Fundadora da Theranos nega fraudes. A startup “falhou”, mas “o fracasso não é um crime”

A fundadora da Theranos — a startup norte-americana que falsificava análises de sangue — e o Governo dos EUA enfrentaram-se esta quarta-feira em tribunal, no julgamento da antiga líder.

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Se for condenada, Elizabeth Holmes pode enfrentar até 20 anos de prisão REUTERS/Vicki Behringer

A defesa de Elizabeth Holmes, a fundadora da Theranos e ex-estrela de Silicon Valley, argumenta que a sua startup de análises ao sangue não foi uma fraude — apenas falhou. Este foi o principal argumento dos advogados da norte-americana durante o primeiro dia do julgamento da Theranos que começou esta quarta-feira, no tribunal de San José, na Califórnia.

Em causa estão as falsas alegações da empresa que, durante anos, prometeu análises quase instantâneas ao sangue, mas falsificava os resultados dos pacientes para as conseguir. Antes de as mentiras serem descobertas, a empresa chegou a valer 9 mil milhões de dólares. 

Agora, Holmes, 37 anos, enfrenta 12 acusações de fraude e é acusada pelo Governo dos EUA de enganar investidores e pacientes.

“A Theranos falhou”, argumentou Lance Wade, advogado da antiga líder da Theranos na abertura do julgamento. “Mas o fracasso não é um crime.”

O procurador federal, Robert Leach, que representa o Governo dos EUA, refuta a defesa. “Este é um caso de fraude, de mentir e fazer batota para obter dinheiro”, disse Leach. 

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Elizabeth Holmes, no tribunal de San José REUTERS/Peter DaSilva

Elizabeth Holmes fundou a Theranos em 2003, depois de deixar a licenciatura na Universidade de Stanford a meio, com apenas 19 anos e alguns semestres de Engenharia Química debaixo dos braços. 

Apesar da fraca experiência de Holmes em medicina e tecnologia, em 2014, os aparelhos da empresa — que deveriam ser capazes de detectar dezenas de quadros médicos, desde colesterol elevado a cancro — estavam a funcionar em várias farmácias da cadeia norte-americana Walgreens, e Elizabeth era a mais recente celebridade de Silicon Valley. Era frequente vê-la com camisas pretas de gola alta, numa alusão ao ídolo, Steve Jobs.

O carisma de Holmes impedia os investidores de investigar a tecnologia. Por exemplo, apesar do profissional contratado pela Walgreens para verificar a tecnologia da Theranos encontrar problemas, o acordo não cessou porque a Theranos ameaçou assinar contrato com a cadeia de farmácias rival CVS. Com base na confiança de Holmes sobre a Theranos, a Walgreens ignorou os alertas com medo de ficar a perder.

As mentiras só começaram a ser expostas em 2015 com as reportagens do jornalista John Carreyrou, do Wall Street Journal.

Em 2018, Holmes foi formalmente acusada de defraudar investidores em 700 milhões de dólares entre 2013 e 2015, mas Elizabeth Holmes mantém que é inocente. Se for condenada, pode enfrentar até 20 anos de prisão. A lista de testemunhas dos procuradores dos EUA inclui o antigo advogado da Theranos, David Boies, e o magnata dos media Robert Murdoch que investiu na Theranos. 

O julgamento deve durar vários meses. 

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