consegue retirar da atmosfera.

Para fazer desta a primeira operação neutra em carbono, foram feitas algumas alterações no modus operandi da equipa: usaram-se batas e toucas reutilizáveis, criou-se um plano para reduzir os gastos de energia (incluindo ao reduzir o aquecimento e iluminação das salas com luzes ligadas em permanência), reciclou-se o possível do material descartável utilizado na cirurgia, assim como os papéis e plásticos “limpos”. A anestesia foi administrada por via venosa e não através de gases, que têm um maior efeito de estufa na atmosfera. Também os instrumentos embalados individualmente só foram abertos se fossem necessários. E a mudança foi até mais além: em vez de os profissionais irem de carro para o hospital, foram de bicicleta ou a correr.

"Pegada” reduzida em quase 80%

Esta primeira cirurgia neutra em carbono envolveu todos os membros da equipa, desde os cirurgiões aos enfermeiros, anestesistas, gestores e funcionários de limpeza. Para terem a certeza de que a cirurgia era neutra em carbono, foi desenvolvida uma calculadora de carbono especificamente para estas operações médicas. No final da operação, a equipa calculou a redução de emissões fruto das medidas que tomaram e descobriram que a “pegada” de carbono tinha sido reduzida em quase 80%. Para compensar o resto, decidiram plantar árvores nas imediações do hospital, que lá ficarão plantadas nos próximos 30 anos para terem o efeito pretendido.

Ao todo, uma operação normal contribuiria com quase duas toneladas de carbono (sobretudo devido ao uso de gases anestésicos e cirúrgicos). Com estas medidas, os profissionais e investigadores conseguiram que a operação resultasse em apenas 417 quilogramas de dióxido de carbono (CO2). O excedente foi compensado com outras medidas. Para efeitos de comparação, duas toneladas correspondem a 11 mil quilómetros percorridos por um carro a gasóleo; os 417 quilos de CO2 correspondem a cerca de 2500 quilómetros percorridos por um carro.

“Garantir que os serviços de saúde são amigos do ambiente é importante para os pacientes e para a comunidade”, afirmou o cirurgião Aneel Bhangu, citado em comunicado da universidade. “As salas de operação são ambientes que usam muitos recursos e que contribuem com até 25% das emissões de carbono no sistema. Não podemos atingir um sistema de saúde neutro em carbono sem tornar a cirurgia mais ‘verde’”, disse o também professor da Universidade de Birmingham.

Foto
O médico Aneel Bhangu DR

A universidade garante que a segurança do paciente e a eficácia da operação nunca estiveram em risco. Segundo o comunicado, o sistema nacional de saúde britânico (NHS, na sigla em inglês) contribui para 6% da pegada de carbono do Reino Unido. As operações representam uma grande fatia destas emissões, ainda que só cerca de 5% dos pacientes tenham de fazer cirurgia. Para se conseguir atenuar os impactos das alterações climáticas, defendem os cientistas, o sistema de saúde tem de ser repensado – até porque o aquecimento global e a poluição têm também efeitos negativos na saúde humana.

Sugerir correcção
Comentar