Maior sindicato do Reino Unido elege primeira mulher como líder

McAnea vence eleição no Unison e mantém alinhamento com Starmer. Líder do Partido Trabalhista olha agora para o Unite, cujo secretário-geral, pró-Corbyn, abandona o cargo no próximo ano.

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O Unison tem mais de 1,3 milhões de membros DR

O maior sindicato do Reino Unido elegeu uma mulher como líder pela primeira vez em quase 30 anos de existência. O Unison confirmou esta segunda-feira que Christina McAnea venceu as eleições internas da organização. Vai substituir o histórico Dave Prentis, que ocupou o cargo de secretário-geral durante quase 20 anos, e manter o alinhamento com a actual direcção do Partido Trabalhista, de Keir Starmer.

McAnea obteve 47,7% dos votos na etapa final de um processo de escolha iniciado em Outubro, superando Paul Holmes (33,8%), Roger McKenzie (10,8%) e Hugo Pierre (7,8%), informa a BBC.

“Fizemos história! Muito obrigado por todo o apoio. Posso ser a primeira secretária-geral mulher no Unison, mas não serei a última”, celebrou a antiga secretária-geral adjunta do sindicato, numa mensagem publicada no Twitter.

A vitória de McAnea, de 62 anos, confirma a continuidade do apoio do sindicato, com mais de 1,3 milhões de membros, à liderança de Starmer no Partido Trabalhista.

O universo sindical britânico tem uma enorme influência dentro do partido de centro-esquerda do Reino Unido e desempenha um papel muito relevante na mobilização da militância de base e no apoio às lideranças políticas.

Para além disso, é dos sindicados que vêm alguns dos maiores donativos para as campanhas eleitorais do Labour. Também por isso, os sindicatos e as organizações filiadas no partido têm direito de voto e participam na eleição do líder.

Legado de Corbyn

Para Starmer era importante que McAnea fosse eleita, para continuar a manter intacto o apoio do Unison – tal como tinha com Prentis. 

Eleito em Abril para o lugar de Jeremy Corbyn, Starmer tem procurado distanciar-se ideologicamente e programaticamente do seu antecessor, através de uma postura mais moderada e, sobretudo, mais pragmática.

Essa renovação da mensagem do Labour – somada à resposta pouco convincente do Governo de Boris Johnson à pandemia no país – permitiu ao partido encurtar bastante a distância para o Partido Conservador, segundo as sondagens. 

Por outro lado, a estratégia tem aumentado os anticorpos vindos da ala corbynista e mais à esquerda do partido.

Ora, é nos sindicatos que reside grande parte do prestígio e da influência que Corbyn ainda goza dentro do Partido Trabalhista – Roger McKenzie era o ‘seu’ candidato na corrida no Unison, mas ficou, no entanto, longe de McAnea.

Esse apoio a Corbyn notou-se aquando do anúncio da suspensão da filiação do antigo líder no partido, entretanto reposta, por causa da sua reacção crítica a um relatório, também ele crítico, sobre a sua gestão “ineficaz” das denúncias de anti-semitismo no Labour.

Muitos sindicatos defenderam publicamente o agora deputado independente – foi expulso do grupo parlamentar trabalhista –, nomeadamente Len McCluskey, aliado próximo de Corbyn e líder do Unite the Union, o maior financiador do partido, que contribuiu com 3 milhões de libras (cerca de 3,3 milhões de euros) para a campanha das legislativas de 2019.

Pós-McCluskey

Depois do Unison, é precisamente para o Unite que Starmer olha agora com atenção. McCluskey vai abandonar o cargo em 2022 e o início da corrida à sua sucessão está agendado para o final deste ano.

A edição deste fim-de-semana do Observer dá enorme destaque a Gerard Coyne, um apoiante de Starmer que perdeu por apenas 3,9% as eleições de 2017, contra McCluskey, e que anunciou agora a sua candidatura à liderança do sindicato. Com direito a elogios ao líder do Labour.

“Acredito que os últimos anos mostraram que eu estava certo em responsabilizar a liderança do Unite, pelas suas tentativas de dirigir o Partido Trabalhista”, defendeu Coyne num comunicado enviado ao semanário. “Keir Starmer foi certeiro na resposta aos principais desafios que enfrentou no seu primeiro ano e penso que lhe deve ser dado apoio, mas ajudarmos o Labour a recuperar o poder e a defender os interesses da população trabalhadora”.

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