Atropelamento na A6: Eduardo Cabrita ouvido esta sexta-feira pelo Ministério Público

O ex-governante é ouvido mais de dois meses depois de o MP ter constituído também como arguido Nuno Dias que exercia funções de chefe da segurança pessoal do ministro da Administração Interna.

Foto
Eduardo Cabrita será ouvido na qualidade de arguido no Departamento de Investigação e Acção Penal de Évora. LUSA/JOSÉ SENA GOULÃO

O ex-ministro da Administração Interna Eduardo Cabrita vai ser ouvido e constituído arguido pelo Ministério Público (MP) de Évora, nesta sexta-feira, no âmbito do caso do atropelamento mortal do trabalhador na A6, no dia 18 de Junho de 2021. Em causa, segundo o MP, podem estar “factos capazes de integrar a eventual prática de um crime de homicídio por negligência por omissão”.

Eduardo Cabrita é ouvido mais de dois meses depois de o MP ter constituído também como arguido Nuno Dias que, aquando dos factos, exercia funções de chefe da segurança pessoal do ministro da Administração Interna.

À semelhança do que aconteceu com Nuno Dias, o interrogatório de Eduardo Cabrita vem na sequência da reabertura do inquérito, no qual apenas tinha sido constituído inicialmente arguido o motorista do governante.

A reabertura foi decidida pelo Departamento de Investigação e Acção Penal de Évora depois de a Associação de Cidadãos Automobilizados, que se constituiu assistente no processo, ter apresentado uma reclamação hierárquica ao Ministério Público para que fosse apurada a responsabilidade de Eduardo Cabrita no acidente.

Eduardo Cabrita já tinha prestado declarações, mas na qualidade de testemunha. E, como era ministro, o seu depoimento foi prestado por escrito, no dia 2 de Novembro do ano passado.

O ex-ministro respondeu a um total de 15 perguntas feitas pelo MP. Na altura, Cabrita confirmou que a viatura em que se deslocava realizava o percurso entre o Centro de Formação de Guardas da GNR, em Portalegre, e o Ministério da Administração Interna, em Lisboa.

Também confirmou quem estava consigo no carro: o motorista Marco Pontes, o oficial de ligação da GNR no MAI, tenente-coronel Paulo Machado, e o adjunto do gabinete David Rodrigues, ou seja, disse que iam na viatura quatro pessoas. Isto, apesar de a procuradora, no despacho de acusação do motorista, colocar na viatura uma quinta pessoa, um elemento do Corpo de Segurança da PSP, que ia noutro carro. Noutras passagens do processo, o MP diz sempre que eram quatro as pessoas no carro.​

O ex-governante esclareceu no seu depoimento que, nos termos habituais, em deslocações do ministro da Administração Interna, a viatura em que segue o membro do Governo é acompanhada por uma viatura do Corpo de Segurança Pessoal da PSP. Naquele caso, realizava igualmente o percurso uma terceira viatura que transportava os membros do gabinete que se tinham deslocado à cerimónia realizada em Portalegre.

Eduardo Cabrita também disse que não constatou nenhuma limitação à circulação na A6, nem viu nenhuma sinalização de trabalho ou trabalhos em curso no local do acidente, nem se apercebeu de qualquer viatura sinalizando trabalhos parada na berma.

Este facto é confirmado pelas declarações das pessoas que integravam a comitiva do ex-governante, mas, pelo que se verificou de outros testemunhos que a procuradora teve em conta, havia uma carrinha que sinalizava a existência de trabalhos na via.

Esta viatura, porém, estaria uns metros mais à frente do local onde o trabalhador foi atropelado. Ou seja, antes do atropelamento, efectivamente, não havia qualquer sinalização de trabalhos na via. Por isso, o ex-ministro escreveu no depoimento que apenas se apercebeu que havia trabalhadores na A6 quando, já depois do acidente, retomou a deslocação.

O ex-governante disse ainda que não deu nenhuma indicação quanto à velocidade a adoptar, nem qualquer indicação sobre a urgência em chegar ao destino.

Eduardo Cabrita também disse desconhecer a que velocidade ia o veículo, mas referiu saber que foram dadas pelo seu gabinete as indicações que permitem determinar a hora de passagem na portagem de Estremoz.

No seu depoimento, o ex-governante assumiu que só muito próximo do momento do acidente viu um peão no meio da faixa de rodagem, aparentemente deslocando-se do separador central em direcção à berma. Acrescentou não saber dizer a distância no momento do avistamento do peão e não ter a noção precisa da localização do veículo na estrada, mas acrescentou que se deslocava seguindo os procedimentos de circulação habituais definidos em articulação com o Corpo de Segurança Pessoal da PSP.

Eduardo Cabrita sublinhou que o condutor virou o veículo para a direita, fez sinais sonoros de aviso ao peão e reduziu a velocidade Também descreveu que o embate se deu do lado dianteiro esquerdo do veículo e com o espelho retrovisor do mesmo lado. Segundo o depoimento do ex-governante, o condutor parou imediatamente na berma. Eduardo Cabrita também esclareceu que não tinha qualquer compromisso externo, mas apenas reuniões internas com entidades do MAI e elementos do seu gabinete a partir das 14h30.

Sugerir correcção
Comentar