Directores de importante museu e fundação russas demitem-se

Director do Museu Pushkin de Moscovo e da Fundação V-A-C, criada por oligarca próximo do Kremlin, saem devido aos “acontecimentos mundiais actuais”.

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Museu Pushkin de Belas Artes, em Moscovo (na foto, galerias de arte do século XIX e XX) Alexander Shcherbak/TASS/ Getty Images

Em oposição à invasão da Ucrânia pela Rússia, os directores de dois importantes museus russos demitiram-se na quinta-feira. Vladimir Opredelenov, director do Museu Pushkin, anunciou a sua saída dizendo que discorda da visão da tutela russa da Cultura quanto aos “acontecimentos mundiais actuais” e o italiano Francesco Manacorda, director da Fundação V-A-C, invocou também os “acontecimentos actuais” para abandonar o posto.

Num post na sua conta pessoal na rede social Instagram, e em russo - que publicações como a ArtNet traduziram para inglês, Opredelenov escreveu: “A minha atitude perante os acontecimentos mundiais actuais não coincide com a dos meus colegas do Ministério da Cultura da Federação Russa. Espero que isto mude no futuro próximo, mas com as coisas como estão, sou forçado a deixar o meu amado museu”. O responsável, especialista em digital e tecnologia, é membro do braço russo do Conselho Internacional de Museus da Russia (ICOM - Rússia). O Museu Pushkin de Belas Artes é o maior museu de arte europeia situado em Moscovo e alberga uma importante colecção de pintura, escultura e artes gráficas, bem como de artes decorativas e peças de arqueologia.

Já a Fundação V-A-C, um jovem centro cultural que tem duas localizações — em Veneza e Moscovo —, ficou sem o seu director artístico que invocou à publicação especializada ArtNews que se demitiu devido à invasão russa da Ucrânia — mas não exactamente por estas palavras. “Infelizmente, os acontecimentos actuais mudaram significativamente as condições laborais e pessoais e por isso concluí que não poderei continuar a trabalhar com a mesma dedicação de que me orgulharia”, disse Manacorda, citado também pela agência de notícias Tass. A fundação foi criada em 2020 pelo oligarca Leonid Mikhelson, que é tido como próximo do Kremlin e que detém o maior grupo de gás do país.

Estas são as duas mais recentes perdas russas no mundo da arte, com a sua preparação para a Bienal de Veneza suspensa e com vários protestos internos a decorrer: Elena Kovalskaya, directora do teatro Meyerhold, em Moscovo, demitiu-se antes da invasão e escreveu na sua página no Facebook: “Não se pode trabalhar para um assassino e receber dele um salário”; o importante museu de arte contemporânea moscovita Garage fechou portas até que “a tragédia política e humana em curso na Ucrânia termine” e o artista islandês Ragnar Kjartansson cancelou a exposição que tinha planeada para o centro cultural GES-2.

No sentido contrário, cedendo a pressões ou tentando descartar posições em entidades estrangeiras em países que boicotam activamente a Rússia, o oligarca Vladimir Potamin e o banqueiro Petr Aven, abandonaram quarta-feira o conselho de administração do Guggenheim, em Nova Iorque, e na Royal Academy, em Londres, respectivamente.

Já no final de Fevereiro, assinala o ArtNet, o director artístico da feira de arte Cosmoscow cortou laços com a organização do evento. Simon Rees diz agora estar a trabalhar “nas trincheiras da comunicação” do Contemporary Art Center Vilnius, na Lituânia, e a albergar refugiados ucranianos na sua casa, em Viena (Áustria).

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