Variante identificada em França: “Por favor, não entrem em pânico”

Especialistas dizem que se deve ir vigiando a variante com mais de 40 mutações identificada em França, mas que não se deve entrar em pânico.

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A amarelo, o coronavírus SARS-CoV-2 NIAID

Nos últimos dias, têm surgido notícias e burburinho sobre uma variante do SARS-CoV-2 identificada em França, a B.1.640.2, com mais de 40 mutações genéticas. Especialistas têm-se desdobrando a explicar que, por agora, não há motivo para alarmismos. É para se ir vigiando, tal como acontece com outras variantes do vírus.

Que variante é esta?

No início de Dezembro, o Instituto Hospitalar Universitário (IHU) de Marselha tinha referido no Twitter que tinha detectado uma nova variante em doentes na localidade de Forcalquier, na região de Provença-Alpes-Costa Azul, no Sul de França. “Foi baptizada ‘IHU’ e apresentada [na base de dados] Gisaid com o nome B.1.640.2.”

Mais tarde, no final de Dezembro, investigadores do instituto disponibilizaram um artigo sobre esta variante na plataforma medRxiv, ainda sem revisão por outros cientistas. Nesse artigo, refere-se que a B.1.640.2 tinha sido detectada em doentes na localidade de Forcalquier, na região de Provença-Alpes-Costa Azul, no Sul de França. O caso do primeiro doente onde tinha sido identificada tinha viajado aos Camarões.

A análise à variante revelou que tinha mais de 40 mutações genéticas. Na proteína da espícula, foram observadas 14 alterações, incluindo a N501Y e E484K, que está presente em variantes preocupantes. A proteína da espícula é responsável pela entrada do vírus nas nossas células e as variantes de preocupação têm diferentes mutações nessa zona — por exemplo, a Ómicron tem mais de 30.

No mesmo artigo, também se adianta: “Este padrão do genótipo levou à criação de uma nova linhagem chamada B.1.640.2 [no início de Dezembro], que é um grupo filogenético irmão da antiga linhagem B.1.640, agora designada B.1.640.1.” A B.1.640 é uma variante sob monitorização para o Centro Europeu de Prevenção e Controlo das Doenças (ECDC). No site do ECDC, refere-se que a primeira detecção da variante aconteceu em Setembro de 2021 no Congo. Nas bases de dados públicas, há mais de 300 sequências desta variante sob monitorização irmã da B.1.640.2. Essas sequências foram recolhidas em França, Alemanha, Itália, Reino Unido e no Congo.

O que dizem os especialistas

Devido ao número de mutações e por partilhar algumas delas com outras variantes de preocupação, a B.1.640.2 tem gerado algum burburinho e pânico nas redes sociais, bem como tem sido alvo de notícias.

Especialistas têm-se desdobrado em explicações. Vinod Scaria, cientista no Instituto de Genómica e Biologia Integrativa (em Nova Deli) e que tem estudado o genoma do SARS-CoV-2, assinalou numa publicação no Twitter que a B.1.640.1 (a tal irmã da B.1.640.2) já está a ser monitorizada pela Organização Mundial da Saúde desde Novembro.

Exactamente sobre a B.1.640.2 esclarece que, “embora seja anterior à Ómicron, as suas sequências [genéticas] não têm aumentado de forma rápida [nas bases de dados]”. O cientista diz que não se sabe se o aumento de casos no Sul de França está associado a ela. Portanto, por agora, conclui: “Tendo em conta as provas presentes, não há nada para se entrar em pânico ou para nos preocuparmos muito neste momento.” Mesmo assim, realça que “é algo que deve ser monitorizado nas próximas semanas”.

Também Tom Peacock, cientista do Imperial College de Londres que tem acompanhado a evolução do vírus, nota que a B.1.640.2 é anterior à Ómicron. “Em todo esse tempo, há exactamente [cerca de] 20 sequências em comparação com mais de 120 mil da Ómicron em menos tempo”, escreveu no Twitter. “Definitivamente, neste momento, não há motivo para preocupação.”

Na mesma rede social, Tulio de Oliveira reforçou: “Por favor, não entrem em pânico.” O coordenador do consórcio Rede de Vigilância Genómica na África do Sul e um dos responsáveis pela identificação inicial da Ómicron frisa que a B.1.640.1 e a B.1.640.2 não têm competido nem com a Delta em nenhum sítio.

François Balloux é mesmo taxativo e indica que a B.1.640.2 não explica o aumento de casos no Sul de França e que não tem levado a centenas internamentos nas unidades de cuidados intensivos nessa parte do país. “Fiquem tranquilos por agora”, pede o investigador da University College de Londres.

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