Parlamento açoriano pede à AR alteração à lei: quer apoio ao aumento do salário mínimo extensível às ilhas

Decreto-lei do Governo restringe a medida excepcional de apoio às empresas ao território continental. Empresas insulares consideram-se discriminadas. Parlamento madeirense vai propor o mesmo alargamento.

Foto
EDUARDO COSTA

As queixas dos empresários insulares que ficaram de fora do sistema de apoio excepcional de compensação às empresas pela subida do salário mínimo nacional já chegaram formalmente à Assembleia da República. O Parlamento dos Açores entregou uma proposta de lei com uma alteração ao diploma do Governo de António Costa para que o apoio às empresas se aplique “a todo o território nacional”. E, em breve, o Parlamento madeirense irá fazer o mesmo, já que aquele órgão regional aprovou na passada semana um projecto de proposta de lei com igual teor.

Embora o salário mínimo nacional no continente tenha subido de 665 euros para 705 no início de Janeiro deste ano, nas regiões autónomas o valor é superior para compensar os custos da insularidade: nos Açores é actualmente de 740,25 euros e na Madeira é de 723 euros. São estas regiões que definem o valor da remuneração mínima mensal para o seu território no âmbito da lei de autonomia e fazem-no com base nas suas características económico-sociais.

Em território continental, o salário mínimo subiu de 665 euros para 705 euros e o executivo decidiu voltar a compensar as empresas para suportarem este aumento. Assim o subsídio a atribuir às empresas no continente foi estipulado em 112 euros por cada trabalhador que em Dezembro do ano passado recebia o salário mínimo (665 euros), e é de 56 euros para os casos dos trabalhadores que ganhavam um valor superior a 665 euros e inferior a 705 euros. Porém, é de 112 euros nos casos em que os trabalhadores estivessem nesse intervalo devido à aplicação de um instrumento de regulamentação colectiva de trabalho. Para beneficiarem do apoio, as empresas têm até 1 de Março para se registarem numa plataforma criada para o efeito, competindo à Segurança Social apurar que empresas e quantos trabalhadores reúnem as condições para o receber.

Apesar de a actual legislatura terminar na próxima segunda-feira, as propostas de lei das assembleias legislativas regionais que ainda não tenham passado pelo plenário da Assembleia da República não caducam, pelo que têm que ser debatidas e votadas pela próxima composição do Parlamento. O mesmo não acontece com outras iniciativas legislativas como os projectos de lei e de resolução dos partidos nem com as propostas de lei do Governo.

Assim, os próximos deputados terão mesmo que dar resposta aos diplomas das regiões autónomas que consideraram que o decreto-lei do Governo de António Costa era discriminatório em relação às empresas que operam nos dois arquipélagos. O preâmbulo da proposta de lei da Assembleia Legislativa da Região Autónoma dos Açores realça que as empresas dos Açores e da Madeira foram “impedidas de aceder à medida de apoio excepcional de compensação pelo aumento do salário mínimo nacional”, ficando assim “em situação de desigualdade face às empresas sedeadas em território continental”.

E argumenta: “Tendo o aumento do salário mínimo sido decretado para todo o território nacional, a medida de apoio excepcional de compensação deveria também abranger todo o país e não apenas o continente.”

O diploma açoriano partiu de uma proposta do PPM que integra o executivo regional com o PSD e o CDS e foi aprovado nos Açores há um mês. O Parlamento açoriano adiantou-se, assim, ao madeirense, que só na passada semana aprovou um projecto de proposta de lei de idêntico teor da autoria da maioria PSD/CDS que foi aprovada pelo PS e pelo JPP mas teve o voto contra do PCP. O deputado comunista alegou que a medida de compensação não devia, de todo, existir. A justificação dos socialistas para apoiarem a proposta foi diferente: “O PS vai aprovar porque entendemos que, com a incompetência do PSD/CDS [no governo da Madeira] alguém tem que apoiar as empresas madeirenses que o Governo Regional deixa à míngua e não têm apoios”, afirmou então o deputado Vítor Freitas, justificação que os centristas apelidaram de “contorcionismo”.

Sugerir correcção
Ler 1 comentários