“Brexit” aumentou custos e burocracia no acesso de portugueses a universidades britânicas

De acordo com os dados mais recentes do serviço de admissão em universidades britânicas, até 7 de setembro tinham sido colocados 490 estudantes portugueses, uma redução de 69% face aos 1590 de 2020. No conjunto dos países da UE, o declínio é de 56%.

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No ano lectivo 2021/2022, os estudantes da UE deixam de pagar o mesmo valor que os britânicos e passam a pagar propinas mais elevadas enquanto estudantes internacionais Nuno Ferreira Santos

Os jovens portugueses interessados em estudar nas universidades britânicas devem “investigar um pouco mais” sobre as condições de acesso devido ao acréscimo de burocracia, custos e restrições ao financiamento na sequência do “Brexit”, aconselha o British Council. 

“A situação é naturalmente mais complexa do que quando o Reino Unido estava na UE [União Europeia], quando a livre circulação de pessoas, as taxas iguais para cidadãos do Reino Unido e da UE e a nossa participação no [programa de intercâmbio] Erasmus suavizavam o processo de estudar no Reino Unido”, admitiu o diretor para educação e cultura do British Council em Portugal, Richard Fleming, em declarações à Agência Lusa.

Durante quatro dias, entre 4 e 8 de outubro, o organismo de promoção da língua e cultura britânicas no estrangeiro vai promover sessões de esclarecimento pela Internet para os jovens interessados em estudar em universidades britânicas. 

“Study UK: The Essentials” vai abordar questões como a necessidade de vistos e seguros de saúde e os custos acrescidos com propinas. 

A partir do ano letivo 2021/2022, que começa este Outono, os estudantes da UE deixam de pagar o mesmo valor que os britânicos (9250 libras/ano), como acontecia antes, e passam a pagar propinas mais elevadas enquanto estudantes internacionais. 

Segundo o site “Save the Student”, estima-se que os valores variem entre 9250 e 30.548 libras (10.800 e 35.500 euros) por ano, dependendo das universidades e tipo de cursos, mas podem chegar a 64.652 libras (75.400 euros) por ano numa licenciatura de medicina. 

Depois do “Brexit”, os estudantes europeus passam também a ter de pagar 470 libras (550 euros) anuais para poderem usar os serviços de saúde públicos britânicos e 348 libras (400 euros) por um visto de estudante, que pode ser válido por cinco anos. 

A estas despesas juntam-se gastos com alojamento, alimentação, transportes e materiais de estudo.

Os estudantes europeus, incluindo os portugueses, deixam também de ter acesso aos empréstimos do Governo britânico para pagar as propinas e outras despesas, embora existam bolsas de estudo disponíveis junto de instituições e das próprias universidades. 

Nos últimos anos, Portugal tem sido dos países europeus com maior número de candidatos ao ensino superior aceites no Reino Unido, à frente da Alemanha e Grécia.

De acordo com os dados mais recentes do serviço de admissão em universidades britânicas (UCAS), até 7 de setembro tinham sido colocados 490 estudantes portugueses, uma redução de 69% face aos 1590 de 2020. 

No conjunto dos países da UE, o declínio é de 56%, de 29.630 para 12.920 estudantes inscritos até início de setembro.

Os números finais só serão conhecidos no final do 2021, mas prevê-se que sejam substancialmente inferiores aos dos anos anteriores. 

Fleming salienta que esta redução resulta da combinação da incerteza criada pela pandemia covid-19 com as mudanças causadas pelo “Brexit”, mas defende que as sessões de esclarecimento podem ajudar a encontrar soluções. “Ninguém deve desistir do seu sonho de estudar no Reino Unido sem descobrir que ajuda está disponível na universidade que gostaria de frequentar”, insiste.

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