Partido Trabalhista aperta as regras para a eleição do líder

Mesmo alterando as propostas iniciais, Starmer vence braço-de-ferro com a ala esquerda do Labour num dos temas mais sensíveis do congresso do partido.

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Congresso do Partido Trabalhista em Brighton começou no sábado e acaba na quarta-feira HANNAH MCKAY/Reuters

Os militantes do Partido Trabalhista britânico reunidos desde sábado – e até quarta-feira – em Brighton, no Sul de Inglaterra, aprovaram no domingo à tarde as propostas de Keir Starmer para alterar as regras de eleição da liderança do partido.

A votação esteve para não acontecer, por causa da oposição da ala esquerda do Labour às propostas da direcção, que fazia antever uma humilhação do líder do maior partido de oposição do Reino Unido.

Mas Starmer decidiu arriscar depois de ter conseguido o apoio do importante sindicato Unison e de ter deixado cair a proposta mais controversa – acabar com o sistema “um militante, um voto”.

A votação no congresso anual trabalhista foi, ainda assim, muito renhida: as propostas foram aprovadas por 53,67% contra 46,33%.

Mesmo mantendo a equivalência entre o valor dos votos de militantes, sindicados ou organizações afiliadas partido, as novas regras dificultam mais a vida aos candidatos à liderança que têm menos apoios junto dos deputados do Labour e que dependem mais da mobilização de novos militantes. 

A principal alteração exige ao candidato que se apresenta à liderança que tenha o apoio de pelo menos 20% do total de deputados do Partido Trabalhista representados Câmara dos Comuns para ser nomeado. Até agora vigorava a regra dos 10%.

Outra das mudanças impõe um período mínimo de seis meses de militância para quem quiser votar no processo de eleição do líder. Fica, assim, excluída a possibilidade de alguém se registar como militante, pagando 25 libras, apenas para participar na escolha do dirigente máximo.

O candidato que mais beneficiou das regras antigas – aprovadas pela direcção de Ed Miliband em 2014 – foi Jeremy Corbyn, antecessor de Keir Starmer, e um dos principais representantes da ala esquerda do Labour, minoritária no partido durante muitos anos.

Considerado um outsider na corrida à liderança do partido em 2015, Corbyn conseguiu 15% de apoios entre os deputados e, uma vez nomeado, beneficiou de uma enorme campanha de mobilização da sociedade civil, particularmente na Internet e nas redes sociais, para juntar votos de novos militantes. Surpreendeu tudo e todos e foi eleito líder – cargo que colocou à disposição em Dezembro de 2019, depois de ter sido copiosamente derrotado por Boris Johnson e pelo Partido Conservador nas eleições legislativas.

Pouco depois de aprovadas as novas regras, os representantes da facção de esquerda do Labour levantaram a voz para lamentar o rumo que o partido está a seguir, sob a liderança de Starmer.

“[As novas regras] são um golpe auto-infligido à democracia no nosso país, apresentadas em oposição aos membros do Labour”, criticou o movimento civil de esquerda Momentum, apoiante de Corbyn, através do Twitter. “Se os 20% mínimos se tivessem aplicado à eleição de 2020 para a liderança, teria sido uma disputa entre Sir Keir Starmer e Sir Keir Starmer”.

Uma outra regra incluída no pacote que foi aprovado pelos militantes torna mais difícil o lançamento de uma campanha de contestação do lugar de um qualquer deputado do Labour. Agora é necessário que essa iniciativa tenha o apoio de 50% das repartições locais do partido e dos sindicatos e grupos afiliados para avançar.

O congresso do Partido Trabalhista termina na quarta-feira, com o discurso do líder, Keir Starmer.

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