Taiwan revelou pela primeira vez pormenores sobre cooperação militar com os EUA

As relações privilegiadas entre Taiwan e os Estados Unidos são muito sensíveis em Pequim, que está empenhada na “reunificação” com a ilha.

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Caça de fabrico taiwanês durante exercícios militares ANN WANG / Reuters

Pela primeira vez, as autoridades de Taiwan revelaram pormenores sobre a cooperação militar com os Estados Unidos, numa altura em que a tensão com a China é elevada.

Entre Setembro de 2019 e Agosto deste ano, foram desenvolvidos 384 programas de cooperação entre as forças armadas taiwanesas e norte-americanas, que envolveram ao todo 2799 militares, de acordo com um relatório do Ministério da Defesa taiwanês publicado esta terça-feira, citado pelo South China Morning Post. Os programas também incluíram a visita de militares taiwaneses aos EUA e o contrário.

É a primeira vez que são revelados pormenores acerca dos intercâmbios entre as forças armadas de Taiwan e dos EUA, diz o diário sediado em Hong Kong. A relação entre Taipé e Washington é um elemento muito sensível entre a China e os EUA.

Taiwan é considerada por Pequim parte integrante do território chinês, embora seja administrada de forma autónoma desde 1949, quando os nacionalistas do Kuomintang fugiram para a ilha após a derrota contra a guerrilha comunista de Mao Tsetung. Desde então, a China e Taiwan trilharam percursos divergentes, apesar de sempre reivindicarem a soberania sobre os dois territórios.

O Presidente chinês, Xi Jinping, tem repetido em várias ocasiões que a “reunificação” da China continental com Taiwan é um dos desígnios da sua liderança. Por seu turno, a Presidente de Taiwan, Tsai Ing-wen, tem declarado que tudo irá fazer tudo para garantir a defesa do território que governa desde 2016.

Neste contexto, o frágil equilíbrio diplomático e militar depende da disponibilidade dos EUA em defenderem Taiwan, com quem, apesar de não ser reconhecido oficialmente como uma nação independente e soberana por Washington – um requisito para ter relações diplomáticas formais com a China –, mantém uma ligação privilegiada sobretudo ao nível da defesa.

No entanto, os laços entre os EUA e Taiwan são constantemente alvo de fortes críticas de Pequim e qualquer sinal de uma alteração no statu quo pode desencadear respostas imprevisíveis. Nos últimos tempos, a China tem intensificado o envio de aviões militares para o espaço aéreo taiwanês.

O relatório do Ministério da Defesa de Taiwan também sublinha a cada vez maior capacidade militar da China, que é hoje capaz de bloquear as principais infra-estruturas portuárias e aéreas da ilha.

“Neste momento, o Exército do Povo tem capacidade para participar em bloqueios conjuntos locais contra os nossos portos, aeroportos e linhas aéreas mais cruciais, cortar as nossas linhas de comunicação aéreas e marítimas e ter impacto no fluxo do nosso fornecimento militar e de recursos, bem como sobre a sustentabilidade das nossas operações”, conclui o relatório.

O apoio dos EUA é igualmente determinante para a defesa da ilha. Recentemente, Tsai confirmou também pela primeira vez a presença de militares norte-americanos em Taiwan no contexto de cooperação com Washington.

Antes disso, o Presidente Joe Biden tinha prometido defender Taiwan em caso de um ataque da China, mas a Casa Branca veio depois esclarecer que a política de “ambiguidade estratégica” de Washington face à China e a Taiwan não se alterou.

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