Raios-X: entre um Bayern ou um Barcelona há um “bicho” chamado Ajax

Comparando o Ajax com outros adversários do Benfica, os neerlandeses podem ser definidos como um Bayern que defende pior do que o Bayern ou como um Barcelona que ataca melhor do que o Barcelona.

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Reuters/PIROSCHKA VAN DE WOUW

Nesta segunda-feira, o Benfica foi almoçar com um nó no estômago, pensando que ia defrontar o Real Madrid nos oitavos-de-final da Liga dos Campeões. Entretanto, a UEFA “foi ao VAR”, detectou irregularidades, repetiu o sorteio e o Benfica ficou a saber, depois do almoço, que tem, afinal, uma digestão mais fácil para fazer: o duelo europeu é com o Ajax. Cenário simpático? Longe disso. Mas é, por certo, mais simpático do que seria com o Real Madrid.

Com o Real, o Benfica teria pela frente uma equipa forte em ataque posicional e transições, com uma defesa consistente, com jogadores experientes, com desequilibradores, com goleadores e com tarimba de Champions. Em suma, com um pouco de tudo. Com o Ajax, o Benfica tem um adversário temível no plano ofensivo, mas com lacunas defensivas exploráveis. Acima disto, com um estilo de jogo que até encaixa em alguns dos melhores predicados dos “encarnados”.

Comparando o Ajax com a fase de grupos do Benfica, os neerlandeses podem ser definidos como um Bayern que defende pior do que o Bayern ou como um Barcelona que ataca melhor do que o Barcelona.

É ponto assente que os neerlandeses são favoritos a seguirem em frente, quer pelo valor individual e colectivo, quer pelo facto de terem feito uma fase de grupos só com vitórias e terem goleado duas vezes o Sporting, equipa que… bateu o Benfica de forma clara.

O Ajax de Erik tem Hag é, por estes dias, uma equipa temível ofensivamente, não apenas pelos golos que marca, mas pela variedade de soluções que tem. Tal como se disse do Real, a equipa dos Países Baixos tem valências que a tornam letal em transições, assim seja dado esse espaço a jogadores como Antony ou David Neres. Mas está longe de ser unidimensional no processo ofensivo.

Em ataque posicional – vertente que prefere em quase todos os jogos, com uma média acima de 60% de posse de bola – é uma formação que consegue criar perigo pelos corredores, com os criativos brasileiros, mas também pela zona central, com jogadores fortes entre linhas, como Tadic e Klaassen, e outros com chegada à área, como o médio Gravenberch. Todos eles podem decidir, mas também servir um senhor chamado Sébastien Haller, “gigante” que é o melhor marcador da Champions, com dez golos.

Todos estes elogios ofensivos são merecidos, mas o Ajax já mostrou estar longe de ser imbatível. É uma equipa com uma transição defensiva sofrível, já que pressiona muito alto, mas, passada a primeira linha de pressão, deixa muito espaço entre linhas, ficando a defender com poucos jogadores. No último fim-de-semana perdeu com o AZ, na Liga holandesa, e foi “enganada” duas vezes em transições em que defendia em inferioridade numérica.

Daqui se conclui facilmente que o Benfica, assim sobreviva à avalancha ofensiva do Ajax, tem forma de ferir os neerlandeses. Importa lembrar que alguns dos melhores jogos do Benfica nesta temporada foram precisamente em partidas em que houve espaço – o 3-0 ao Barcelona, o 6-1 ao Sp. Braga, o 4-1 ao Famalicão ou até mesmo a segunda parte do 5-0 ao Santa Clara. Jorge Jesus confirmou mesmo após o último jogo, frente ao Famalicão, que o contra-ataque é a vertente mais forte do Benfica.

Jogadores como Darwin, Rafa ou mesmo Seferovic poderão explorar o espaço da forma que o Benfica fez, por exemplo, frente ao Barcelona. Resta saber se o Ajax vai ser, a atacar, um mero Barcelona, ou se será, por outro lado, algo semelhante a um Bayern.

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