Museus e instituições europeias retiram obras de exposição no Museu do Kremlin

Reino Unido, Espanha, Áustria e França pediram devolução das obras cedidas para The Duel - From Trial by Combat to a Noble Crime, exposição que narra a evolução da prática de duelo ao longo dos séculos. Museu do Kremlin adiou sine die a inauguração, que devia ter acontecido na semana passada em Moscovo.

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Museu do Kremlin, Moscovo Vladimir Gerdo/TASS/Getty Images

A exposição The Duel - From Trial by Combat to a Noble Crime tinha abertura marcada para o dia 4 de Março no Museu do Kremlin, em Moscovo, na Rússia, mas foi adiada - embora não esteja cancelada, segundo uma nota disponibilizada no site oficial deste museu russo.

A instituição, no entanto, diz que está a trabalhar para que a mostra venha a acontecer mesmo depois de o Reino Unido, Espanha, Áustria e França terem pedido a devolução das obras que emprestaram à Rússia em resposta à invasão da Ucrânia, no dia 24 de Fevereiro.

O núcleo principal da exposição que traça a evolução das práticas de duelo ao longo dos séculos era composto por muitas obras recebidas de museus europeus, que devido à situação geopolítica que se vive actualmente na Europa “se viram forçados a retirá-las [da exposição] antes do tempo”, explicam na nota divulgada no site do museu moscovita. A maior parte das peças escolhidas para a exposição, na qual o Museu do Kremlin começou a trabalhar no início de 2020, são originárias dos séculos XVI e XVII.

Os museus do Kremlin de Moscovo, escrevem, estão actualmente a trabalhar para que a exposição aconteça sem a participação europeia e “expressam os seus sinceros agradecimentos à comunidade dos museus russos por estarem a oferecer assistência nestas circunstâncias difíceis.”

Segundo um artigo de Roxana Azimi no diário francês Le Monde, o museu moscovita tinha questionado as instituições europeias de onde as obras eram provenientes se iriam manter a sua participação na exposição. O Reino Unido, a Espanha e a Áustria anunciaram que abandonavam, e a França, país que mais obras tinha cedido, seguiu-lhes os passos logo após a reunião informal que esta semana juntou os ministros da Cultura europeus na cidade francesa de Angers.

O Ministério da Cultura francês considerou que a presença da França na The Duel - From Trial by Combat to a Noble Crime podia ser interpretada como um sinal de divergência entre os países europeus, mas assegurou ao Le Monde que as trocas com o Museu do Kremlin foram cordiais, “sem qualquer manifestação de hostilidade”.

Agora, as obras irão ser removidas e enviadas para um local seguro, provavelmente a embaixada de França em Moscovo.

O Museu do Kremlin começou a preparar esta exposição no início de 2020, mas por causa da pandemia de covid-19 só em Junho de 2021 aceitou o pedido de empréstimo e as obras foram enviadas para Moscovo a 20 de Fevereiro deste ano. O Museu do Louvre enviou seis peças incluindo uma pintura que representa Francisco I feita pelo estúdio de Jean Clouet, e um par de pistolas com as armas da França assinadas por François Thomerot.

No total, são cerca de quinze as obras vindas de colecções de três instituições francesas, revela o Le Monde. O Museu do Kremlin também tinha pedido emprestados três pinturas ao Palácio de Versalhes, duas de Philippe de Champaigne, cada uma representando o cardeal Richelieu e o cardeal Mazarin. E a Biblioteca Nacional da França enviou sete obras renascentistas em papel, incluindo quatro desenhos de François Quesnel.

A exposição no Museu do Kremlin contava juntar 140 obras de 18 museus e bibliotecas russas e internacionais, noticia esta quinta-feira o jornal digital espanhol El Independiente. Além dos já citados, também o Museu Nacional do Prado, o Museu Kunsthistorisches de Viena, a Rainha Isabel II de Inglaterra, a Biblioteca Nacional da Áustria tinham emprestado obras. Do Prado seguiu uma pintura a óleo que representa o imperador Carlos V, uma obra feita por Juan Pantoja de la Cruz em 1605. O Prado assegura ao El Independiente que o quadro se encontra agora num sótão do Museu do Kremlin, protegido e embalado para ser devolvido a Espanha logo que possível.

Uma das instituições russas que também enviou obras para esta exposição foi o Museu Pushkin em Moscovo. Na semana passada, Vladimir Opredelenov, o seu director anunciou a sua saída da instituição dizendo que discorda da visão da tutela russa para a Cultura quanto aos “acontecimentos mundiais actuais”.

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