Comissão que investiga motim no Capitólio recomenda acusação de Steve Bannon

O antigo conselheiro de Donald Trump, que na véspera do ataque ao Capitólio a 6 de Janeiro disse “estamos no ponto de ataque”, recusou-se a responder à comissão.

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A comissão quer o testemunho "completo e factual" de Steve Bannon Andrew Kelly/Reuters
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Liz Cheney: os argumentos de Trump e Bannon em relação à potencial protecção de informação "sugerem que o Presidente Trump tenha estado envolvido pessoalmente no planeamento e execução" do ataque de 6 de Janeiro ELIZABETH FRANTZ/Reuters

A comissão que investiga o ataque ao Capitólio de 6 de Janeiro, quando o então Presidente e candidato derrotado, Donald Trump, se recusava a reconhecer a vitória do Presidente Joe Biden, votou com unanimidade para acusar o antigo conselheiro de Trump, Steve Bannon, por este se recusar a testemunhar perante o organismo que investiga o ataque ao Capitólio de 6 de Janeiro.

É “um confronto”, como descreve o jornal norte-americano The New York Times, que deverá ser o primeiro de vários no teste à prerrogativa presidencial de manter comunicações oficiais secretas – mas que neste caso estão a ser postas em causa pela gravidade do ataque, o mais violento que o Capitólio sofreu em dois séculos, segundo o jornal americano, e em que morreram quatro pessoas.

Trump processou, na segunda-feira, a comissão do Congresso norte-americano responsável pela investigação do ataque ao Capitólio de 6 de Janeiro, alegando que este fez um pedido ilegal dos seus registos da Casa Branca, baseando-se na premissa da confidencialidade de algumas comunicações entre funcionários da Casa Branca.

Muitos democratas temem que o caso se possa arrastar durante tanto tempo que ultrapasse a data das eleições para a Câmara dos Representantes em 2022, e que os republicanos as possam vencer e acabar com esta comissão de inquérito, e assim, com a esperança de se saber ao certo o que levou ao motim.

O passo agressivo contra Bannon está a ser tomado, especula o diário The Guardian, também para avisar outros responsáveis que haverá consequências para quem desafiar as intimações para testemunhar. A decisão contou com os votos favoráveis dos dois representantes republicanos.

A republicana Liz Cheney disse que os argumentos de Trump e Bannon em relação à potencial protecção de informação “sugerem que o Presidente Trump tenha estado envolvido pessoalmente no planeamento e execução [do ataque] de 6 de Janeiro, e esta comissão vai chegar ao fundo dessa questão”. 

“É essencial que consigamos o testemunho completo e factual do senhor Bannon para ter um quadro completo da violência de 6 de Janeiro e das suas causas”, disse Bennie Thompson, o chefe da comissão. Mais de 670 pessoas foram acusadas por terem participado no ataque, segundo a agência Reuters.

“O senhor Bannon vai cooperar com a nossa investigação ou vai sofrer as consequências. Não podemos deixar que ninguém impeça o trabalho da comissão chegar aos factos”, declarou.

A comissão também intimou outros funcionários, incluindo o antigo chefe de gabinete de Trump, Mark Meadows, o subchefe de gabinete, Dan Scavino, um antigo funcionário do Departamento de Defesa, Kash Patel, sob ameaça de acusação criminal.

Bannon, sob instruções do antigo Presidente e dos seus advogados, ignorou a ordem. Os outros três responsáveis abriram negociações sobre o âmbito da sua cooperação.

Bannon está a ser intimado por comentários no seu programa de rádio, no dia anterior ao motim. “Agora estamos, como se costuma dizer, no ponto de ataque – o ponto de ataque amanhã”, declarou, quando o Congresso se preparava para certificar a vitória de Joe Biden. Vai arrancar. Vai ser muito impressionante”, disse Bannon no programa. “Não vai ser como vocês pensam que vai ser. Vai extraordinariamente diferente. Tudo o que posso fizer é: apertem os cintos de segurança.”

A comissão diz que os comentários mostram que Bannon tinha alguma informação sobre o que aconteceria no dia seguinte. E mais, Bannon parece “ter tido vários papéis relevantes para esta investigação”, incluindo a participação no esforço de relações públicas que tentava passar a ideia, falsa, de que Trump tinha sido o candidato vencedor, e a participação num grupo restrito que se reuniu num hotel de Washington com outros aliados de Trump que tentavam reverter o resultado eleitoral.

A recomendação da Comissão será agora votada pela Câmara dos Representantes, provavelmente na quinta-feira. Se for aprovada, o Departamento de Justiça passa o caso para o procurador do ministério público para o levar a um grande júri.

Bannon, acusado de fraude por suspeitas de ter enganado doadores que deram “mais de 25 milhões de dólares para se construir um muro ao longo da fronteira sul dos Estados Unidos”, foi perdoado por Trump nas últimas horas do então Presidente na Casa Branca.

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