Presidente do Cazaquistão diz que a “ordem constitucional” foi praticamente “restaurada”

Há dezenas de mortos e mais de três mil pessoas foram detidas. Um dia depois da chegada de tropas russas ao território para conter os protestos violentos, situação parece controlada pelas autoridades cazaques. Mas ainda estão em curso “operações antiterroristas”, informa Tokaiev.

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Forças russas a caminho do Cazaquistão RUSSIAN DEFENCE MINISTRY PRESS SERVICE/HANDOUT/EPA

Na quinta-feira à noite ainda houve protestos em várias cidades do Cazaquistão, e os jornalistas da BBC e da Reuters no terreno ouviram tiros na praça central de Alma-Ata, mas nesta sexta-feira de manhã a situação parece ter sido controlada pelas forças de segurança cazaques, depois de vários dias de violência, que, só na noite de quarta-feira para quinta-feira, resultaram em dezenas de mortos e mais de três mil detidos.

Num comunicado ao país, foi também essa a mensagem transmitida pelo Presidente Kassim-Jomart Tokaiev, sublinhando, no entanto, que a perseguição dos “terroristas” e dos “bandidos” que, na sua opinião, estão a promover e a liderar as manifestações – que começaram por ser contra o aumento do preço dos combustíveis, mas que evoluíram para um protesto mais generalizado contra as autoridades –, ainda está em curso.

“Foi lançada uma operação antiterrorista. As forças da lei e da ordem estão a trabalhar arduamente. A ordem constitucional foi em grande parte restaurada em todas as regiões do país”, afiançou Tokaiev.

“As autoridades locais controlam a situação. Mas os terroristas ainda estão a utilizar armas e a danificar a propriedade dos cidadãos. Nesse sentido, as actividades contraterroristas devem continuar, até que as milícias sejam completamente eliminadas”, proclamou o Presidente, citado pela Reuters.

Mantendo uma postura de enorme dureza, Tokaiev disse ter dado autorização às forças de segurança para “disparar sem aviso” contra aqueles que designa como “terroristas” e “bandidos”. “Os militantes não depuseram as suas armas, continuam a cometer crimes ou estão a preparar-se para o fazer. A luta contra eles deve ser mantida até ao fim”, declarou o chefe de Estado numa declaração televisiva.

Tokaiev rejeitou ainda qualquer tipo de diálogo ou negociação com os manifestantes. “Que tipo de conversa podemos ter com criminosos e assassinos?”, questionou.

Esta aparente reviravolta no curso dos acontecimentos no país da Ásia Central, a favor das autoridades cazaques, acontece apenas um dia depois da chegada de tropas russas ao território, mobilizadas no âmbito do pedido de auxílio do Cazaquistão à Organização do Tratado de Segurança Colectiva (OTSC), uma aliança militar, liderada pela Federação Russa, que reúne seis Estados que pertenciam à União Soviética, e que funciona em moldes semelhantes à NATO.

Segundo a OTSC, o número de soldados da aliança que vão permanecer no Cazaquistão “durante um período de tempo limitado, de forma a estabilizar e normalizar a situação”, andará perto dos 2500.

A agência russa Interfax cita nesta sexta-feira o Ministério da Defesa da Rússia, que informa que mais de 70 aviões russos estão envolvidos no transporte de forças de manutenção de paz para o Cazaquistão.

Uma vez que as redes de Internet e de telecomunicações se encontram severamente afectadas desde quarta-feira, e sendo o Cazaquistão um país vastíssimo, é difícil perceber até que ponto é que a situação no terreno corresponde à descrição das autoridades políticas cazaques, que governam com mão de ferro desde a independência, há 30 anos.

A única certeza é que Alma-Ata, a antiga capital, a maior cidade cazaque e o principal palco dos protestos e da violência – a polícia diz que “eliminou” 26 “criminosos armados” na quinta-feira –, se encontra fortemente militarizada. Segundo a Reuters e a BBC, há centenas de soldados armados e vários tanques nas principais ruas e nas imediações das infra-estruturas estratégicas, nomeadamente do aeroporto.

Tokaiev – que assumiu a chefia do conselho de segurança estatal, afastando Nursultan Nazarbaiev, o Presidente do Cazaquistão, considerado “pai da nação” – vai voltar a falar ao país nesta sexta-feira.

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